Lepra

A doença de Hansen, ou lepra, é uma doença infeciosa crónica que ataca o sistema nervoso e a pele. Conhecida desde a Antiguidade, a lepra foi bastante comum um pouco por todo o mundo, subsistindo ainda hoje em África e na Ásia. A doença de Hansen é provocada pela bactéria mycobacterium leprae ou mycobacterium lepromatosis, descoberta em 1873 por Gerhard Armauer Hansen (1841-1912). As formas de doença mais frequentes são a lepra tuberculoide, que apresenta uma evolução mais benigna, e a lepramatosa, que se revela mais grave. A lepra pode ser transmitida por via cutânea – através de lesões abertas na pele – e respiratória, mediante a inalação de secreções contaminadas.

Até estar disponível um melhor conhecimento  sobre a lepra, as populações acreditavam que era um castigo divino. O medo do contágio levava a que fosse pedido aos monarcas o afastamento dos doentes para espaços próprios, as gafarias, localizadas fora de muralhas e geralmente, invocando a protecção de S. Lázaro,  tal como aconteceu em Santarém em 1302.

DGLAB/ANTT – “Carta da fundação do Hospital de S. Lázaro, em Santarém, por D. Dinis” (1302).

Cota: PT/TT/CHR/C/001/0003

Lázaro foi a vítima da lepra que melhor perdurou na memória coletiva, sendo consagrado como santo protetor desta doença. Desde a Idade Média, as populações construíram ermidas dedicadas a S. Lázaro para protegerem as localidades, sendo que, por vezes, se associavam a gafarias.

DGPC/SIPA – “Gafaria e Ermida de São Lázaro Portugal, Ilha Terceira (Açores)”, (1565).

Cota do registo: IPA.00033605

Cota da fotografia: SIPAFOTO.01091916

A melhoria no conhecimento da lepra permitiu clarificar o seu real perigo de contágio. Mas o preconceito mantinha-se, o que levava os governantes a visitarem as leprosarias, a fim de o contrariarem.

DGLAB/ANTT – “O governador civil de Lisboa, Tenente-coronel Lobo da Costa, na sua visita à gafaria dos leprosos” (1937), Empresa Pública Jornal “O Século”.

Cota: PT/TT/EPJS/SF/001-001/0045/1656L

O período de incubação da doença pode durar vários anos. As lesões provocadas não resultam da ação direta da bactéria, mas da resposta defensiva do organismo. Nesta imagem recolhida em Moçambique, os rostos dos leprosos revelavam as marcas  devastadoras da doença.

DGLAB/ANTT – “Visita à Leprosaria” (1931).

Cota: PT/TT/CMZ-AF-GT/E/19/1/47

O Hospital-Colónia Rovisco Pais (Tocha), inaugurado em 1947, foi a última leprosaria construída em Portugal. Destinava-se ao tratamento e estudo da doença, seguindo um modelo de internamento compulsivo. Na década de 1970, devido aos avanços na cura da lepra, foi encerrado, convertendo-se mais tarde num centro de medicina e reabilitação.

CINEMATECA – “O Hospital-Colónia de Rovisco Pais” (1948), diretores de fotografia: Artur Costa de Macedo e Manuel Luís Vieira.

Cota: 7001684

  • NÓVOA, Rita Sampaio da – As atitudes face à doença no Portugal dos séculos XIV e XV: a lepra, os leprosos e as leprosarias. In MIRANDA, Flávio; SEQUEIRA, Joana (Coords), Incipit 1  Workshop de Estudos Medievais da Universidade do Porto, 2009–10  [Em linha]. Porto: Universidade do Porto – Faculdade de Letras – Biblioteca Digital, 2012, p. 77-88. – Disponível online.
  • NÓVOA, Rita Sampaio da – A casa de São Lázaro de Lisboa : contributos para uma história das atitudes face à doença (Séc. XIV e XV). Lisboa: NOVA FCSH, 2010. Dissertação de mestrado. – Disponível online.
  • ROCHA, Ana Rita – Inclusão ou Exclusão? Paisagem urbana e implantação hospitalar na Coimbra medieval. In ANDRADE, Amélia Aguiar [et. al.] (Eds.), Inclusão e exclusão na Europa Urbana Medieval. Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, Câmara Municipal de Castelo de Vide, 2019, p. 221–244. – Disponível online.
  • CARVALHO, Augusto de – História da lepra em Portugal : epidemiologia portuguesa. Porto: [s.n.], 1932. – Cota: BM 2973 (BMSC – Doação António G. Matoso)
  • CONDE, Manuel Sílvio Alves – Subsídios para o estudo dos leprosos no Portugal medievo. A gafaria de Santarém nos séculos XIII-XV. In Horizontes do Portugal medieval. Cascais: Patrimonia, 1999, p. 321-384. – Cota: HST 6081 (BMSC)
  • MIGUÉNS, Maria Isabel N. – O Tombo do Hospital e Gafaria do Santo Espírito de Sintra. Cascais: Patrimonia, 1997. – Cota: HST 7263 (BMSC)
  • PROVIDÊNCIA, Paulo – Leprosaria nacional: modernidade e ruína no Hospital-Colónia Rovisco Pais. Porto: Dafne, 2013. – Cota: AD 4548 (BMSC)
  • ROMÃO, Ramiro Manuel Batista Teixeira – A reorganização manuelina da assistência em Barcelos: os casos da gafaria e do hospital do concelho. In D. Manuel e a sua época. III Congresso Histórico de Guimarães. Vol. 2. Guimarães: Câmara Municipal de Guimarães, 2004, p. 589-600. – Cota: 930.85(469)”14/15″ (CON) – MAN/2 (BVMG – CHAM, Centro de Humanidades)
  • SÁRRAGA, Marcelino V. Amasuno – En torno a las relaciones Villena-Chirino : hacia la datación del Tratado de la lepra. In Literatura medieval: actas do IV congresso da Associação hispânica de literatura medieval (Lisboa, 1-5 Outubro 1991). Lisboa: Cosmos, 1993. Vol. III, p. 325–336. – Cota: LCON1/3 (BVMG – CHAM, Centro de Humanidades)

 

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