Renovação do mural de Salgueiro Maia revelada à comunidade

Terminaram esta segunda-feira, dia 6 de novembro, os trabalhos no mural de Salgueiro Maia dando origem a uma nova interpretação da obra.

Tal como em 2014, o mural voltou a ser concebido por artistas da plataforma cultural Underdogs, sendo desenvolvido desta vez por Tamara Alves, Sara Fonseca da Graça (também conhecida como Petra Preta), Moami e Mariana Malhão. 

A inauguração da obra decorre no dia 8 de novembro a partir das 10h e enquadra-se nas celebrações dos 50 anos do 25 de abril e do 45.º aniversário da NOVA FCSH. Após o momento de apresentação oficial da pintura, realizar-se-á uma conversa no Auditório B1 dedicada ao tema “Arte Pública, Património e Liberdade” com as artistas responsáveis pela criação do mural com a moderação de Ricardo Campos, investigador do CICS.NOVA.

A reinterpretação do mural de Salgueiro Maia é um projeto da NOVA FCSH e da Underdogs com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa, Galeria de Arte Urbana, Junta de Freguesia das Avenidas Novas, Câmara Municipal de Castelo de Vide e Câmara Municipal de Santarém. 

O texto curatorial da obra, desenvolvido pela Underdogs, pode ser lido abaixo:

Para celebrar os 50 anos do 25 de Abril, quatro artistas mulheres portuguesas foram convidadas a combinar as suas diversas linguagens visuais para desenvolver um só mural. A oito mãos, elas criaram juntas uma obra sobre o passado, o presente e o futuro do país.

A artista Tamara Alves é responsável pela pintura realista do Capitão Salgueiro Maia a partir da célebre fotografia a preto e branco capturada por Alfredo Cunha, o maior fotógrafo do 25 de Abril. O olhar tranquilo e compenetrado que naquele momento encarava a câmara fotográfica, está agora voltado para nós.

A figura masculina de Salgueiro Maia será para sempre a cara da Revolução. Mas foram várias as protagonistas femininas que lutaram e resistiram durante esse período. De maneira a enaltecer a figura sistematicamente silenciada da mulher na história, a artista Sara Fonseca da Graça representa personagens preponderantes dos movimentos de libertação das ex-colónias de Portugal.

“Existe uma tendência para o foco na figura masculina, que dominava o cenário bélico, político e económico da sociedade portuguesa, enquanto a figura da mulher ainda permanece no anonimato. A mulher teve uma participação ativa na luta pela liberdade, dentro do seu papel de género, mas também transgredindo as normas da sociedade para o que era esperado do seu papel social. Desde trabalhar nos campos para manter a comida no prato, a cuidar de órfãos da guerra, até a participar desta, de arma na mão”, conta a artista.

O plano de fundo – porém não menos importante – do mural, é banhado pelas cores vibrantes de Moami, que nos traz texturas inspiradas tanto na Filigrana portuguesa como nos padrões visuais de culturas africanas. Como se sabe, a Revolução dos Cravos colocou fim às guerras coloniais de Portugal, e Moami celebra a harmonia entre esses povos ao mesclar e fundir as suas referências visuais.

Margarida Malhão é a responsável pela criação das silhuetas brancas que aparecem recortadas no fundo alaranjado. Estas figuras anónimas representam a força do povo unido. De mãos dadas, diversas camadas da sociedade portuguesa lutaram e celebraram a transição da opressão sofrida por décadas para a liberdade. O cravo simboliza a ideia de rompimento, e os braços erguidos personificam a identidade coletiva como força transformadora.