
Dramaturgias das artes performativas: o sensível e o material
Este curso vai ser lecionado na modalidade de ensino presencial
Objetivos
____
- Analisar as metamorfoses dos modelos cénicos;
- Interagir com as várias aceções do conceito e práticas das dramaturgias de palco;
- Questionar o espetáculo: “se não é diegético, é o quê?”;
- Relacionar os elementos expressivos presentes em palco com tipos e sentidos dramatúrgicos;
- Elencar e problematizar as materialidades do espetáculo (corpo e fisicalidade; ótico e arquiteturas; som e auralidade; linguagem e discursividade; media e interartes);
- Reforçar as ferramentas de crítica do evento espetacular e performativo;
- Comparar práticas estéticas de várias performances e companhias.
Programa
____
Perante a indefinição do espetáculo contemporâneo (teatro, dança, performance art, instalação, conferência-performance), o espanto não nos permite “compreendê-lo”. A discussão do sentido (estável e enunciável) traduz-se na interpelação e no questionamento emocionais, estéticos e formais. Assim, a construção e leitura da cena contemporânea dão-se através do princípio fenomenológico e do princípio morfológico: o primeiro referindo-se aos materiais expressivos utilizados e à sua experiencialidade, e o segundo refletindo sobre a heterogeneidade de montagem e de indícios (não hierárquicos, em acumulação) que se transformam na cena. A interpretação devém, necessariamente, aberta em função da constelação de relações. Desta condição, o programa percorre as distinções e aproximações entre drama, narrativa, teatralidade e performatividade, em torno de seis eixos. A metodologia apoia-se na discussão teórica com base em espetáculos, crítica e visionamentos (por exemplo, Mónica Calle, Marlene Monteiro Freitas, CiRcoLando, Nuno M. Cardoso, Christiane Jatahy, Mala Voadora).
1. Discussão dos principais conceitos: fuga dos modelos
- As dramaturgias de palco, o texto dramático, o estilhaçar dos modelos narrativos, diluição de personagem e trama;
- Montagem e recepção, a função da dramaturgista;
- Não linearidade, transmedialidade, tableaux vivants cénicos;
- Em direção a uma dramaturgia não narrativa;
- A dramaturgia como busca, espelhamento e ignorância.
2. Dramaturgia do corpo: o ímpeto pulsional
- A vibração das pulsões, os afetos e o infra-movimento energético;
- O cinético, a atenção, o corpo não normativo, o pós-humano;
- Os quatro nós da dramaturgia do corpo: vitalidade, sensorialidade, extraordinário, objectualidade.
3. Dramaturgia visual: simultaneidade e dispersão do olhar
- A arquitetura de cena, materialidades e texturas;
- O espaço global, irrupção, black box e white cube;
- Os quatro nós da dramaturgia visual: simultaneidade, materialidade, espaço, imago.
4. Dramaturgia do som: imersão e ambiência
- A atenção aural e a espessura acústica;
- O som “natural”, a cacofonia, o som intencional;
- Os quatro nós da dramaturgia do som: aural, transmissão, ruído, ritmo.
5. Dramaturgia da linguagem: ação pelo discurso
- A articulação da fala e o destronar do logocentrismo;
- A metalinguagem e o agir na linguagem: carácter ilocutório, performativo e político;
- Os quatro nós da dramaturgia da linguagem: enunciativo, discursivo, ilocutório, ensaístico.
6. Dramaturgia intermedial: o teatro como um grande hipermédia
- As relações entre artes performativas e os media studies;
- O medium como dispositivo cultural e técnico;
- O medium e a ecologia medial; a imediaticidade e a remediação;
- Os quatro nós da dramaturgia intermedial: virtual, digital, distância, ausência
Bibliografia
____
- Lehmann, Hans-Ties (2017). Teatro Pós-dramático. Lisboa: Orfeu Negro.
- Fischer-Lichte, Erika (2019). Estética do Performativo. Lisboa: Orfeu Negro.
- Bleeker, Maaike (2003). “Dramaturgy as a mode of looking” in Women & Performance: A Journal of Feminist Theory, 13:2, 163- 172, DOI: 10.1080/07407700308571432.
- Home-Cook, George (2015). Theatre and Aural Attention: stretching ourselves. London: Palgrave McMillan.
- Chappel, Frieda & Kattenbelt, Chiel (2006). Intermediality in Theatre and Performance. Amsterdam & New York: Editions Rodopi.
PROPINA
____
Ver tabela em informações úteis.
docentes
____
António Figueiredo Marques é investigador do ICNOVA (Performance & Cognição), co-editor e contribuidor do site sobre artes performativas CRATERA, e doutorado em Comunicação e Artes (Ciências da Comunicação, NOVA FCSH) com um projeto sobre dramaturgias não narrativas. Desenvolve investigação em torno das dramaturgias de palco, examinando os mecanismos, materialidades e sensorialidades da montagem na cena contemporânea. Além de folhas de sala de espectáculos, publicou, entre outros artigos, sobre Mónica Calle “Mapas e Desejos” (Revista Urdimento) e sobre Patrícia Portela “Parasomnia: Sleep against capitalism” (Arts). Desde 2019, membro da associação europeia EASTAP. Como performer frequentou formações com Mónica Calle, Miguel Moreira, Tiago Vieira, Renato Ferracini. (Lume Teatro, BR) e Yael Karavan (UK).
CiênciaVitae: https://cienciavitae.pt/portal/0D13-D82E-5097.
Paulo Filipe Monteiro é Professor catedrático de Artes Cénicas e de Cinema na NOVA FCSH, onde fundou e coordena o Mestrado em Artes Cénicas. O seu livro “Drama e Comunicação” foi eleito melhor livro de 2010 pela Imprensa da Universidade de Coimbra (no Brasil, 2012, pela Annablume). Em 2012 publicou “Imagens da Imagem”. Entre os seus escritos recentes: “Uma arte em bruto: o cinema de João César Monteiro”, in Lucia Nagib e Anne Jerslev (orgs.), “Cinema Impuro: Abordagens Intermédias e Interculturais ao Cinema”, I.B. Tauris, 2014, e “El ritmo en el nuevo teatro y en el teatro-danza”, in Salomé Lopes Coelho e Aníbal Zorrilla (orgs.). Realizou conferências e workshops em Portugal, Espanha, França, Itália, Bélgica, Rússia, Alemanha, Irlanda, Brasil, Argentina e EUA. Escreveu e realizou três filmes de ficção: “Amor Cego/Três ao Tango”, 2010, 25′; e “Zeus”, 2017, 117′, que ganhou 12 prémios, incluindo melhor filme e melhor realizador; e “Noites Claras”, 2024.