Espaços de tratamento

No apoio e tratamento de doentes foram fundamentais os espaços de tratamento. Alguns foram adaptados a partir de palácios, antigos mosteiros, conventos e colégios. Outros foram construídos de raiz, beneficiando do desenvolvimento da arquitetura de saúde. O progresso científico e tecnológico foi decisivo para a adaptação de hospitais, sanatórios e dispensários para tratamento de várias doenças infetocontagiosas. Em consonância com a filosofia higienista, algumas instituições localizavam-se em locais estratégicos, tais como as áreas costeiras e montanhosas, a fim de promover o bem-estar e a recuperação dos doentes. Outras foram edificadas em contexto urbano, com características próprias para tratamento de doenças específicas.

O primeiro grande espaço de tratamento do período moderno foi o Hospital Real de Todos-os-Santos, edificado no âmbito da reforma hospitalar empreendida pela Coroa no século XV. O edifício centralizou os cuidados assistenciais de 43 instituições de Lisboa, replicando os modelos dos hospitais de Milão e Florença.

CML/AML – “Hospital Real de Todos-os-Santos” (1973), fotografia do Estúdio Mário Novais.

Cota: PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/MNV/001769

Na sequência da destruição do Hospital Real de Todos-os-Santos, após o Terramoto de 1755, o Marquês de Pombal (1699-1782) determinou a criação do Hospital Real de São José (1769). Instalado no antigo Colégio de Santo Antão, serviu como hospital central até à fundação do hospital de Santa Maria, em Lisboa.

DGPC/SIPA – “Colégio de Santo Antão-o-Novo / Hospital de São José” [Vista geral nascente] (2002).

Cota de registo: IPA.00004048

Cota de fotografia: SIPA.FOTO.00138710

Em 1906, o Hospital do Rêgo, atual Curry Cabral, foi um dos primeiros a ser criado especificamente para o combate às doenças infetocontagiosas. Construído de acordo com um modelo de pavilhões autónomos, o Hospital seguia as práticas arquitetónicas adotadas em países como França e Inglaterra. A morfologia dos pavilhões assegurava uma melhor ventilação e iluminação, de modo a evitar o contágio entre doentes.

DGPC/SIPA – “Hospital Curry Cabral” [planta geral, s.d.].

Cota de registo: IPA.00011879

Cota de fotografia: SIPA. FOTO. DES.00141285

No âmbito da política de obras públicas e melhoramentos materiais do Estado Novo, foram construídos dois novos hospitais escolares: o de Santa Maria, em Lisboa, e de São João, no Porto. Foram ambos projetados pelo arquiteto alemão Hermann Distel (1875-1945).

CINEMATECA – “Imagens de Portugal 5” [Inauguração do Hospital de Santa Maria] (1953) [01m:58s],  Sociedade Portuguesa de Actualidades Cinematográficas – Companhia.

Cota: 7000503

Seguindo as propostas da escola arquitetónica de Chicago, os hospitais de Santa Maria (Lisboa) e de São João (Porto) apresentam uma estrutura em monobloco. Este modelo torna mais eficaz a articulação entre os diferentes serviços assegurando, por exemplo, o transporte de doentes em áreas sempre cobertas.

CINEMATECA – “Os Novos Hospitais Civis” [Hospital Escolar do Porto e de Lisboa] [05m15s; 23m03s] (1967), realização de Henrique Campos.

Cota: 7001580

A par dos hospitais, os sanatórios constituíram outro espaço de cura, indispensável para o tratamento da tuberculose. O Sanatório Sousa Martins, localizado na Guarda, foi o primeiro complexo edificado de raiz pela Assistência Nacional aos Tuberculosos. Inaugurado em 1907, foi projetado pelo arquiteto Raul Lino (1879-1974).

FCG/BA – “Sanatório da Guarda – Projectos de arquitectura” [s.d.], projeto de Raul Lino.

Cota: RL.4; imagem 1 de 9

O Sanatório e Clínica Heliântia, situado junto ao mar em Valadares (Vila Nova de Gaia), foi projetado pelo arquiteto Francisco de Oliveira Ferreira (1884-1957). Construído entre 1916 e 1930, com financiamento privado, destacou-se pelo tratamento helioterapeutico, aplicado sobretudo à tuberculose óssea.

DGPC/SIPA – “Sanatório e Clínica Heliântia / Clínica do Dr. Ferreira Alves / Edifício Heliântia”.

Cota do registo: IPA.00005349

Cota da fotografia: SIPA.FOTO.00534817

Integrando a tipologia de sanatórios de montanha, o complexo do Caramulo (1922) chegou a disponibilizar 1100 camas. Criado por iniciativa do médico Jerónimo de Lacerda (1889-1945), esteve ligado à atividade da Sociedade do Caramulo. A mitigação da tuberculose na década de 1970 ditou a sua transformação em unidade hoteleira.

CINEMATECA – “Estância sanatorial do Caramulo” (1957).

Cota: 7002356

Mandado construir em 1909, sendo inaugurado em 1910, o Sanatório D. Carlos I foi uma das instituições que se dedicou ao tratamento da tuberculose em Portugal. Com a I República adotou a denominação de Sanatório Popular de Lisboa.

CML/AML – “[Sanatório Dom Carlos I]” (1912), fotografia de Joshua Benoliel.

Cota: PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JBN/000952

O desenvolvimento da vacina do bacilo Calmette–Guérin (BCG) na década de 1910, associada a novas terapêuticas, como o antibiótico, modificaram as atribuições dos sanatórios. A maioria foi reconvertida em espaços hospitalares. No caso do Sanatório D. Carlos I, este foi transformado em hospital público, sendo renomeado Hospital Pulido Valente (1975).

CML/AML – “Sanatório Dom Carlos I, entrada, atual hospital Pulido Valente” (1964), fotografia de Artur Goulart.

Cota: PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/AJG/S02158

Em contextos excecionais foi necessário criar e adaptar edifícios, religiosos e civis, em hospitais de campanha. Assim aconteceu em Lisboa, com o Convento das Trinas do Mocambo e o Liceu Camões, durante a pneumónica.

CML/AML – “Liceu Camões, depois escola secundária de Camões, fachada” [c.1909], fotografia de Joshua Benoliel.

Cota: PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JBN/000653

  • ASSIS, Sandra; CASIMIRO, Sílvia; CARDOSO, Francisca Alves – A possible case of acquired syphilis at the former Royal Hospital of All-Saints (RHAS) in Lisbon, Portugal (18th century): a comparative methodological approach to differential diagnosis. Anthropologischer Anzeiger [Em linha]. Stuttgart. Vol. 72, N.o 4 (2015), p. 427–449. – Disponível online.
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  • PACHECO, António Fernando Bento – De Todos-Os-Santos a São José: textos e contextos do «esprital grande de Lixboa». Lisboa: NOVA FCSH, 2008.  Dissertação de mestrado. – Disponível online.
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  • PITA, André Filipe Samora – A cólera em Lisboa (1833 e 1855/56): emergência do poder médico e combate à epidemia no Hospital de São José e enfermarias auxiliares. Lisboa: NOVA FCSH, 2018. Dissertação de mestrado. – Disponível online.
  • RUIVO, Alexandra Cristina da Silva – Vulnerabilidades familiares em contexto de internamento do doente idoso: caso particular Medicina Hospitar Lisboa Norte, Hospital Púlido Valente. Lisboa: NOVA FCSH, 2010. Dissertação de mestrado. – Disponível online.
  • SILVA, Helena da – Um hospital português em França na Grande Guerra. Revista da Faculdade de Letras do Porto: História. Porto. Vol. 8, N.o 2 (2018), p. 127–150.  –Disponível online.
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  • SILVA, Rodrigo Banha da; SILVA, Rita Neves – O contexto do poço do claustro do Hospital Real de Todos-os-Santos: os contentores para líquidos. In Arqueologia em Portugal: 2017 — Estado da questão [Em linha]. (2017), p. 1777–1789. – Disponível online.
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  • CONDE, Sílvio – O hospital medieval do Espírito Santo de Sesimbra: e a assistência caritativa portuguesa. Sesimbra: Câmara Municipal de Sesimbra, 2004. – Cota: BLK 1724 (BMSC – Doação Luís Krus)
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  • FAURE, Olivier – Genèse de l’hospital moderne: les hospices civils de Lyon de 1802 à 1845. Lyon: Presses Universitaires de Lyon, 1982. – Cota: AS 30 (BMSC)
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  • FERREIRA, Carlos Miguel – A medicalização dos sanatórios populares: desafios e formas de um processo social. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, 2007. Tese de doutoramento. – Cota: T 3537 (BMSC)
  • LEAL, Joana Cunha – A sanitarização do imaginário urbano e a redefinição do quadro legal da intervenção urbanística em Lisboa. In ACCIAIUOLI, Margarida; LEAL, Joana Cunha; MAIA, Maria Helena (Eds.), Arte & Poder. Lisboa: Instituto de História de Arte – Estudos de Arte Contemporânea, 2008, p. 119–135. – Cota: AD 2074/A (BMSC)
  • LIGA DOS AMIGOS DO HOSPITAL GERAL DE SANTO ANTÓNIO – Que sistema de saúde para o futuro? organização dos Hospitais na sua relação com a sociedade. Porto: Público, 1996. – Cota: BSC 21706 (BMSC – Doação Sottomayor Cardia)
  • MATA, Luís António Santos Nunes – Ser, ter e poder: o hospital do Espírito Santo de Santarém nos finais da Idade Média. Leiria, Santarém: Magno Edições, Câmara Municipal de Santarém, 2000. – Cota: BLK 1787 (BMSC – Doação Luís Krus)
  • MIGUÉNS, Maria Isabel N. – O Tombo do Hospital e Gafaria do Santo Espírito de Sintra. Cascais: Patrimonia, 1997. –  Cotas: HST 7263 (BMSC) ; BLK 1263 (BMSC – Doação Luís Krus); IEM 416 (BVMG – IEM, Instituto de Estudos Medievais, NOVA FCSH); BMG 2874 (BVMG – Doação Vitorino Magalhães Godinho)
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  • MUSEU RAFAEL BORDALO PINHEIRO, GALERIA DE EXPOSIÇÕES TEMPORÁRIAS; DIRECTOR PAULO PEREIRA – Hospital Real de Todos-os-Santos, séculos XV a XVIII: catálogo. Lisboa: Museu Rafael Bordalo Pinheiro, 1993. – Cotas: BLK 3255 (BMSC – Doação Luís Krus)
  • PINTO, J. Estêvão – S. João de Deus fundador da ordem dos Hospitaleiros e padroeiro dos hospitais. Lisboa: SNI, 1940. – Cota: BM 3651 (BMSC – Doação António G. Matoso)
  • PROVIDÊNCIA, Paulo et al. – Leprosaria nacional: modernidade e ruína no Hospital-Colónia Rovisco Pais. Porto: Dafne, 2013. Cota: AD 4548 (BMSC)
  • SALGADO, Anastácia Mestrinho – O Hospital de Todos-os-Santos e os bens confiscados aos mouros, judeus e cristãos-novos. Cultura. História e Filosofia. Vol. V (1986), p. 653–669. Cota: ESSAL1a; ESSAL1b; PCUL (BVMG – CHAM, Centro de Humanidades)
  • SILVA, Paulo Cunha e – Portugal no hospital : identidades, instabilidades e outras crises. Vila Nova de Famalicao: Quasi, 2007. Cota: CMSIL 8 (BVMG – CHAM, Centro de Humanidades)
  • SILVA, Rodrigo Banha da Silva; LEITE, Ana Cristina – O Hospital Real de Todos os Santos. In TEIXEIRA, André; PAREDES VILLADA, Fernando; SILVA, Rodrigo Banha da (Coords.), Lisboa 1415 Ceuta : historia de dos ciudades : história de duas cidades. Lisboa: Ciudad Autonoma de Ceuta, Câmara Municipal de Lisboa, 2005, p. 49–53. Cota: 017:904 (TEI) (BVMG – CHAM, Centro de Humanidades)
  • SOUSA, Fernando de – Hospital de Santa Maria: uma instituição centenária (1888-1988). Porto: Litografia Nacional do Porto, 1988. Cota: BMG 3688 (BVMG – Doação Vitorino Magalhães Godinho)

 

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