
CALL FOR PAPERS – Mobilidades diferenciais nas cidades contemporâneas
APRESENTAÇÃO
A literatura sobre mobilidade urbana tem avançado no reconhecimento da diversidade de práticas de deslocamento que emergem nas cidades contemporâneas. A partir de uma crítica à visão que normaliza e generaliza o movimento pendular centrado nas viagens casa-trabalho, novas pesquisas têm destacado mobilidades diferenciais que revelam a complexidade de práticas quotidianas existentes. Tais investigações sublinham a importância de construir uma perspectiva mais relacional, que reconheça a multiplicidade de agentes, modos, espacialidades e infraestruturas que estruturam a vida quotidiana urbana, valorizando a mobilidade como um elemento essencial para a garantia do direito à cidade (Kaufmann, 2002; Levy, 2001; Manderscheid, 2016). Sob essa ótica, grupos anteriormente considerados marginais ao planeamento urbano passam a ser vistos como agentes cruciais para compreender as demandas por infraestrutura, espaços públicos e modos de transporte. De entre esses grupos, destacam-se as pessoas idosas, mulheres, crianças, indivíduos de diversas origens étnicas e aqueles que atuam no trabalho informal, cuja mobilidade evidencia desafios e necessidades específicas (Archer, 2020; Ardila et al., 2020; De Madariaga & Zucchini, 2019; Oviedo et al., 2021; Viana Cerqueira & Motte-Baumvol, 2022) (Motte et al, 2016).
A perspectiva das mobilidades diferenciais abarca, por um lado, as práticas de mobilidade, evidenciando fenómenos como a diversidade de motivos, que vão além do trabalho; os trajetos encadeados, em múltiplas etapas; a criação de novas centralidades ou de áreas atrativas de viagens segundo as demandas diversas, os diferentes significados da viagem segundo as identidades dos indivíduos (Cerqueira, 2018, Ardila-Pinto et al., 2024). Por outro lado, discute-se os fatores que influenciam as práticas de mobilidade, seja a partir dos problemas das barreiras e as desigualdades sociais e espaciais que são enfrentadas por cada grupo. São notáveis os estudos no debate académico acerca dos efeitos das desigualdades e da segregação socioespacial, da deficiência de infraestrutura e da violência.
Embora o estudo das barreiras e da desigualdade seja central para entender as dinâmicas de mobilidade e estruturação da vida urbana, consideramos relevante avançar também na compreensão das estratégias que estes grupos constroem para enfrentar os desafios da vida urbana. Diversas populações experimentam graus variados de liberdade ou restrição ao deslocamento, dependendo de sua posição social, económica e espacial (Aguiar & Macário, 2017; Hernandez, 2018; Jirón, 2010; Lucas, 2012; Porter et al., 2018; Sagaris, 2014; Vecchio et al., 2020). Dependendo das características dos indivíduos, mas especialmente dos grupos sociais nos quais estão inseridos, é possível observar estratégias criativas de mobilidade para enfrentar as barreiras impostas pela organização do espaço urbano, pela desigualdade ou pelas políticas de transporte. Essas estratégias podem incluir escolha de rotas alternativas, a cooperação com outros grupos, o ajuste de horários de deslocamento para evitar períodos de maior risco ou congestionamento, a adoção de modos informais de transporte, como boleias ou transportes alternativos, a articulação de redes de espaços urbanos, ou a mobilização social para garantir o direito à mobilidade. Essas práticas estão alinhadas ao conceito de motilidade, que se refere à capacidade de um indivíduo ou grupo de ser móvel, levando em consideração não apenas os aspectos físicos, mas também os fatores económicos e sociais que facilitam ou restringem essa mobilidade (Kaufmann, 2002; Kaufmann et al., 2004). Visamos discutir o papel da disponibilidade de recursos, como acesso financeiro, rede de apoio social e conhecimento das rotas disponíveis, que permitem às pessoas moldarem as suas práticas de deslocamento.
A compreensão das mobilidades diferenciais envolve, também, a investigação de deslocamentos englobando as dinâmicas ligadas ao lazer, ao cuidado e às redes de apoio social, que são pouco capturadas pelas análises convencionais. Além disso, a mobilidade urbana no século XXI está cada vez mais moldada pelas dinâmicas da digitalização e da economia de plataformas. Nesse contexto, procuramos também artigos que explorem o papel dessas plataformas nas mobilidades diferenciais, como os desafios enfrentados por mulheres motoristas de aplicativos ou os riscos e oportunidades para passageiras dessas plataformas. Por fim, visamos discutir as estratégias de mobilização social, de luta pelo direito à mobilidade a partir de agendas como o passe livre, os vagões especiais, a realocação de rotas, a construção de infraestruturas e espaços para garantir a acessibilidade universal, a construção de ciclovias e calçadas, a diminuição de sinistros, a mobilidade escolar, entre outros. Consideramos que a mobilidade não se trata apenas de uma temática meramente técnica, mas sim de um tema sujeito a controvérsias que faz parte da esfera pública das cidades.
Os artigos podem incluir abordagens qualitativas e quantitativas, estudos de caso ou análises comparativas. Preferencialmente deve tratar-se de pesquisas empíricas que contribuam a entender estas práticas. Temas sugeridos incluem, mas não se limitam a:
- Análise das estratégias de mobilidade empregadas por mulheres, pessoas idosas, populações de baixa renda e outros grupos com mobilidades diferenciais;
- Interseções entre mobilidade e capital social: Como o acesso desigual à mobilidade reflete e perpetua desigualdades sociais;
- Impactos das plataformas digitais (como Uber, 99, etc.) nas mobilidades de grupos vulneráveis;
- Mobilidades diferenciais no contexto urbano: Experiências e práticas de deslocamento para além dos motivos obrigatórios (lazer, cuidados familiares, entre outros);
- A relação entre mobilidade e exclusão/inclusão urbana: Como os indivíduos desenvolvem estratégias para acessar espaços urbanos e serviços?;
- Políticas públicas de mobilidade os seus impactos (ou falta de impacto) sobre grupos marginalizados;
- Estratégias de mobilização política para garantir o direito à mobilidade.
COORDENADORES
Ana Marcela Ardila Pinto
Departamento de Sociologia, Universidade de Minas Gerais (UMG), Brasil.
Email: marardila@ufmg.br | marardila@gmail.com
Lattes ID: http://lattes.cnpq.br/3830618245719454
Eugênia Cerqueira Viana
Departamento de Sociologia, Universidade de Minas Gerais (UMG), Brasil.
Email: eugeniadoria@ufmg.br | eugeniadoria@gmail.com
ORCID ID: https://orcid.org/0000-0003-0306-4766
Natalia Villamizar Duarte
Escola de Arquitetura, Planeamento e Paisagismo, Universidade de Newcastle, Reino Unido.
Email: natalia.villamizar-duarte@newcastle.ac.uk
ORCID ID: https://orcid.org/0000-0001-9754-6357
CALENDÁRIO DE PUBLICAÇÃO
Esse número especial será publicado online em acesso aberto total na página da revista Forum Sociológico em 2026.
SUBMISSÃO DE TRABALHOS [NOVO PRAZO]
Serão aceites propostas originais de artigos científicos escritas em português, inglês, espanhol e francês.
Todas as propostas de artigos, de revisão e empíricas, devem ser enviadas em sua versão completa por e-mail (formato .docx) para a Forum Sociológico (forum@fcsh.unl.pt) com o título do número especial no campo do assunto e até 15 de setembro de 2025.
Antes de submeterem uma proposta à revista no âmbito deste número especial, todos os autores deverão i) ter conhecimento das políticas, procedimentos editoriais e normas para a elaboração e submissão de textos, difundidos em especial nas páginas Normas para Apresentação de Originais e Declaração de Ética e Boas Práticas ; ii) ter participado substancialmente do trabalho ; iii) ter identificado todas as fontes de financiamento da investigação desenvolvida ; iv) obter todas as autorizações e licenças necessárias para a reprodução, publicação e divulgação em acesso aberto (direitos de utilização das imagens ou de outro material de terceiros, etc.), assumindo a responsabilidade da indicação dos respetivos créditos nos trabalhos e dos eventuais encargos associados à sua obtenção e isentando a revista e o CICS.NOVA – Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa de qualquer responsabilidade nesta matéria ; v) ter a responsabilidade final do conteúdo e das afirmações proferidas no texto.
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