04
Set
2023
Data: 4 a 8 Set 2023
Horário: dias úteis das 15h00 às 18h00
Duração: 15h
Morada: NOVA FCSH
Área: História, Património e Cultura
Docente responsável: Xurxo Ayán Vila
Docente: Xurxo Ayán Vila
Acreditação pelo CCPFC: Não
 Ensino presencial e a distância (streaming)
Este curso vai ser lecionado na modalidade de  Ensino presencial e a distância (streaming)

 

Objetivos

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  • Socializar os resultados do primeiro projeto de Arqueologia do Passado Contemporâneo realizado em Portugal (Arqueologia do Estado Novo), apoiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (CEECIND/04218/2017);
  • Partilhar uma investigação pioneira e original com o público sobre o legado material do Estado Novo, numa altura em que há um debate público sobre a memória e o património vinculado à ditadura;
  • Divulgar, além da Academia, as materialidades geradas pelo projeto ideológico totalitário do Estado Novo mais também aquelas criadas pela resistência ao fascismo;
  • Mostrar aos cidadãos como o espaço rural e urbano do país ainda é marcado pelos projetos de engenharia social e os usos públicos da memória promovidos pela ditadura.

 

Programa

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Segunda-feira, 4 de setembro

15:00-18:00 – Lição 1: “Arqueologia do Passado Recente. Uma introdução”. Através de projetos arqueológicos desenvolvidos no Chile, Espanha, Croácia, Guiné Equatorial e Etiópia, mostraremos o que a Arqueologia do passado recente é capaz de contribuir.

Terça-feira, 5 de setembro

15:00-18:00 – Lição 2: “Onde há poder há resistência: arqueologia da guerra do Cambedo (1949) e a guerrilha na Raia”. Em agosto de 2018, realizámos a escavação arqueológica de uma casa de camponeses onde os guerrilheiros antifascistas se refugiaram na vila de Cambedo da Raia, em Trás-os-Montes. A casa foi bombardeada pela GNR e pela Guarda Civil espanhola em dezembro de 1949.

Quarta-feira, 6 de setembro

Lição 3: “Vigiar e punir: prisões, campos de concentração e campos de refugiados”. Faremos um tour pelo sistema penitenciário do Estado Novo, analisando edifícios como a cadeia lisboeta do Aljube, Peniche, o campo de concentração do Tarrafal em Cabo Verde e os campos de refugiados de Barrancos.

Quinta-feira, 7 de setembro

15:00-16:30 – Lição 4: “A morada do homem novo: materialidades da colonização agrária do salazarismo A Junta de Colonização Interna (1936) foi a entidade responsável por materializar o ideal ruralista do Estado Novo, seguindo o modelo do fascismo italiano. Colónias agrícolas foram construídas em várias regiões do país nas décadas de 40 e 50. Grande parte delas falhou e hoje são ruínas arqueológicas.

16:30-18:00 – Lição 5: “Arqueologia da guerra civil española: rastos materiais de Portugal no conflito bélico”. Salazar apoiou Franco na guerra civil enviando soldados (os Viriatos), armas e comida. Também prendeu e devolveu a Espanha rebelde a refugiados políticos. Por sua vez, militantes antifascistas portugueses lutaram no exército da República. Nesta lição, passaremos por cenários da guerra civil seguindo a trilha destes combatentes portugueses.

Sexta-feira, 8 de setembro

15:00-18:00 – Lição 6: “O que fazer com o legado material do Estado Novo? A controvérsia do Museo Salazar” Em 27 de julho de 2019, um artigo do jornalista Hugo Franco no semanário Expresso coleta uma entrevista com o prefeito de Santa Comba Dão. O munícipe Leonel Gouveia, do Partido Socialista, defende a criação de um centro interpretativo sobre o Novo Estado em sua localidade. Em 13 de agosto, o jornal Público divulgou uma carta assinada por mais de duzentas vítimas do Estado Novo contra a abertura do centro de interpretação de Santa Comba Dão. Para esses expressos políticos, o museu, longe de procurar esclarecer a população e principalmente as jovens gerações sobre o que era o regime fascista, prefigura como instrumento a serviço de seu branqueamento e um centro de apoio ao regime. Três dias depois, em 19 de agosto, essa carta se tornou uma solicitação pública ao governo (Museu de Salazar, Não!). Em 26 de agosto, 17.719 assinaturas haviam sido coletadas. Esta controvérsia, que continua até hoje, servirá para debater no curso sobre os usos públicos da memória.

 

Bibliografia

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  • Ayán Vila, X. M. 2022. As intermitências da morte. Sobre la construcción material de la raya luso-española, en C. Umpierre, P. P. Funari & R. L. de Sousa (orgs.): História Ibérica: ensino, pesquisa e potencialidades: 317-48. São Carlos: Pedro & João Editores.
  • Ayán Vila, X. M. 2022. Casas con fantasmas. Sobre las recientes polémicas entorno al Museu Salazar y el Pazo de Meirás. En Actes de la IV Jornada d’Arqueologia i Patrimoni de la Guerra Civil al front de L’Ebre: 8-35. Barcelona: Generalitat de Catalunya. file:///C:/Users/Usuario/Downloads/Actes_de_la_IV_Jornada_d_Arqueologia_i_Patrimoni.pdf.
  • Ayán Vila, X. M. & Señorán Martín, J. M. 2020. Colónias para homens novos: arqueologia da colonização agrária fascista no noroeste ibérico. En Actas do III Congresso da Associação dos Arqueólogos Portugueses (Porto, 19-22 de noviembre de 2020): 2123-2134. https://www.museuarqueologicodocarmo.pt/publicacoes/outras_publicacoes/III_congresso_actas/artigos/Art9.31_III CAAP.pdf? fbclid=IwAR2iMF8hFe34Mi7qQJgpOVbhtQZrk2z4koBky8gY7C0Y223ovL3_i0MItns.
  • Coelho, Rui Gomes & Ayán Vila, X. M. 2019. Cambedo, 1946 Carta sobre o achamento de Portugal. Vestígios. Revista Latino- Americana de Arqueologia Histórica, 13(2): 63-87. https://periodicos.ufmg.br/index.php/vestigios/article/view/15815.
  • Loff, M. 2015. Estado, Democracia e Memória: Políticas Públicas e Batalhas pela Memória da Ditadura Portuguesa (1974-2014). In Loff, M., Piedade, F. & Soutelo, L. C. (Eds.): Ditaduras e Revolução. Democracia e Políticas da Memória (pp. 23-143). Coimbra: Almedina.

 

PROPINA

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Ver tabela em Informações úteis.

 

Docentes

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Xurxo Ayán Vila X (Lugo, Galiza, 1976) é Doutor em Arqueologia pela Universidade de Santiago de Compostela (2012). Especialista em Arqueologia Comunitária e Arqueologia do Conflito, foi investigador de pós-doutoramento na Universidade do País Basco (2014-2017) onde dirigiu projetos sobre a arqueologia da Guerra Civil Espanhola. Desde maio de 2019, é Investigador Principal da Fundação para a Ciência e a Tecnologia no Instituto de História Contemporânea da NOVA FCSH. Aqui ele comanda o projeto “Archaeology of the Contemporary Past and Heritage Socialization” (CEECIND/04218/2017). A sua investigação centra-se na análise arqueológica das ditaduras ibéricas em perspetiva comparada.

  • Centro Luís Krus – Formação ao Longo da Vida
  • Cursos da Escola de Verão (EV)