Doação Augusto Silva

A Biblioteca de Artur Augusto Silva (cujos livros estão identificados com a cota BAS), apesar de pequena, contém importantes coleções de fontes documentais para o estudo da Expansão Portuguesa.

Artur Augusto Silva nasceu em Nova Sintra, ilha Brava, Cabo Verde, a 14 de Outubro de 1912 e faleceu em Bissau, a 11 de Julho de 1983.

Ainda criança, foi com os pais para a Guiné, onde a família viveu algum tempo. Em 1920, veio para Lisboa, prosseguindo os estudos no liceu Passos Manuel, depois no liceu Camões, onde foi contemporâneo de Álvaro Cunhal e, mais tarde, na Faculdade de Direito.

Durante este período estudantil, frequentou tertúlias literárias, convivendo com grandes nomes das letras e da cultura de então. Foi director da revista “Momento”, promotora de exposições e eventos culturais, e lançou, com Thomaz de Mello, a revista de arte, “Cartaz”, colaborando ainda com a revista literária cabo-verdiana “Claridade”, surgida também nessa época e edita, na revista “O Mundo Português” de Abril de 1936, um pequeno conto, Abdulai, o caçador. Além do que publica nestas revistas, é também por esta altura que são editados os seus primeiros livros de poemas, Mais Além (1931), Sensuais (1935), Viagem quase romântica (1934), a primeira obra de ficção, Romance de Inês de Castro (1934) e biografias dos artistas António Soares (1937), Jorge Barradas (1938) e João Carlos (1944).

Concluído o curso de Direito, em 1938, partiu no ano seguinte para Angola, como Secretário do Governador-geral, onde permanece pouco tempo. O romance A grande aventura, que publica em 1941, reflecte a sua experiência de vida, neste período, e é também um preito de homenagem ao esforço dos colonos de África.

Em 1940 fixou-se em Alcobaça, onde permaneceu até 1948, exercendo advocacia. Informado que seria preso por actividades políticas, foi para a Guiné, onde trabalhou como advogado, notário e substituto do Procurador da República. Contribuiu para o Centro de Estudos da Guiné, começando a interessar-se por aspectos da etnografia local, em particular sobre o direito e o exercício da justiça entre as populações autóctones. Publicou vários trabalhos neste âmbito, como Direito Penal entre os Fulas da Guiné (1954), Direito de Família e Propriedade entre os Fulas da Guiné (1955), Usos e Costumes Jurídicos dos Fulas da Guiné Portuguesa (1958) e Usos e Costumes Jurídicos dos Felupes da Guiné (1960), entre outros títulos e a par da obra literária que continuou a editar. Postumamente, em 2006, foi publicado um livro de contos O cativeiro dos bichos. A sua atitude na defesa dos cidadãos guineenses trouxe-lhe sérios dissabores. Preso pela PIDE, em 1966, por ter conseguido absolver vários “terroristas”, foi-lhe fixada residência em Lisboa. A convite de Luís Cabral, regressará à Guiné dez anos depois, como juiz do Supremo Tribunal de Justiça, e professor de Direito Consuetudinário, na Escola de Direito de Bissau.