Vestimo-nos para nos tornarmos humanos. Mas o que é ser humano?
«Porque é que nos vestimos? Para nos tornarmos humanos. Esta é uma resposta universal. A questão está em saber o que isso significa, tornarmo-nos humanos. Nas sociedades ditas tradicionais tal metamorfose não rompeu a nossa conexão com os outros seres vivos, mas, pelo contrário, no mundo a que chamámos moderno, isso aconteceu.
O que se alterou com o aparecimento do corpo moderno foi a lógica interna do processo, universal, de construção das identidades, em que o corpo está envolvido. Passou a ser mais consciente e esse facto levou os indivíduos a conceberem o seu corpo como uma exterioridade (o meu corpo) modelável, algo que a nossa vontade (e o nosso poder) pode produzir.
Estaremos hoje num momento de viragem? Tudo indica que sim. Não sabemos como fazê-lo, mas procuramos um reencontro com as entidades que, na fina película do planeta Terra onde habitamos, fazem a vida. A crise da COVID tornou claro que a nossa existência ou se faz com outros seres vivos ou não se faz. Resta saber como vamos reinventar os nossos corpos nesta nossa nova condição de simples holobiontes.»
Com Filomena Silvano
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«Why do we wear clothes? To become human. This is usually the accepted answer. The issue is to know what to become human means. In the so-called traditional societies, the metamorphosis hasn’t severed our connection with other living beings, but it has in what we call the modern world.
What has changed with the emergence of the modern body was the internal (and universal) logic of identity construction processes in which the body is inserted. This has resulted in greater mindfulness leading us to apprehend our bodies as something exterior (my body) we can shape, a product of our own will (and power).
Are we now facing a turning point? Everything points to that. We still don’t know how to, but we´re trying to reconnect with the entities with which we share Earth’s delicate living crust. The Covid crisis has showed us that either we share our existence with the other beings or we won’t exist at all. We have yet to know how to reinvent our bodies within this new position of mere holobionts.»