07
Jul
Dramaturgias das artes performativas: o sensível e o material
Curso
18:30 às 21:00 (7 a 17 Jul 2025)
Av. de Berna, 26 C 1069-061 Lisboa

Objetivos

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  • Analisar as metamorfoses dos modelos cénicos;
  • Interagir com as várias aceções do conceito e práticas das dramaturgias de palco;
  • Questionar o espetáculo: “se não é diegético, é o quê?”;
  • Relacionar os elementos expressivos presentes em palco com tipos e sentidos dramatúrgicos;
  • Elencar e problematizar as materialidades do espetáculo (corpo e fisicalidade; ótico e arquiteturas; som e auralidade; linguagem e discursividade; media e interartes);
  • Reforçar as ferramentas de crítica do evento espetacular e performativo;
  • Comparar práticas estéticas de várias performances e companhias.

 

Programa

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Perante a indefinição do espetáculo contemporâneo (teatro, dança, performance art, instalação, conferência-performance), o espanto não nos permite “compreendê-lo”. A discussão do sentido (estável e enunciável) traduz-se na interpelação e no questionamento emocionais, estéticos e formais. Assim, a construção e leitura da cena contemporânea dão-se através do princípio fenomenológico e do princípio morfológico: o primeiro referindo-se aos materiais expressivos utilizados e à sua experiencialidade, e o segundo refletindo sobre a heterogeneidade de montagem e de indícios (não hierárquicos, em acumulação) que se transformam na cena. A interpretação devém, necessariamente, aberta em função da constelação de relações. Desta condição, o programa percorre as distinções e aproximações entre drama, narrativa, teatralidade e performatividade, em torno de seis eixos. A metodologia apoia-se na discussão teórica com base em espetáculos, crítica e visionamentos (por exemplo, Mónica Calle, Marlene Monteiro Freitas, CiRcoLando, Nuno M. Cardoso, Christiane Jatahy, Mala Voadora).

1. Discussão dos principais conceitos: fuga dos modelos

  • As dramaturgias de palco, o texto dramático, o estilhaçar dos modelos narrativos, diluição de personagem e trama;
  • Montagem e recepção, a função da dramaturgista;
  • Não linearidade, transmedialidade, tableaux vivants cénicos;
  • Em direção a uma dramaturgia não narrativa;
  • A dramaturgia como busca, espelhamento e ignorância.

2. Dramaturgia do corpo: o ímpeto pulsional

  • A vibração das pulsões, os afetos e o infra-movimento energético;
  • O cinético, a atenção, o corpo não normativo, o pós-humano;
  • Os quatro nós da dramaturgia do corpo: vitalidade, sensorialidade, extraordinário, objectualidade.

3. Dramaturgia visual: simultaneidade e dispersão do olhar

  • A arquitetura de cena, materialidades e texturas;
  • O espaço global, irrupção, black box e white cube;
  • Os quatro nós da dramaturgia visual: simultaneidade, materialidade, espaço, imago.

4. Dramaturgia do som: imersão e ambiência

  • A atenção aural e a espessura acústica;
  • O som “natural”, a cacofonia, o som intencional;
  • Os quatro nós da dramaturgia do som: aural, transmissão, ruído, ritmo.

5. Dramaturgia da linguagem: ação pelo discurso

  • A articulação da fala e o destronar do logocentrismo;
  • A metalinguagem e o agir na linguagem: carácter ilocutório, performativo e político;
  • Os quatro nós da dramaturgia da linguagem: enunciativo, discursivo, ilocutório, ensaístico.

6. Dramaturgia intermedial: o teatro como um grande hipermédia

  • As relações entre artes performativas e os media studies;
  • O medium como dispositivo cultural e técnico;
  • O medium e a ecologia medial; a imediaticidade e a remediação;
  • Os quatro nós da dramaturgia intermedial: virtual, digital, distância, ausência

 

Bibliografia

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  • Lehmann, Hans-Ties (2017). Teatro Pós-dramático. Lisboa: Orfeu Negro.
  • Fischer-Lichte, Erika (2019). Estética do Performativo. Lisboa: Orfeu Negro.
  • Bleeker, Maaike (2003). “Dramaturgy as a mode of looking” in Women & Performance: A Journal of Feminist Theory, 13:2, 163- 172, DOI: 10.1080/07407700308571432.
  • Home-Cook, George (2015). Theatre and Aural Attention: stretching ourselves. London: Palgrave McMillan.
  • Chappel, Frieda & Kattenbelt, Chiel (2006). Intermediality in Theatre and Performance. Amsterdam & New York: Editions Rodopi.

 

docente

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António Figueiredo Marques é investigador do ICNOVA (Performance & Cognição), co-editor e contribuidor do site sobre artes performativas CRATERA, e doutorado em Comunicação e Artes (Ciências da Comunicação, NOVA FCSH) com um projeto sobre dramaturgias não narrativas. Desenvolve investigação em torno das dramaturgias de palco, examinando os mecanismos, materialidades e sensorialidades da montagem na cena contemporânea. Além de folhas de sala de espectáculos, publicou, entre outros artigos, sobre Mónica Calle “Mapas e Desejos” (Revista Urdimento) e sobre Patrícia Portela “Parasomnia: Sleep against capitalism” (Arts). Desde 2019, membro da associação europeia EASTAP. Como performer frequentou formações com Mónica Calle, Miguel Moreira, Tiago Vieira, Renato Ferracini. (Lume Teatro, BR) e Yael Karavan (UK). CiênciaVitae: https://cienciavitae.pt/portal/0D13-D82E-5097.