Elogio à Telescola

Opinião de Carlos Ceia

Coordenador dos Mestrados em Ensino da NOVA FCSH


Como pai e como professor e professor de professores, tenho de fazer um primeiro balanço muito positivo com a iniciativa #EstudoEmCasa. Os estudantes voltaram a uma normalidade possível, com um horário, com um professor no horizonte, com uma disciplina de trabalho, com interacção virtual com os colegas, com a alegria de aprender em conjunto com os seus pares e não em total isolamento educativo e social.

Neste momento tão complexo e único das nossas vidas, saibamos agradecer a quem está nos hospitais, nas esquadras, nos quartéis, nos supermercados, nas farmácias, etc. a trabalhar para que nos seja possível viver em reclusão. Agora quero acrescentar em voz alta: saibamos também agradecer sem cor partidária a quem teve o engenho de pôr esta grande máquina que é o #EstudoEmCasa (telescola + apoio ao estudo + plataformas digitais com recursos educativos) a funcionar de um dia para o outro, sem ensaio prévio possível, absolutamente sem rede, contando apenas com a arte, o brio e o saber feito dos professores que se disponibilizaram para ensinar o país inteiro da melhor forma possível. Obrigado a todos.

Fotografia: Pedro Pina / RTP

 

Os erros científicos dos professores da telescola

Uma aula sem erros não existe, um professor que nunca errou no discurso de uma aula não existe, um professor que nunca hesitou não existe, um professor que dá aulas perfeitas também não existe, porque os professores que realmente merecem aplauso são os imperfeitos, os que erram, os que dão tudo e se enganam aqui e ali, os que deixam uma marca eterna no nosso coração.

Não sou tolerante com erros científicos em nenhuma circunstância e quem trabalhou comigo nestes últimos 30 anos sabe disso. Mas o momento e o contexto destas aulas gravadas de um dia para o outro, sem tempo de nenhuma reflexão ou repetição, numa corrida contra o tempo que não existia, é uma situação muito diferente e devemos, assim acredito, ter alguma tolerância para eventuais erros nas aulas. Nas de Português que vi e nos materiais de apoio já disponibilizados, reconheci alguns erros clássicos em tantos professores, um ou outro que tenho tentado corrigir em tantos cursos de formação de professores, mas que persistem. Não é este o espaço nem o tempo para tais correcções nem juízos de correcção.

O que podemos fazer para o futuro? O que podemos fazer para melhorar as aulas da telescola? Para o futuro, se tivermos de repetir a experiência, a recomendação é simples e não tem nada de especial: cada aula tem de ser validada cientificamente por um professor altamente qualificado nessa disciplina, antes de a aula ser dada como pronta para emissão, tal como fazemos nos manuais antes de serem publicados. Isto exigia tempo que não existiu nem podia existir. No futuro, certamente que da mesma forma que tivemos estes magníficos professores voluntários para leccionar aulas televisionadas, também teremos professores supervisores voluntários para tal trabalho complementar.

Para já, com o tempo que existia, não acredito que fosse possível fazer melhor e o que foi feito merece o meu aplauso repetido.

 

Texto originalmente publicado no Facebook.