International Heritage Sciences Summer School: dois olhares sobre uma iniciativa da EUTOPIA

Durante este ano letivo, as universidades da aliança EUTOPIA European University têm organizado escolas de verão que procuram promover a mobilidade entre estudantes das universidades desta iniciativa. Neste âmbito, Sónia Mota Ribeiro e Manuel Apóstolo, dois doutorandos da NOVA FCSH, participaram na ‘International Heritage Sciences Summer School’, um curso de verão da CY Cergy Paris Université, que decorreu no passado mês de julho em Versailles, dando o seu testemunho sobre a experiência.

A EUTOPIA European University é uma comunidade inclusiva de universidades europeias que partilham valores e agendas comuns, pelo que procura desenvolver oportunidades que valorizem a investigação colaborativa, a aprendizagem, a mobilidade de estudantes, professores e staff e a criação de inovação.  A criação de cursos breves que propõem uma relação entre distintos âmbitos científicos assentes na partilha de conhecimento e experiência entre pessoas de universidades diferentes é, portanto, uma das manifestações do compromisso da aliança EUTOPIA. 

Neste sentido, dois doutorandos participaram numa destas iniciativas, a ‘International Heritage Sciences Summer School’, que decorreu entre os dias 5 e 12 de julho no Campus de Versailles de uma das parceiras da EUTOPIA, a CY Cergy Paris Université. Sónia Mota Ribeiro, doutoranda em Antropologia, e Manuel Apóstolo, doutorando em História da Arte, juntaram-se a estudantes e profissionais de outras universidades e países para refletir sobre questões essencialmente ligadas ao Património, mas também às Artes Plásticas, à História, à Arquitetura, à Gestão Cultural, à Conservação e Restauro num diálogo constante entre diferentes âmbitos académicos e culturais. 

De facto, o primeiro aspeto que os dois estudantes da NOVA FCSH destacam desde logo da experiência na Escola de Verão é a “diversidade e multidisciplinariedade de abordagens” nas várias sessões deste curso, assim como “a flexibilidade do programa“, uma evidência que se reflete nas pessoas responsáveis pela sua dinamização, desde a diversidade dos seus países de origem até aos seus âmbitos de trabalho, que vão da Conservação e Restauro à Engenharia Agrónoma. Esta heterogeneidade de saberes manifestou-se na estrutura curricular da iniciativa, que dedicava um tema ou abordagem diferente a cada dia de curso e à sua relação com o património e a cultura. Em suma, este foi o “grande ganho“, para Manuel Apóstolo – “ver como várias disciplinas diferentes trabalham as questões do património“.

Sobre a cidade de Versailles, “local onde o património assume um papel tão importante” e a sua relação com o curso, Sónia Ribeiro reflete que “todo o programa vai no sentido de questionar a necessidade de preservação“. Nesta dimensão, surge a dualidade característica do conhecimento científico aplicada ao Património: “Vimos a apresentação de um projeto do Livio de Luca que procura guardar tudo, para que possamos ter acesso a tudo digitalmente. Mas depois desta apresentação, assistimos a um outro ponto de vista que questionava esta obsessão de guardar tudo, ou seja, temos mesmo a necessidade de guardar tudo? Por isso, tivemos estas perspectivas um bocado diferentes em relação ao Património” explica a antropóloga. 

Ainda em relação a este cruzamento de perspetivas, os participantes portugueses dão o exemplo de um dos workshops orientado pela autora de romances científicos Stéphanie Arc: “Mais uma vez, está-se a trabalhar no limite entre o que é científico e o que é ficcional o que deu origem a uma discussão muito interessante no grupo sobre a inclusão do próprio e a inclusão do subjetivo, que na Antropologia é uma questão muito permanente“. De igual modo e no contexto da arquitetura, referem o trabalho crítico da artista plástica portuguesa Ângela Ferreira, particularmente “ao seu trabalho formal através das instalações, que criticam os métodos, as teorias, a permanência na arquitetura“.

Dentro das formas originais de pensar o património, um dos destaques do programa vai para Livio de Luca, diretor da investigação no Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), responsável pelo projeto de restauro da Catedral de Notre Dame. O investigador surpreendeu os doutorandos ao revelar que parte do processo de restauro da catedral envolvia uma documentação das emoções. Segundo Sónia “Achei bastante inovador o considerar das emoções patrimoniais, a que geralmente não se atribui valor científico, mas que neste caso são consideradas. Há todo um departamento a trabalhar as emoções das pessoas que visitam, as emoções dos trabalhadores de restauro, das pessoas que fazem as tarefas mais simples…“.

Em jeito de conclusão, Sónia sintetiza a experiência pensando no seu trabalho em Antropologia: “Foi uma experiência que, no imediato, parece que não tem diretamente a ver com o que estamos a fazer, mas acho que é daquelas experiências que amplia um pouco as ideias e a perspetiva“, “Dentro da mesma área geral isso permite perceber que é possível fazer estas coisas e, em alguns casos, pô-las em diálogo” acrescenta Manuel. 

As diferentes iniciativas e oportunidades para estudantes, docentes e staff da EUTOPIA European University podem ser consultadas na página da comunidade ou na secção destinada à aliança no site da Universidade NOVA de Lisboa. 

(As fotografias deste artigo foram cedidas por Sónia Mota Ribeiro)