12
Mar
2020
"Nas coxias da ciência: A peça "Gutenberg – drame historique en 5 actes et en prose" (1869) de Juliette Figuier e sua tradução no Brasil"
Kaori Kodama
Conferência
16:00 às 18:00
Campus de Campolide da NOVA — 1099-085 Lisboa

Conferência de Kaori Kodama, organizada pelo Instituto de História Contemporânea em colaboração com a Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz, sobre o papel dos mediadores culturais na popularização da ciência no século XIX, com foco em Juliette Figuier.

A apresentação pretende percorrer dois caminhos para abordar os mediadores culturais que trataram da vulgarização científica na segunda metade do século XIX: os fragmentos da trajectória de uma escritora, Juliette Figuier, e de seu tradutor no Brasil, Josino Chaves. De formas distintas, tanto a escritora, como seu tradutor, por suas posições marginais no cenário intelectual, tiveram suas atuações apagadas na produção cultural de uma ciência para o consumo “popular”.

O elemento material que une essas duas trajetórias é a peça teatral Gutenberg, drame historique em 5 actes et en prose de Juliette, publicada pela primeira vez em Paris, em 1869, que recebeu uma versão traduzida no Rio de Janeiro em 1877. De que forma uma escritora – mulher de um conhecido escritor da vulgarização científica – e seu tradutor – um obscuro tipógrafo que atuava no instável mundo editorial carioca entre os anos 1870 e 1880 – tiveram seus trabalhos apagados?

A partir das diferentes edições de uma peça que pretendia exaltar o “grande homem” Gutenberg e sua “invenção”, procuramos assinalar como as assimetrias e hierarquias nas relações entre cientistas e seus mediadoras/es ajudaram a produzir a invisibilidade de agentes responsáveis pela circulação de trabalhos de divulgação científica. Esses agentes, por sua vez, na defesa de suas actividades profissionais, auxiliaram a construir de maneira eficaz o próprio mito da “Ciência” no singular, processo que ocorre ao longo do século XIX. Consideramos assim que ambos são importantes actores e fazem parte de uma história da mediação da ciência no século XIX.

 

Oradora:

Kaori Kodama é investigadora na Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz e professora do Programa de pós-graduação em História das Ciências e da Saúde e do Programa de pós- graduação em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde, no Rio de Janeiro. É, presentemente, professora visitante na Université Paris-1, Panthéon-Sorbonne. É licenciada em História, mestre em História Social da Cultura e doutora em História Social da Cultura.

Possui extensa bibliografia publicada, incluindo um livro sobre a etnografia indígena no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro durante as décadas de 1840 e 1860, além de artigos, organizações de livros e capítulos versando temas ligados à constituição das ideias de raça e relações com o discurso médico-científico no Brasil, tais como: viajantes no Brasil-Império; epidemia de cólera no Rio de Janeiro em oitocentos; escravatura e saúde; relações médico-científicas e a imigração japonesa.

Actualmente, os seus projectos situam-se no domínio da história da divulgação científica no Brasil oitocentista e na Primeira República, trabalhando com temas da história da imprensa, dos mediadores culturais e da circulação de saberes. Participa nos seguintes grupos de pesquisa do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Brasil): Escravidão, Raça e Saúde; História da Medicina e da Saúde: espaços institucionais e actores; Imprensa e Circulação de Ideias: o papel dos periódicos nos séculos XIX e XX.

 

Comentadora:

Luísa Veloso é professora do Departamento de Sociologia do ISCTE-IUL (Instituto Universitário de Lisboa) e investigadora sénior do CIES-IUL. Doutorada em Sociologia, tem investigado sobretudo nas áreas do trabalho, profissões, emprego, economia e organizações, inovação e identidades sociais. Um dos seus mais recentes projectos de investigação, coordenado em parceria com Frédéric Vidal, aborda as representações do trabalho no cinema português, tendo sido publicado pelas Edicões 70 com o título O Trabalho no Ecrã: memórias e identidades sociais através do cinema. Desenvolve actividades várias em colaboração com instituições culturais e artísticas, nomeadamente com Rumo do Fumo, Fundação de Serralves, Cinemateca Portuguesa, Circular, Associação Cultural.

 

Organização: Nuno Medeiros (IHC — NOVA FCSH)

 

ENTRADA LIVRE

 

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Cartaz da conferência "Nas coxias da ciência", com uma foto da oradora