12
Fev
2020
A Arte de Traduzir do Dinamarquês
Conferência
16:00 às 18:00
NOVA FCSH, Av. de Berna, 26 C

Kierkegaard

Søren Kierkegaard (1813-1853) teve uma existência atormentada e deixou-nos um legado filosófico igualmente controverso e não facilmente enquadrável. Fortemente influenciado pelo romantismo alemão, o seu pensamento movimenta-se entre a teologia, a filosofia e a arte. O seu cristianismo angustiado e a afirmação da supremacia do mundo do teatro sobre o mundo real conduzem-no a um conflito, sem que neste se opere a tradicional síntese hegeliana, antes desemboque numa nova concepção filosófica sui generis, preconizadora do existencialismo, em que está patente uma oposição consciente às convenções e às correntes de pensamento vigentes no século XIX.

A solução para a sua crise existencial, proveniente da confluência da sua vocação frustrada de pastor protestante, por um lado, e de um noivado não consumado, por outro, passa pela criação de personagens-tipo que, num clima romântico, se confrontam, gerando uma dialéctica nova que prescinde da noção de sistema e se contenta com “migalhas” (outra herança do romantismo alemão, que vê no fragmento o veículo par excellence dos seus ideais estéticos).

Então como traduzir para português um pensador tão refractário como Kierkegaard, a um tempo polémico e sarcástico, tardiamente reconhecido, em que o tom dos seus textos vai reflectindo as mutações da sua pessoalíssima visão filosófica e espiritual?

A tradução de obras escolhidas de Kierkegaard directamente do original, que o Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, em colaboração com a Fundação Nacional Dinamarquesa para a Investigação, em boa hora iniciou, em 2009, e que é publicada pela Relógio D’Água, tem como responsáveis científicos Elisabete M. de Sousa e José Miranda Justo.