Projeto do CLUNL promove sucesso escolar
Da direita para a esquerda, a equipa do CLUNL que desenvolve o PIPALE: Catarina Rosa, Joana Batalha, Maria Lobo, Bruna Bragança e Aida Cardoso

E se o ensino da escrita e da língua fossem quase personalizados, consoante as diferentes dificuldades que cada criança sente no inicio da sua escolaridade? O Centro de Linguística da Universidade NOVA de Lisboa (CLUNL) pensou nisso. Apoiado pelo Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar, o Projeto de Intervenção Preventiva para a Aprendizagem da Leitura e da Escrita da NOVA FCSH, conhecido como PIPALE, tem implementado um conjunto de medidas para melhorar o ensino-aprendizagem da língua portuguesa e revelado métodos com potencial para inovar o ensino da língua portuguesa. Coordenado por Joana Batalha e Maria Lobo, investigadoras CLUNL, o seu objetivo é o de melhorar as competências de leitura e escrita entre as crianças do pré-escolar e do 1.º ciclo do ensino básico (1.º e 2.º anos de escolaridade).

“O PIPALE surge como resposta à necessidade de melhorar os níveis de qualidade das aprendizagens em língua portuguesa, numa lógica preventiva, isto é, apostando na intervenção precoce”, destaca Joana Batalha. O foco central é, por isso, apoiar docentes na busca de práticas pedagógicas mais eficazes e adequadas às necessidades particulares dos alunos no contexto do ensino do português, atuando numa fase inicial do ensino da língua.

Diferenciando-se por um modelo que combina capacitação dos docentes, apoio na avaliação e intervenção em sala de aula, o PIPALE prioriza o aprimoramento de estratégias de ensino-aprendizagem na área do português, focando resultados na leitura e na escrita. Para isso, valoriza-se a formação e o acompanhamento dos educadores e professores, procurando que as suas intervenções sejam mais eficazes e possam atender melhor às necessidades individuais dos alunos. 

A promoção do desenvolvimento da consciência linguística, em particular a fonológica e a sintática, torna-se desta forma uma das peças-chave do programa, tal como a identificação de regularidades entre as unidades gráficas e sonoras e o estímulo a atividades integradoras que conectem leitura, escrita e consciência linguística. Tudo isto através de atividades lúdicas, adequadas às faixas etárias dos alunos.

Três vertentes, um objetivo

O PIPALE fundamenta-se em três vertentes que convergem para a promoção da aprendizagem da leitura e da escrita logo numa fase inicial da educação. 

Avaliação das aprendizagens: é realizada por meio do Instrumento PIPALE desenvolvido especialmente para o projeto. Acontece antes e após a intervenção didática e possibilita a identificação das áreas de intervenção prioritárias, aferindo competências preditoras do sucesso na leitura e na escrita. Permite, por isso, a deteção precoce, logo no 1.º ano, de alunos que necessitam de uma abordagem individualizada.

Formação e capacitação de educadores e professores: essencial para capacitar os docentes em âmbitos científicos e didáticos, fornecendo-lhes ferramentas de avaliação e estratégias de intervenção apropriadas e eficazes que atendem às necessidades dos seus estudantes. A formação é dinamizada, sobretudo, por meio de oficinas e possui acreditação do Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua.

Acompanhamento da intervenção didática: consiste em proporcionar apoio regular aos docentes na planificação, implementação e monitorização de estratégias de ensino-aprendizagem diversificadas, adaptadas às necessidades individuais e que, nesta fase, já foram identificadas por meio da avaliação.

Contribuições e Resultados

Até ao momento, já participaram no projeto, em todas as suas vertentes, dois agrupamentos do município de Sesimbra e dois agrupamentos do município do Seixal, alcançando, no ano letivo de 2022-2023, um total de 55 docentes e cerca de 850 alunos, entre pré-escolar e 1.º ciclo. Segundo a própria equipa do CLUNL, os principais contributos do projeto passaram pela “avaliação cientificamente validada de competências preditoras e a identificação de áreas de intervenção prioritárias, auxiliando na prevenção de dificuldades; discussão dos resultados com os docentes, possibilitando a articulação com especialistas para diagnósticos mais precisos; capacitação científica e didática dos docentes por uma equipa qualificada na área da linguagem e didática do português e, finalmente, apoio na conceção de materiais didáticos alinhados com os resultados do diagnóstico e que contribuem para práticas pedagógicas mais eficazes”, enumera Joana Batalha. Mas quais têm sido os resultados práticos? “Globalmente, têm sido observadas melhorias significativas na maior parte das competências avaliadas e nos diferentes grupos de alunos entre o início e o final do ano letivo”, o que claramente sugere um impacto positivo do projeto. De resto, os dados recolhidos têm permitido desenvolver investigação relevante na área do desenvolvimento da linguagem e da linguística educacional, pelo que têm sido apresentados como casos de sucesso em eventos nacionais, internacionais e artigos científicos.

Rumos para o Futuro

Embora o PIPALE tenha obtido resultados promissores, a própria equipa de investigação aponta eventuais dificuldades que a expansão do projeto possa vir a conhecer. Isto porque o próprio modelo “pressupõe uma resposta ajustada à realizada de cada agrupamento. Trata-se, por isso, de um trabalho próximo e continuado entre a equipa de investigação e os docentes, razão pela qual o alargamento a uma escala maior pode vir a ser difícil de concretizar”, considera a investigadora. Também é verdade que se “alguns professores participam no PIPALE há vários anos letivos, integrando já as dinâmicas do projeto nas suas práticas”, outros podem estar a participar pela primeira vez, obrigando a equipa do CLUNL a “ajustar a formação e o acompanhamento a cada uma destas situações, o que é um dos maiores desafios”. Ainda assim, “tem funcionado até ao momento” com acolhimento positivo dos educadores e professores, provando ser “um contributo relevante para a melhoria do ensino”, conclui Joana Batalha. A decorrer há quatro anos, esta é uma estória de sucesso na construção de uma base sólida para o futuro da educação nas escolas onde está implementado.

BILHETE DE IDENTIDADE

Nome: PIPALE-Projeto de Intervenção Preventiva para a Aprendizagem da Leitura e da Escrita

Equipa NOVA FCSH: Joana Batalha (coordenação), Maria Lobo (coordenação), Antónia Estrela, Aida Cardoso, Bruna Bragança, Catarina Rosa

Entidades parceiras: Agrupamento de Escolas Maria do Carmo Serrote, Agrupamento de Escolas Navegador Rodrigues Soromenho, Agrupamento de Escolas de Sampaio, Agrupamento de Escolas António Augusto Louro, Agrupamento de Escolas Pedro Eanes Lobato, Câmara Municipal de Sesimbra, Câmara Municipal do Seixal, Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar

Duração: em curso desde 2019

Entidade financiadora: autarquias/agrupamentos de escolas