Sociedade de Geografia de Lisboa

A Sociedade de Geografia de Lisboa (SGL) foi criada em 1875, e é, de acordo com o site da própria SGL, “uma instituição, nas suas origens e nas suas finalidades, muito ligada ao contexto português dessa época, à situação da Europa desse tempo e ao que era a problemática da nossa posição no Ultramar e especialmente em África”.

Na segunda metade de oitocentos, em pleno “scramble for Africa” europeu, dá-se a campanha pela extinção definitiva da escravatura e aumenta o interesse da opinião pública europeia pelo continente africano. As sociedades missionárias protestantes e católicas criaram missões religiosas, que ajudam a divulgar, na Europa, notícias sobre as gentes e a terra, tal como as viagens dos exploradores que percorriam o interior do continente que eram descritas na imprensa e premiadas pelas Sociedades de Geografia de Londres e de Paris. Face à expansão europeia, Luciano Cordeiro e a outros agentes  coloniais portugueses decidem, com apoio do Governo, fundar, em 1875, a SGL, para lutar pelos interesses coloniais lusos e organizar e divulgar as expedições portuguesas em África. Em 1878, D. Luís torna-se protector da SGL e dos seus “estudos e explorações geográficas”. Em 1877, a SGL recebe a visita do imperador do Brasil, em 1903 a de Eduardo VII de Inglaterra, em 1905 a do imperador da Alemanha.

Em 1906 é criada a Escola Colonial, que funciona na SGL (o actual Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, ISCSP), e aí funcionou também a Escola Superior de Educação Física entre 1930 e 1940 (o Instituto Nacional de Motricidade Humana, integrado na Universidade Técnica). Em 1901, no seu 25º aniversário, organiza o 1º Congresso Colonial Nacional, e, e m 1924, o 2º Congresso Colonial Nacional, onde se planeia a criação do Arquivo Histórico Colonial, se atribui o nível universitário à Escola Colonial e a instituição das Semanas das Colónias (1927). Em 1936, organizou o 1º Congresso Nacional de Turismo. Em 1964, o presidente da SGL, Adriano Moreira, lançar a ideia de uma Congregação Geral das Comunidades Portuguesas, que leva à inauguração do Congresso das Comunidades, nesse ano, da formação da União das Comunidades de Cultura Portuguesa e da Academia Internacional da Cultura Portuguesa (SGL).

O Museu Colonial (actual Museu da Sociedade de Geografia de Lisboa) começa a ser projectado e abre portas ao público em 1884, e, em 1892, o Estado confiou à SGL o Museu Colonial da Marinha, criado em 1871, que recebe (restos de) padrões colocados pelos navegadores portugueses do século XV na costa africana, e, da Índia, a urna funerária de Afonso de Albuquerque, entre outros artefactos coloniais vindos da África e da Ásia. Criado com uma ênfase colonial, destaca-se no museu a componente etnográfica, destacando-se, no acervo museológico: as colecções Henrique de Carvalho, de César Augusto Gomes Ribeiro e de Pereira Marques; conjuntos artefactuais de diversos grupos culturais (Chokwé, Luba, Kongo, Tsonga, Bijagó), e um grande número de objectos de arte (mobiliário, pintura, escultura, painéis de azulejos e vitrais, instrumentos científicos, bem como espólios de militares, exploradores e sertanejos).

Como refere o website da instituição, “hoje em dia é preocupação fundamental a manutenção e o reforço dos laços culturais e científicos com a Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP) por meio de conferências, seminários, edições de livros e publicação sistemática do Boletim e Memórias. Acresce que a actividade cultural geral, alargada aos mais variados domínios se tem incrementado. Desde o estudo dos problemas do uso e exploração racional dos oceanos, pela cartografia e geografia matemática e pela conservação do património cultural até aos mais diversos domínios dos estudos históricos e literários, as Comissões e as Secções da SGL mostram actividade de realçar.” A SGL organiza frequentemente congressos, exposições e colóquios e publica inúmeros estudos. A sua importante biblioteca começou a ser constituída em 1876, e o seu espólio bibliográfico é composto por cerca de 66.000 títulos (cerca de 200.000 volumes, inúmeras revistas e cerca de 6 000 documentos manuscritos). Esse espólio inclui, por exemplo, a colecção Vidigueira, o espólio Marques Pereira, os diários de viagem de Hermenegildo Capelo, Roberto Ivens, Silva Porto e  Gago Coutinho, bem como os desenhos de George Chinnery sobre Macau. O Museu é ainda composto por uma cartoteca e uma fototeca.

Bibliografia

Aires-Barros, Luís e Manuela Cantinho, Sociedade de Geografia de Lisboa, 1875-2015: 140 Anos; Os 140 Anos da Sociedade de Geografia de Lisboa (Luís Aires-Barros). O Espólio Cultural da Sociedade de Geografia de Lisboa: A Biblioteca, a Cartoteca, a Fototeca e o Museu Etnográfico e Histórico (Manuela Cantinho), Lisboa, Sociedade de Geografia de Lisboa, 2016.

Pereira, Maria Manuela Cantinho, O Museu Etnográfico da Sociedade de Geografia de Lisboa: Modernidade, Colonização e Alteridade, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian-FCT, 2005.

Santos, Maria Emília Madeira, “Das Travessias Científicas à Exploração Regional em África: Uma Opção da Sociedade de Geografia de Lisboa”,  Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, série 104, n.º 7-12, Jul.-Dez. 1986, pp. 113-122.

Silva, Jorge Bastos da, “Sociedade de Geografia de Lisboa Discurso Colonial, 1910-1926”,  dissertação de Mestrado, Porto, Universidade Portucalense Infante D. Henrique, 1997.

Sociedade de Geographia de Lisboa: Summario das Sessões desde a Fundação até 31 de Dezembro de 1900, Lisboa, Casa Portuguesa, 1901.

Website da SGL: http://www.socgeografialisboa.pt/historia (acesso 12-01-2019).

 

Rogério Miguel Puga