Patologia vegetal e entomologia agrícola. Uma doença das pereiras
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Título
Patologia vegetal e entomologia agrícola. Uma doença das pereiras
Criador
A. Arthur Telles de Menezes, Professor da Escola de Regentes Agrícolas
Moraes Soares
(Da Gazeta das Aldeias)
Moraes Soares
(Da Gazeta das Aldeias)
Fonte
O Jornal de Cantanhede, n.º 677, pág. 2, col. 4, pág. 3, col. 1, 2
Data
07-06-1902
Colaborador
Pedro Barros
Text Item Type Metadata
Text
Uma doença das pereiras
Tivemos ocasião de observar em 1899 nos pomares da Escola Central de Agricultura de Coimbra (1), a doença causada nas pereiras pelo fungo Fusicladium pirinum, doença muito comum no nosso país, e a que os franceses chamam tacelure. São de muita importância os prejuízos que essa doença pode causar às pereiras, por isso mesmo que ataca as folhas, os ramos e os frutos causando-lhes graves danos; e eis porque nos parece interessante dizer alguma coisa sobre o assunto.
Facilmente se denuncia aos olhos a doença, principalmente pelo aspecto dos frutos que se apresentam manchados exteriormente de negro, tendo ao princípio as manchas aspecto pulverulento, aveludado. Mais tarde, na época da maturação dos frutos apresentam-se estes não somente manchados de negro, mas quase sempre fendidos, como que gretados e as manchas tornam-se então maiores, mais escuras, secas e lixas.
Como resultado, as pêras ficam deformadas, como que retalhadas em vários sentidos perdendo assim para o mercado todo o seu valor. A doença propaga-se facilmente e pode dar lugar à perda total de uma colheita.
Nas folhas e nos ramos também se apresentam as manchas características e os ramos apresentam a epiderme também retalhada e enrugada, estes ramos vão morrendo a começar pela sua extremidade e os seus botões secam.
Tivemos ocasião de observar ao microscópio o pó negro que se encontra nas manchas: é constituído pelos conídios com a forma de fuso muito característica, tal qual os representa Prillieux no seu excelente tratado das doenças das plantas (2).
De resto já o ilustre professor do Instituto de Agronomia, o Sr. José Veríssimo de Almeida, menciona este parasita entre os por ele observados e estudados no seu laboratório de patologia vegetal, classificando-o com razão entre os muito prejudiciais.
A humidade e as chuvas favorecem notavelmente a invasão da doença e tanto que ao princípio se julgou ser ela devida à humidade; esta porém, contribui somente para a generalização, permitindo aos esporos germinar mais facilmente e ir formar longe outros focos de infecção.
O Fusicladium desenvolve-se nos tecidos superficiais dos diversos órgãos e frutifica no exterior. As fendas ou gretas da epiderme explicam pela morte desta nos pontos onde o fungo se desenvolve. A doença propaga-se de um ano para o outro pelo micélio vivaz sobre os ramos. As macieiras também são atacadas por um parasita deste género — o Fusicladium dendriticum.
Tratamento — Tem-se empregado com resultado as lavagens durante o inverno com uma mistura de sulfato de cobre; cal e suco de tabaco; para isso em 12 litros de água dissolve-se 1 quilo de sulfato; em 4 litros de água misturam-se 2 quilos de cal, e este leite de cal junta-se na dissolução do sulfato.
Aconselha-se ainda lavar os frutos com um pincel com uma dissolução simples de sulfato de cobre (duas gramas de sulfato por cada litro de água) praticando a primeira lavagem quando o fruto tem proximamente o tamanho de uma avelã, e repetindo duas ou três vezes o tratamento até Agosto.
Enfim, pode-se empregar com sucesso a calda bordelesa, pulverizando as pereiras e sobretudo as peras. As árvores mais abrigadas das chuvas da primavera são as menos atacadas.
Santarém
A. Arthur Telles de Menezes, Professor da Escola de Regentes Agrícolas
Moraes Soares
(Da Gazeta das Aldeias)
Tivemos ocasião de observar em 1899 nos pomares da Escola Central de Agricultura de Coimbra (1), a doença causada nas pereiras pelo fungo Fusicladium pirinum, doença muito comum no nosso país, e a que os franceses chamam tacelure. São de muita importância os prejuízos que essa doença pode causar às pereiras, por isso mesmo que ataca as folhas, os ramos e os frutos causando-lhes graves danos; e eis porque nos parece interessante dizer alguma coisa sobre o assunto.
Facilmente se denuncia aos olhos a doença, principalmente pelo aspecto dos frutos que se apresentam manchados exteriormente de negro, tendo ao princípio as manchas aspecto pulverulento, aveludado. Mais tarde, na época da maturação dos frutos apresentam-se estes não somente manchados de negro, mas quase sempre fendidos, como que gretados e as manchas tornam-se então maiores, mais escuras, secas e lixas.
Como resultado, as pêras ficam deformadas, como que retalhadas em vários sentidos perdendo assim para o mercado todo o seu valor. A doença propaga-se facilmente e pode dar lugar à perda total de uma colheita.
Nas folhas e nos ramos também se apresentam as manchas características e os ramos apresentam a epiderme também retalhada e enrugada, estes ramos vão morrendo a começar pela sua extremidade e os seus botões secam.
Tivemos ocasião de observar ao microscópio o pó negro que se encontra nas manchas: é constituído pelos conídios com a forma de fuso muito característica, tal qual os representa Prillieux no seu excelente tratado das doenças das plantas (2).
De resto já o ilustre professor do Instituto de Agronomia, o Sr. José Veríssimo de Almeida, menciona este parasita entre os por ele observados e estudados no seu laboratório de patologia vegetal, classificando-o com razão entre os muito prejudiciais.
A humidade e as chuvas favorecem notavelmente a invasão da doença e tanto que ao princípio se julgou ser ela devida à humidade; esta porém, contribui somente para a generalização, permitindo aos esporos germinar mais facilmente e ir formar longe outros focos de infecção.
O Fusicladium desenvolve-se nos tecidos superficiais dos diversos órgãos e frutifica no exterior. As fendas ou gretas da epiderme explicam pela morte desta nos pontos onde o fungo se desenvolve. A doença propaga-se de um ano para o outro pelo micélio vivaz sobre os ramos. As macieiras também são atacadas por um parasita deste género — o Fusicladium dendriticum.
Tratamento — Tem-se empregado com resultado as lavagens durante o inverno com uma mistura de sulfato de cobre; cal e suco de tabaco; para isso em 12 litros de água dissolve-se 1 quilo de sulfato; em 4 litros de água misturam-se 2 quilos de cal, e este leite de cal junta-se na dissolução do sulfato.
Aconselha-se ainda lavar os frutos com um pincel com uma dissolução simples de sulfato de cobre (duas gramas de sulfato por cada litro de água) praticando a primeira lavagem quando o fruto tem proximamente o tamanho de uma avelã, e repetindo duas ou três vezes o tratamento até Agosto.
Enfim, pode-se empregar com sucesso a calda bordelesa, pulverizando as pereiras e sobretudo as peras. As árvores mais abrigadas das chuvas da primavera são as menos atacadas.
Santarém
A. Arthur Telles de Menezes, Professor da Escola de Regentes Agrícolas
Moraes Soares
(Da Gazeta das Aldeias)
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Citação
A. Arthur Telles de Menezes, Professor da Escola de Regentes Agrícolas
Moraes Soares
(Da Gazeta das Aldeias)
, “Patologia vegetal e entomologia agrícola. Uma doença das pereiras”. In O Jornal de Cantanhede, n.º 677, pág. 2, col. 4, pág. 3, col. 1, 2 , 07-06-1902. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 4 de Dezembro de 2024, http://www.fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/970.