OS GAFANHOTOS
Dublin Core
Título
OS GAFANHOTOS
Criador
António Gomes Ramalho e Guilherme João Sá
Fonte
O Manuelinho de Évora, Ano XIX, nº 917, p. 2.
Data
30-04-1899
Colaborador
Leonardo Aboim Pires
Text Item Type Metadata
Text
História do inseto
(Continuado do nº 916)
Enquanto todos os países ocidentais declaram viva guerra a tão terrível inimigo pondo em prática todos os meios tendes a seu desejado extermínio, muitos dos Oriente, pelo contrário, bem-dizem a sua aparição que para eles corresponde à chuva do maná com que Deus contemplou os judeus num momento de escassez alimentícia.
[…]
Secos e salgados, os gafanhotos são na Ásia e na África um objeto de comércio. Em Bagdade fazem às vezes baixar o preço da carne.
Na Barbária, depois de lhe tirarem os élitros e as asas, conservam os seus corpos em salmoura para servirem de alimento.
Os indígenas do Senegal secam-nos ao sol e depois de os reduzirem a pó, os empregam como farinha.
Nos países em que se comem, os gafanhotos aparecem à venda nos mercados em grande abundância.
[…]
O emprego dos gafanhotos, depois de convenientemente preparados, como isca na pesca da sardinha, é hoje por todos reconhecido como preferível ao antigo sistema do ovo.
Além disto, este insetos são ainda suscetíveis de fornecerem uma grande quantidade de gordura ou cebo mui proveitoso à untura das máquinas, uma vez que seja purificada e isenta do mau cheio que exala.
Todas estas utilizações variadas a que se presta o inseto em questão, parecem-nos, contudo, pouco compensadoras, em presença dos estragos que ele produz em toda a parte onde a sua insaciável voracidade se faz sentir.
Medidas atinentes à destruição do inseto
Não haverá algum meio de impedir estas terríveis invasões e consequentemente evitar os seus fatais prejuízos?
Não nos conta que processo algum exista, cuja aplicação dê em resultado o seu extermínio completo, mormente quando o flagelo se estende a superfícies consideráveis. […]
Os negros do Sudão esforçam-se para afugentar os gafanhotos no seu voo, dando gritos selvagens.
Na Hungria tem-se empregado no mesmo intuito o ribombar do canhão. Na Idade Média à falta de canhão, esconjuravam-se os gafanhotos por meio de exorcismos.
Os árabes têm também, como meio infalível para os afastarem – o escreveram num papel algumas palavras de uma oração que Maomé dirigiu a Deus para aquele fim – e introduzem o em uma cama que se coloca no meio das searas – o que segundo eles tem o poder de as preservar do terrível inimigo.
Um outro meio não menos eficaz no dizer dos devotos muçulmanos consiste no seguinte:
Apanham-se quatro gafanhotos, escreve-se-lhes um verso do Corão, e em seguida soltam-se; os insetos assim ferreteados no meio do enxame poem em alvoroço o exército voante, fazendo mudar de direção…! Tais são os meios empregados pelos povos do Oriente contra a praga de gafanhotos, segundo Figuier.
(Continua)
(Continuado do nº 916)
Enquanto todos os países ocidentais declaram viva guerra a tão terrível inimigo pondo em prática todos os meios tendes a seu desejado extermínio, muitos dos Oriente, pelo contrário, bem-dizem a sua aparição que para eles corresponde à chuva do maná com que Deus contemplou os judeus num momento de escassez alimentícia.
[…]
Secos e salgados, os gafanhotos são na Ásia e na África um objeto de comércio. Em Bagdade fazem às vezes baixar o preço da carne.
Na Barbária, depois de lhe tirarem os élitros e as asas, conservam os seus corpos em salmoura para servirem de alimento.
Os indígenas do Senegal secam-nos ao sol e depois de os reduzirem a pó, os empregam como farinha.
Nos países em que se comem, os gafanhotos aparecem à venda nos mercados em grande abundância.
[…]
O emprego dos gafanhotos, depois de convenientemente preparados, como isca na pesca da sardinha, é hoje por todos reconhecido como preferível ao antigo sistema do ovo.
Além disto, este insetos são ainda suscetíveis de fornecerem uma grande quantidade de gordura ou cebo mui proveitoso à untura das máquinas, uma vez que seja purificada e isenta do mau cheio que exala.
Todas estas utilizações variadas a que se presta o inseto em questão, parecem-nos, contudo, pouco compensadoras, em presença dos estragos que ele produz em toda a parte onde a sua insaciável voracidade se faz sentir.
Medidas atinentes à destruição do inseto
Não haverá algum meio de impedir estas terríveis invasões e consequentemente evitar os seus fatais prejuízos?
Não nos conta que processo algum exista, cuja aplicação dê em resultado o seu extermínio completo, mormente quando o flagelo se estende a superfícies consideráveis. […]
Os negros do Sudão esforçam-se para afugentar os gafanhotos no seu voo, dando gritos selvagens.
Na Hungria tem-se empregado no mesmo intuito o ribombar do canhão. Na Idade Média à falta de canhão, esconjuravam-se os gafanhotos por meio de exorcismos.
Os árabes têm também, como meio infalível para os afastarem – o escreveram num papel algumas palavras de uma oração que Maomé dirigiu a Deus para aquele fim – e introduzem o em uma cama que se coloca no meio das searas – o que segundo eles tem o poder de as preservar do terrível inimigo.
Um outro meio não menos eficaz no dizer dos devotos muçulmanos consiste no seguinte:
Apanham-se quatro gafanhotos, escreve-se-lhes um verso do Corão, e em seguida soltam-se; os insetos assim ferreteados no meio do enxame poem em alvoroço o exército voante, fazendo mudar de direção…! Tais são os meios empregados pelos povos do Oriente contra a praga de gafanhotos, segundo Figuier.
(Continua)
Ficheiros
Colecção
Citação
António Gomes Ramalho e Guilherme João Sá, “OS GAFANHOTOS”. In O Manuelinho de Évora, Ano XIX, nº 917, p. 2., 30-04-1899. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 6 de Dezembro de 2024, http://www.fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/1469.