OS GAFANHOTOS
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Título
OS GAFANHOTOS
Criador
António Gomes Ramalho e Guilherme João Sá
Fonte
O Manuelinho de Évora, Ano XIX, nº 916, p. 2.
Data
23-04-1899
Colaborador
Leonardo Aboim Pires
Text Item Type Metadata
Text
Agora que estes insetos fazem parte da ordem do dia, vamos extrair algumas informações interessantes do relatório acerca da extinção dos gafanhotos no concelho de Elvas, publicado em 1876 e firmado pelos srs. António Gomes Ramalho, agrónomo do distrito de Évora, Guilherme João Sá, intendente de pecuária em Elvas.
[…]
História do inseto
[…] Assim são estes insetos hoje bem conhecidos por toda a parte do mundo, não por particularidades notáveis que apresentem nos seus hábitos ou nas metamorfoses por que passam, mas sim pelos estragos e prejuízos que causam à agricultura nos países que invadem.
A eles se referem os anais de todos os povos, e já os escritores das mais remotas eras pintavam a negras cores as cenas de devastação e misérias ocasionadas pelo daninho inseto, cuja aparição era tida por eles como um milagre devido ao Divino Poder.
No capítulo X do Êxodo diz a Bíblia que Jeová querendo intimidar o Faraó, rebelde à sua vontade, ordenou a Moisés que fizesse cair sobre todo o Egipto uma praga de gafanhotos; então um vento soprou do Oriente transportou àquele país grande número de insetos que devastaram todos os campos até que outro vento do Ocidente os fez retirar depois de Faraó ter deixado partir o povo Israelita.
Plínio diz-nos também que em muitos países da antiga Grécia, uma lei obrigava o povo a perseguir os gafanhotos três vezes por ano, isto é, no estado de óvulo, no de recém-nascido e de inseto perfeito.
No ano de 170 antes da nossa era, os acrídios devastaram os arredores de Cápua.
Em 1811 depois de Jesus Cristo causaram prejuízos consideráveis no norte de Itália e de Gaula.
Em 1690 chegaram à Polónia e à Lituânia.
Em 1749 apareceram em tão grande quantidade que se diz ter impedido a marcha ao exército de Carlos XII da Suécia quando se retirava da Baixa Arábia.
Nesse mesmo ano, uma grande parte da Europa foi invadida por esse flagelo.
Em 1780 apareceram no império de Marrocos, onde causaram uma fome horrorosa, a ponto de a população andar errante em procura de raízes dos vegetais para seu alimento e lançar-se aos excrementos dos camelos para lhes aproveitar os grãos de cevada conservados!
Toda as superfície do solo, entre Tanger e Mogador, se cobriu de gafanhotos em 1839; um vento que então soprou os impeliu para o mar, e os seus cadáveres entrando em putrefação originaram uma peste que desolou a Barbária.
Nos anos de 1613, 1805, 1820, 1822, 1824, 1825, 1832, 1834 foram consideráveis os prejuízos ao meio dia da França.
Em 1845 uma invasão formidável atacou a Argélia, chegando depois de terem devorado todas as plantas verdes, a entrar nos silos em que os indígenas conservaram os seus grãos.
No nosso país citam-se como célebres as invasões de 1755, a de 1639, a de 1816, a de 1756 e finalmente a de 1876.
(Continua)
[…]
História do inseto
[…] Assim são estes insetos hoje bem conhecidos por toda a parte do mundo, não por particularidades notáveis que apresentem nos seus hábitos ou nas metamorfoses por que passam, mas sim pelos estragos e prejuízos que causam à agricultura nos países que invadem.
A eles se referem os anais de todos os povos, e já os escritores das mais remotas eras pintavam a negras cores as cenas de devastação e misérias ocasionadas pelo daninho inseto, cuja aparição era tida por eles como um milagre devido ao Divino Poder.
No capítulo X do Êxodo diz a Bíblia que Jeová querendo intimidar o Faraó, rebelde à sua vontade, ordenou a Moisés que fizesse cair sobre todo o Egipto uma praga de gafanhotos; então um vento soprou do Oriente transportou àquele país grande número de insetos que devastaram todos os campos até que outro vento do Ocidente os fez retirar depois de Faraó ter deixado partir o povo Israelita.
Plínio diz-nos também que em muitos países da antiga Grécia, uma lei obrigava o povo a perseguir os gafanhotos três vezes por ano, isto é, no estado de óvulo, no de recém-nascido e de inseto perfeito.
No ano de 170 antes da nossa era, os acrídios devastaram os arredores de Cápua.
Em 1811 depois de Jesus Cristo causaram prejuízos consideráveis no norte de Itália e de Gaula.
Em 1690 chegaram à Polónia e à Lituânia.
Em 1749 apareceram em tão grande quantidade que se diz ter impedido a marcha ao exército de Carlos XII da Suécia quando se retirava da Baixa Arábia.
Nesse mesmo ano, uma grande parte da Europa foi invadida por esse flagelo.
Em 1780 apareceram no império de Marrocos, onde causaram uma fome horrorosa, a ponto de a população andar errante em procura de raízes dos vegetais para seu alimento e lançar-se aos excrementos dos camelos para lhes aproveitar os grãos de cevada conservados!
Toda as superfície do solo, entre Tanger e Mogador, se cobriu de gafanhotos em 1839; um vento que então soprou os impeliu para o mar, e os seus cadáveres entrando em putrefação originaram uma peste que desolou a Barbária.
Nos anos de 1613, 1805, 1820, 1822, 1824, 1825, 1832, 1834 foram consideráveis os prejuízos ao meio dia da França.
Em 1845 uma invasão formidável atacou a Argélia, chegando depois de terem devorado todas as plantas verdes, a entrar nos silos em que os indígenas conservaram os seus grãos.
No nosso país citam-se como célebres as invasões de 1755, a de 1639, a de 1816, a de 1756 e finalmente a de 1876.
(Continua)
Ficheiros
Colecção
Citação
António Gomes Ramalho e Guilherme João Sá, “OS GAFANHOTOS”. In O Manuelinho de Évora, Ano XIX, nº 916, p. 2., 23-04-1899. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 6 de Dezembro de 2024, http://www.fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/1468.