O mal das laranjeiras

O mal das laranjeiras

S/autor

O Elvense, 20º Ano, nº 1984, p. 2.

15-02-1900

Leonardo Aboim Pires

Devido à obsequiedade de um amigo tivemos a surpresa de ler, no jornal francês L’Agriculture Moderne a seguinte notícia:
«Coleópteros protetores – da mesma maneira que se compreende atualmente que é indispensável auxiliar a multiplicação de aves destruidoras de insetos nocivos, assim também começa a cuidar-se nalguns países da introdução de alguns insetos que servem de auxiliares na devastação de outros pequenos animais que atacam as culturas – é assim que o dr. Howard, entomologista do ministério da agricultura dos Estados Unidos foi encarregado de enviar ao ministério da agricultura de Portugal uma coleção de exemplares pertencentes à espécie de coleópteros conhecida sob a designação de Novius cardinalis. Este inseto é originário da Austrália e foi introduzido na Califórnia há muitos anos na esperança de que destruiria um parasita que atacava as laranjeiras. O sucesso correspondeu à expetativa; e o governo português pediu que lhe fossem enviados alguns desses coleópteros a fim de os aclimatar e promover a sua multiplicação. Duas remessas sucessivas conseguiram fazer chegar vivos, àquele país onze exemplares, os quais se estão propagando ali com tal facilidade e rapidez que prometem um bom futuro.»
A grande importância desta notícia, pelo meio fácil e profícuo que faculta de combater o parasita que tanto danifica as nossas laranjeiras, merece a mais particular atenção, por isso que Portugal é um dos países que maior quantidade de laranjas produz e exporta.
Mas o que não tem explicação alguma é que seja preciso buscar nos jornais franceses ou doutro país estrangeiro notícias como esta, de tanta utilidade para o país e nas quais se faz referência a pedidos oficialmente feitos pela Direcção-Geral de agricultura do ministério das obras públicas, comércio e indústria.
Porque se não deu a devida publicidade a tão importante descoberta? Porque não se fez público que se ia proceder aos trabalhos de aclimatação e propagação dos coleópteros importados dos Estados Unidos da América? Dar-se-ia o caso de terem sido oferecidos a algum influente político os exemplares recebidos daquela proveniência?
Bom seria que se esclarecesse esse caso, para que os proprietários dos pomares de laranja pudessem alcançar o benefício resultante da cultura daquele inseto, que não pode ser apanágio único de algum dileto de sorte ou da política.
Pela parte que nos toca, agradecendo ao nosso respeitável amigo o favor da indicação da notícia que traduzimos acima, fazemos gostosamente o aviso a todos os nossos leitores de que há conhecimento oficial de um inseto que combate eficazmente o mal das laranjeiras.