Os gafanhotos
Dublin Core
Título
Os gafanhotos
Criador
António Gomes Ramalho e Guilherme João de Sá
Fonte
O Elvense, 19º Ano, nº 1899, p. 2.
Data
23-04-1899
Colaborador
Leonardo Aboim Pires
Text Item Type Metadata
Text
Por ser de atualidade, visto o aparecimento da terrível praga destes insetos no nosso concelho, ainda que felizmente, por agora sem carácter extremamente alarmante, copiamos dos Anais Agrícolas do Distrito de Portalegre o relatório apresentado à Direcção-Geral do Comércio e Indústria, em 1876, pelo agrónomo e intendente de pecuária deste distrito srs. António Gomes Ramalho e Guilherme João de Sá, por terem sido encarregues de estudar e propor medidas de extinção da praga de gafanhotos que naquele ano invadiu este concelho. […]
Ilmo. e ex.mo sr. – tendo sido encarregados pelo governo de sua majestade para providenciar contra a invasão dos gafanhotos no concelho de Elvas, vimos hoje dar conta a V. Ex.ª do encargo que nos foi cometido. […]
Em virtude de um telegrama de s. exª. o ministro das obras públicas, comércio e indústria, datado de 18 de Maio do corrente ano, que ordenava a nossa partida urgente para este concelho a fim de examinar a invasão de gafanhotos e obstar a sua propagação, aqui chegámos no dia imediato […] Coligidas todas as informações mais verosímeis acerca do aparecimento do inseto, e conhecida a necessidade de um pronto exame visual marchamos logo no dia 20 ao alvorecer em direção ao rio Guadiana, em cujas margens devia existir o núcleo do assolamento da agricultura local; e ainda não tínhamos caminhado sete kilómetros, já o inseto começava a exibir-se em bandos formidáveis, acumulando-se principalmente nas searas mais verdes, tenras e ubertosas.
Prosseguindo no nosso exame acompanhados por um dos lavradores mais prejudicados, o ilmo. sr. José Vicente de Abreu, não podemos subtrair-nos a patentear a nossa admiração ao vermos tão grande massa de gafanhotos invadindo tantos terrenos. […]
Convenientemente inteirados da intensidade do mal, e dos esforços já empregados para debelar, pedimos nos apanhassem uma porção de gafanhotos dentro de um saco, que trouxemos para o nosso domicílio nessa mesma tarde; e nos dias consecutivos depois de bem acondicionamos para não morrerem, procedemos a um certo número de experiências conducentes a descobrir um meio radical do seu extermínio. Os vapores de enxofre, de alcatrão, de cloro, a ação da cal viva, do arsénico, do hidroclorato de soda, o cloreto de ferro, do hipoclorito de cal e do deutocloreto de mercúrio, tudo foi baldado em presença da força viva do daninho inseto…!
No dia 23 do referido mês, em comum acordo com as autoridades administrativas deste município, deliberámos fazer-se constar por meio de um pregão e de editais fixados nos lugares mais públicos do concelho, que todas as pessoas que quisessem apanhar gafanhotos, a contar desta data e aos apresentassem no Rossio da Fonte Nova, próximo desta cidade, onde haviam de ser pesados e enterrados, lhes seriam pagos pela quanta de 20 réis cada kilograma […]
(continua)
Ilmo. e ex.mo sr. – tendo sido encarregados pelo governo de sua majestade para providenciar contra a invasão dos gafanhotos no concelho de Elvas, vimos hoje dar conta a V. Ex.ª do encargo que nos foi cometido. […]
Em virtude de um telegrama de s. exª. o ministro das obras públicas, comércio e indústria, datado de 18 de Maio do corrente ano, que ordenava a nossa partida urgente para este concelho a fim de examinar a invasão de gafanhotos e obstar a sua propagação, aqui chegámos no dia imediato […] Coligidas todas as informações mais verosímeis acerca do aparecimento do inseto, e conhecida a necessidade de um pronto exame visual marchamos logo no dia 20 ao alvorecer em direção ao rio Guadiana, em cujas margens devia existir o núcleo do assolamento da agricultura local; e ainda não tínhamos caminhado sete kilómetros, já o inseto começava a exibir-se em bandos formidáveis, acumulando-se principalmente nas searas mais verdes, tenras e ubertosas.
Prosseguindo no nosso exame acompanhados por um dos lavradores mais prejudicados, o ilmo. sr. José Vicente de Abreu, não podemos subtrair-nos a patentear a nossa admiração ao vermos tão grande massa de gafanhotos invadindo tantos terrenos. […]
Convenientemente inteirados da intensidade do mal, e dos esforços já empregados para debelar, pedimos nos apanhassem uma porção de gafanhotos dentro de um saco, que trouxemos para o nosso domicílio nessa mesma tarde; e nos dias consecutivos depois de bem acondicionamos para não morrerem, procedemos a um certo número de experiências conducentes a descobrir um meio radical do seu extermínio. Os vapores de enxofre, de alcatrão, de cloro, a ação da cal viva, do arsénico, do hidroclorato de soda, o cloreto de ferro, do hipoclorito de cal e do deutocloreto de mercúrio, tudo foi baldado em presença da força viva do daninho inseto…!
No dia 23 do referido mês, em comum acordo com as autoridades administrativas deste município, deliberámos fazer-se constar por meio de um pregão e de editais fixados nos lugares mais públicos do concelho, que todas as pessoas que quisessem apanhar gafanhotos, a contar desta data e aos apresentassem no Rossio da Fonte Nova, próximo desta cidade, onde haviam de ser pesados e enterrados, lhes seriam pagos pela quanta de 20 réis cada kilograma […]
(continua)
Ficheiros
Colecção
Citação
António Gomes Ramalho e Guilherme João de Sá, “Os gafanhotos”. In O Elvense, 19º Ano, nº 1899, p. 2., 23-04-1899. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 15 de Maio de 2024, http://www.fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/757.