Pragas nos Periódicos

Casos e coisas

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Título

Casos e coisas

Criador

S/autor

Fonte

O Elvense, 18º Ano, nº 1774, p. 2.

Data

10-02-1898

Colaborador

Leonardo Aboim Pires

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Num dos passados números do Elvense assinalámos neste mesmo lugar os serviços prestados à agricultura pelas seguintes espécies de aves:
O mocho, o corvo, o peto, o cuco, o estorninho, a cotovia, a carricinha, o rouxinol, a toutinegra, o chapim e a alvéloa.
Sobre o mesmo assunto encontrámos no Correio da Noite uma notícia em que além das citadas espécies se mencionam mais as seguintes, que por igual prestam serviços à agricultura:
A cegonha que se sustenta de repteis e batráquios.
A coruja, que além dos ratos que destrói, devora numerosos insetos noturnos.
A garça-real defende a espécie bovina das moscas e mosquitos parasitas.
A codorniz e a perdiz comem vermes brancos (rasca) e pequenos insetos.
O melro limpa os jardins de lesmas e caracóis.
O tordo engole por ano mais de um milhão de insetos nocivos.
A andorinha tem um estômago que pode absorver seguidamente uma média de quinhentos e quarenta insetos.
O chincharavelho serve diariamente aos filhos centenas de lagartas. Um casal destas prestimosas aves absorve por dia quinhentos ovos, larvas e corpos de insetos.
Um pisco fechado em uma casa apanha por dia seiscentas moscas.
O charco agarra no ar moscas e mosquitos, além disso limpa as vides da pyrale, e uma pyrale de menos são cento e quinze cachos salvos!
Vinte lavandiscas ou alvéolas limpam em um dia um celeiro de todo o gorgulho. Pode se calcular bem os serviços que nos prestam estas aves tão gentis, sabendo se cada gorgulho pode levar a destruição de noventa e dois grãos de trigo.
A notícia do Correio da Noite termina com as seguintes sensatas palavras:
«A estes assinalados benefícios respondem os rotineiros, os egoístas e os ignorantes, que em dados momentos, algumas das aves apontadas devoram tantos frutos e grãos como insetos.
Mas destruir um ser que de cada mil grãos que salva come um, é a mais fatal das faltas de cálculo, e o mais culpável ato de ingratidão.
Equivaleria a proibir que o ceifador se alimentasse de pão.»
Muito nos agrada ver que não somos só nós a pugnar pela proteção às aves, que sendo em geral úteis aos senhores agricultores, são também em geral perseguidas, umas vezes por ignorância, outras para satisfação dessa arte de caça, que a maioria dos homens exerce por mero passatempo, que não por necessidade.

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Citação

S/autor, “Casos e coisas”. In O Elvense, 18º Ano, nº 1774, p. 2.
, 10-02-1898. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 14 de Dezembro de 2024, http://www.fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/748.

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