SECÇÃO AGRÍCOLA.
O BLACK-ROT
Dublin Core
Título
SECÇÃO AGRÍCOLA.
O BLACK-ROT
O BLACK-ROT
Criador
António Batalha Reis
Fonte
Jornal de Penafiel, 12º Ano, nº 68, p. 2.
Data
24-06-1898
Colaborador
Leonardo Aboim Pires
Text Item Type Metadata
Text
No momento atual ocupa o «black-rot» todas as atenções dos viticultores.
É esse mal, terrível, que lhes absorve o pensamento, lhes faz sentir graves receios, lhes causa desânimos e pesadas dúvidas sobre o futuro das suas vinhas, que são a garantia dos seus haveres.
Para nós é ele felizmente ainda um fantasma apenas ameaçador, mas para os outros países acentua-se já o black-rot como uma realidade esmagadora e desesperada.
Em Portugal, que eu saiba, apareceu ele isoladamente, há anos na Beira Alta e no Ribatejo, com um carácter verdadeiramente esporádico, e felizmente não me consta que ultimamente ele tenha sido novamente encontrado.
Portugal tem tido a rara felicidade de receber a ingrata visita das epifitias muito depois delas terem prejudicado seriamente outros países.
Essa vantagem, que tem havido, de nos chegarem tardias as moléstias das vinhas contrabalança, com grande lucro, a desconsolação que possa haver em andarmos também sempre atrasados nas modas e usos elegantes. Este atraso, desde que se estenda até às desgraças, indemniza-nos, com verdadeiras e solidas riquezas, a quebra que a nossa vaidade poderá experimentar em não acompanhar, desde o começo, a forma que a moda tem inventado para os chapéus, ou talhe mais ou menos exagerado do resto do vestuário.
Deste modo, se tivéssemos o simples bom sendo de estudarmos, desde o princípio, nos males alheios a forma mais consentânea e própria de nos defendermos deles, muitos teríamos lucrado, e a nossa história acompanharia, em igualdade de desastres, os flagelos agrícolas que por vezes têm caído sobre as culturas.
Em viticultura, são exemplo triste do que acabo de avançar o oídio, o filoxera, a antracnose, o míldio, etc., etc.
Eu conheço muita gente que ainda não acredita que tenham existido, e existam entre nós, os males que acabo de mencionar, e não são poucos também os que continuam a guardar as suas vinhas das aplicações de enxofre, sulfato de ferro, de cobre e sulfareto de carbono; com o frívolo e improcedente pretexto de que esses remédios envenenam o vinho. […] Para avivar a memória dos interessados, vou descrever ligeiramente a forma de invasão do black-rot.
Denuncia-se especialmente esta moléstia por começar o seu ataque pelas folhas mais novas.
A aparência é de que pequenas manchas quási circulares, espalhadas na parte verde dos lóbulos e às vezes nas extremidades.
Quando a mancha se mostra mais estendida, representa esse desenvolvimento a junção de várias manchas. Estas manchas passam rapidamente a ter o aspeto seco e morto, sem darem tempo a verem-se as florescências brancas, que se notam no míldio vulgar, nem tão pouco poderem-se apreciar bem as mudanças detalhadas na cor, que se notam no míldio simples.
Como característico especial, as manchas acusam uns pequenos pontos negros, que representam outras tantas pústulas, companheiras inesperáveis desta doença, e que não se encontram no míldio simples.
(Continua)
É esse mal, terrível, que lhes absorve o pensamento, lhes faz sentir graves receios, lhes causa desânimos e pesadas dúvidas sobre o futuro das suas vinhas, que são a garantia dos seus haveres.
Para nós é ele felizmente ainda um fantasma apenas ameaçador, mas para os outros países acentua-se já o black-rot como uma realidade esmagadora e desesperada.
Em Portugal, que eu saiba, apareceu ele isoladamente, há anos na Beira Alta e no Ribatejo, com um carácter verdadeiramente esporádico, e felizmente não me consta que ultimamente ele tenha sido novamente encontrado.
Portugal tem tido a rara felicidade de receber a ingrata visita das epifitias muito depois delas terem prejudicado seriamente outros países.
Essa vantagem, que tem havido, de nos chegarem tardias as moléstias das vinhas contrabalança, com grande lucro, a desconsolação que possa haver em andarmos também sempre atrasados nas modas e usos elegantes. Este atraso, desde que se estenda até às desgraças, indemniza-nos, com verdadeiras e solidas riquezas, a quebra que a nossa vaidade poderá experimentar em não acompanhar, desde o começo, a forma que a moda tem inventado para os chapéus, ou talhe mais ou menos exagerado do resto do vestuário.
Deste modo, se tivéssemos o simples bom sendo de estudarmos, desde o princípio, nos males alheios a forma mais consentânea e própria de nos defendermos deles, muitos teríamos lucrado, e a nossa história acompanharia, em igualdade de desastres, os flagelos agrícolas que por vezes têm caído sobre as culturas.
Em viticultura, são exemplo triste do que acabo de avançar o oídio, o filoxera, a antracnose, o míldio, etc., etc.
Eu conheço muita gente que ainda não acredita que tenham existido, e existam entre nós, os males que acabo de mencionar, e não são poucos também os que continuam a guardar as suas vinhas das aplicações de enxofre, sulfato de ferro, de cobre e sulfareto de carbono; com o frívolo e improcedente pretexto de que esses remédios envenenam o vinho. […] Para avivar a memória dos interessados, vou descrever ligeiramente a forma de invasão do black-rot.
Denuncia-se especialmente esta moléstia por começar o seu ataque pelas folhas mais novas.
A aparência é de que pequenas manchas quási circulares, espalhadas na parte verde dos lóbulos e às vezes nas extremidades.
Quando a mancha se mostra mais estendida, representa esse desenvolvimento a junção de várias manchas. Estas manchas passam rapidamente a ter o aspeto seco e morto, sem darem tempo a verem-se as florescências brancas, que se notam no míldio vulgar, nem tão pouco poderem-se apreciar bem as mudanças detalhadas na cor, que se notam no míldio simples.
Como característico especial, as manchas acusam uns pequenos pontos negros, que representam outras tantas pústulas, companheiras inesperáveis desta doença, e que não se encontram no míldio simples.
(Continua)
Ficheiros
Colecção
Citação
António Batalha Reis, “SECÇÃO AGRÍCOLA.
O BLACK-ROT”. In Jornal de Penafiel, 12º Ano, nº 68, p. 2., 24-06-1898. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 15 de Outubro de 2024, http://www.fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/523.
O BLACK-ROT”. In Jornal de Penafiel, 12º Ano, nº 68, p. 2., 24-06-1898. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 15 de Outubro de 2024, http://www.fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/523.