GAFANHOTOS II
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Título
GAFANHOTOS II
Criador
S/ autor
Fonte
O Jornal de Cantanhede, n.º 635, pág. 2, col. 3,4
Data
17-08-1901
Colaborador
Pedro Barros
Text Item Type Metadata
Text
Vamos completar as curiosas notícias sobre este insecto, que encetámos no n.º 5.598. Como vimos a invasão dos gafanhotos é origem da fome, pela devastação das searas e frutos pendentes, e da peste, derivada da enorme quantidade de cadáveres que ficam nos locais, onde os gafanhotos são exterminados. Já a Bíblia denominava a sua invasão como uma das sete pragas do Egipto.
Na Grécia, na Espanha e na França, há ordenanças antiquíssimas para se combater estes temíveis herbívoros.
Em 1613 a Provença sofreu tanto com a invasão dos gafanhotos, que só Marselha e Arles despenderam 50.000 francos na campanha contra eles, soma fabulosa em relação à época em que foi gasta. A história apresenta os anos de 1723, 1748. 1749 e 1780 no século XVIII, como sendo aqueles em que os gafanhotos fizeram maiores estragos na Europa. Em 1748 a sua principal acção destruidora foi na Inglaterra; e em 1749, na Suécia, onde chegaram a afrontar os próprios gelos.
Em 1804 foram horrorosos os resultados dos estragos dos gafanhotos em toda a Espanha. Viu-se então obrigado o governo da nação vizinha a promulgar leis severas para o seu extermínio, que vieram a cair em desuso em 1850, em consequência de serem verdadeiramente atentatórias do direito de propriedade. Este país quase anualmente sustenta sérias e dispendiosas campanhas contra os gafanhotos. Em 1835 deu-se numa província da China um quase eclipse do sol e da lua originado por uma nuvem de gafanhotos. Nessa ocasião foi tamanho o número dos invasores, e tão, assombrosa a sua voracidade, que foram consumidas as colheitas em pé, as armazenadas nos celeiros, e até chegaram a ser destruídos os próprios vestuários dos chins. O pânico foi tão grande que as populações fugiam aterradas para os montes.
Em 1864 foram destruídas pelos gafanhotos as plantações de algodão do Senegal, aparecendo aí nuvens: deles com mais de 15 léguas de comprido.
Argel sofreu em 1866 prejuízos-de mais de 50.000.000 de francos e nessa colónia morreram de fome em 1867 mais de 200.000 pessoas. Na Arábia e em Argel o gafanhoto faz parte da alimentação pública. Os homens comilões e apreciadores dos gafanhotos denominam-se acridófagos. A mais antiga referência ao pitéu, de gafanhotos, é do tempo de Moisés, que facultava aos hebreus o alimentarem-se com quatro espécies.
Segundo S. Matheus, consistia este insecto a única iguaria que sustentou S. João Baptista, no deserto. Em Argel comem-nos muito naturalmente secos, e são apregoados pelas ruas sob a designação de Djerad el arbi, (gafanhoto árabe) como em Coimbra se diria: Sardinha fresca, oh cachopas!
(Do Conimbricense)
Na Grécia, na Espanha e na França, há ordenanças antiquíssimas para se combater estes temíveis herbívoros.
Em 1613 a Provença sofreu tanto com a invasão dos gafanhotos, que só Marselha e Arles despenderam 50.000 francos na campanha contra eles, soma fabulosa em relação à época em que foi gasta. A história apresenta os anos de 1723, 1748. 1749 e 1780 no século XVIII, como sendo aqueles em que os gafanhotos fizeram maiores estragos na Europa. Em 1748 a sua principal acção destruidora foi na Inglaterra; e em 1749, na Suécia, onde chegaram a afrontar os próprios gelos.
Em 1804 foram horrorosos os resultados dos estragos dos gafanhotos em toda a Espanha. Viu-se então obrigado o governo da nação vizinha a promulgar leis severas para o seu extermínio, que vieram a cair em desuso em 1850, em consequência de serem verdadeiramente atentatórias do direito de propriedade. Este país quase anualmente sustenta sérias e dispendiosas campanhas contra os gafanhotos. Em 1835 deu-se numa província da China um quase eclipse do sol e da lua originado por uma nuvem de gafanhotos. Nessa ocasião foi tamanho o número dos invasores, e tão, assombrosa a sua voracidade, que foram consumidas as colheitas em pé, as armazenadas nos celeiros, e até chegaram a ser destruídos os próprios vestuários dos chins. O pânico foi tão grande que as populações fugiam aterradas para os montes.
Em 1864 foram destruídas pelos gafanhotos as plantações de algodão do Senegal, aparecendo aí nuvens: deles com mais de 15 léguas de comprido.
Argel sofreu em 1866 prejuízos-de mais de 50.000.000 de francos e nessa colónia morreram de fome em 1867 mais de 200.000 pessoas. Na Arábia e em Argel o gafanhoto faz parte da alimentação pública. Os homens comilões e apreciadores dos gafanhotos denominam-se acridófagos. A mais antiga referência ao pitéu, de gafanhotos, é do tempo de Moisés, que facultava aos hebreus o alimentarem-se com quatro espécies.
Segundo S. Matheus, consistia este insecto a única iguaria que sustentou S. João Baptista, no deserto. Em Argel comem-nos muito naturalmente secos, e são apregoados pelas ruas sob a designação de Djerad el arbi, (gafanhoto árabe) como em Coimbra se diria: Sardinha fresca, oh cachopas!
(Do Conimbricense)
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Colecção
Citação
S/ autor, “GAFANHOTOS II”. In O Jornal de Cantanhede, n.º 635, pág. 2, col. 3,4 , 17-08-1901. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 14 de Outubro de 2024, http://www.fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/461.