Correspondência
Dublin Core
Título
Correspondência
Criador
Thomaz Hickling
Fonte
O Agricultor Micaelense, vol. 1, nº 6, pp. 83-84
Data
20-03-1844
Colaborador
Leonardo Aboim Pires
Text Item Type Metadata
Text
Continuação do Artigo 67
A estas causas devem também atribuir-se as enfermidades nas árvores de todas as espécies. Todas as frutas, com poucas exceções, logo que amadurecem, são contaminadas por bichos. Não há muito que temos experimentado uma mudança notável na duração de árvores de espinho, sendo notabilíssimo, em vez de progresso, o seu atrasamento.
Estes e talvez outros danos são os resultados da nossa minguada compreensão. Queremos desafiar as leis constantes e imudáveis da Providência, que tudo pôs em desequilíbrio […]
O que tenho dito desta Ilha de S. Miguel, e também da do Faial, é aplicável a quási todas as do Arquipélago Açoriano.
Classifiquemos ora, e graduemos as causas produtivas dos prejuízos agrícolas na Ilha de S. Miguel.
Como principal de todas vem em primeiro lugar.
1º O Homem. O homem indiscreto e imprevisto arranca e corta, sem replantar, nem ressemear, o vegetal arbóreo; o homem abusa das vantagens, que lhe outorgou a Providência, deixando inculta mais de metade da Ilha. Vem depois
2º A Alforra; sendo tão extenso o dano por ela produzido em alguns anos, que não pode reduzir-se a cálculo, sabendo-se unicamente que ameaça a ruína total da mesma Ilha. E o pior é que se ignora o remédio para o curativo de tão grande mal. Então aparece
3º A Seca; produz esta um prejuízo igual ao imediatamente superior, o qual poderia evitar-se, quando fosse geral a cultura do arvoredo, no que até as Câmaras ganharão, sendo menores as despesas com as águas – Em quatro lugar comemoramos
4º As Chuvas, que sendo às vezes excessivas, são tão destrutivas, que fazem grelar nas eiras avultadas quantias de moios de grão, inutilizarem-se as frutas desde a apanhação nas quintas até ao embarque; inconvenientes, que poderão evitar-se, construindo-se telheiros junto às eiras, assim como casas nas mesmas quintas.
5º Os Ventos. Estes meteoros fazem estragos incomputáveis, os quais podem remover-se co a plantação de abrigos. De facto as fazendas abrigadas sofrem menos.
6º O Rocio, ou espuma do mar! Todavia menor seria o prejuízo, se mais altos fossem os muros. Estou intimamente persuadido que de ótima qualidade seria a laranja, se nos outeiros, ou picos das imediações desta Cidade se plantassem, e cultivassem Laranjais, pela razoa muito palpável de haverem de ser mais arejadas as laranjeiras, e mais livres dos arques dos formidáveis insetos.
7º Os Bichos, Estes incessantemente roem os produtos das terras desde o semear até ao colher, e até mesmo nos granéis. O Piolho Aphis ou Aphides (Ordem Hemíptera de Lineu, Plant lice) Piolho da Planta (Blighter) Alforeira: na Enciclopédia de Rees há uma descrição cumprida dos seus hábitos) do qual, desde que me entendo, sempre ouvi falar nesta Ilha, e de cuja ação sofrerão algumas quintas, há anos; é mais comum, do que geralmente se pensa. Quem quiser convencer-se da minha asserção da minha asserção, basta que aplique o microscópio a qualquer fruta ou folha de laranjeira, ou de outras árvores que veja manchada de salpicos. – Ora ninguém até ao presente (que eu saiba) tentou exterminar os Morcegos, por que, sobre imprudência, seria ingratidão destruir os animais, que de borboletas se nutrem; de borboletas, que nos estragam nossos trigos! E será prudência, será gratidão votar ao extermínio os inocentes passarinhos, único e natural antídoto dos terríveis insetos?
8º Os Ratos; eis-aqui também a verdadeira praga devastadora, assim nos campos, comos nos granéis! Conferi prémios aos caçadores de ratos, e seria geralmente abençoados!
9º A ignorância – Desperdiça as sementes; não desfruta oportunamente; e deixa afogarem-se as plantas nas terras com as ervas ruins. Este prejuízo é dez vezes maior, do que o proveniente dos pássaros.
10º Os Pássaros (de todos os flagelos o menor) – Não nego que os pássaros comem algum grão, e derrubam a flor e fruta das plantas, arrancando as que vão nascendo, com o que vexam o lavrador. O que não admito é a impropriedade de eleger um mal maior para evitar um menor […]
A estas causas devem também atribuir-se as enfermidades nas árvores de todas as espécies. Todas as frutas, com poucas exceções, logo que amadurecem, são contaminadas por bichos. Não há muito que temos experimentado uma mudança notável na duração de árvores de espinho, sendo notabilíssimo, em vez de progresso, o seu atrasamento.
Estes e talvez outros danos são os resultados da nossa minguada compreensão. Queremos desafiar as leis constantes e imudáveis da Providência, que tudo pôs em desequilíbrio […]
O que tenho dito desta Ilha de S. Miguel, e também da do Faial, é aplicável a quási todas as do Arquipélago Açoriano.
Classifiquemos ora, e graduemos as causas produtivas dos prejuízos agrícolas na Ilha de S. Miguel.
Como principal de todas vem em primeiro lugar.
1º O Homem. O homem indiscreto e imprevisto arranca e corta, sem replantar, nem ressemear, o vegetal arbóreo; o homem abusa das vantagens, que lhe outorgou a Providência, deixando inculta mais de metade da Ilha. Vem depois
2º A Alforra; sendo tão extenso o dano por ela produzido em alguns anos, que não pode reduzir-se a cálculo, sabendo-se unicamente que ameaça a ruína total da mesma Ilha. E o pior é que se ignora o remédio para o curativo de tão grande mal. Então aparece
3º A Seca; produz esta um prejuízo igual ao imediatamente superior, o qual poderia evitar-se, quando fosse geral a cultura do arvoredo, no que até as Câmaras ganharão, sendo menores as despesas com as águas – Em quatro lugar comemoramos
4º As Chuvas, que sendo às vezes excessivas, são tão destrutivas, que fazem grelar nas eiras avultadas quantias de moios de grão, inutilizarem-se as frutas desde a apanhação nas quintas até ao embarque; inconvenientes, que poderão evitar-se, construindo-se telheiros junto às eiras, assim como casas nas mesmas quintas.
5º Os Ventos. Estes meteoros fazem estragos incomputáveis, os quais podem remover-se co a plantação de abrigos. De facto as fazendas abrigadas sofrem menos.
6º O Rocio, ou espuma do mar! Todavia menor seria o prejuízo, se mais altos fossem os muros. Estou intimamente persuadido que de ótima qualidade seria a laranja, se nos outeiros, ou picos das imediações desta Cidade se plantassem, e cultivassem Laranjais, pela razoa muito palpável de haverem de ser mais arejadas as laranjeiras, e mais livres dos arques dos formidáveis insetos.
7º Os Bichos, Estes incessantemente roem os produtos das terras desde o semear até ao colher, e até mesmo nos granéis. O Piolho Aphis ou Aphides (Ordem Hemíptera de Lineu, Plant lice) Piolho da Planta (Blighter) Alforeira: na Enciclopédia de Rees há uma descrição cumprida dos seus hábitos) do qual, desde que me entendo, sempre ouvi falar nesta Ilha, e de cuja ação sofrerão algumas quintas, há anos; é mais comum, do que geralmente se pensa. Quem quiser convencer-se da minha asserção da minha asserção, basta que aplique o microscópio a qualquer fruta ou folha de laranjeira, ou de outras árvores que veja manchada de salpicos. – Ora ninguém até ao presente (que eu saiba) tentou exterminar os Morcegos, por que, sobre imprudência, seria ingratidão destruir os animais, que de borboletas se nutrem; de borboletas, que nos estragam nossos trigos! E será prudência, será gratidão votar ao extermínio os inocentes passarinhos, único e natural antídoto dos terríveis insetos?
8º Os Ratos; eis-aqui também a verdadeira praga devastadora, assim nos campos, comos nos granéis! Conferi prémios aos caçadores de ratos, e seria geralmente abençoados!
9º A ignorância – Desperdiça as sementes; não desfruta oportunamente; e deixa afogarem-se as plantas nas terras com as ervas ruins. Este prejuízo é dez vezes maior, do que o proveniente dos pássaros.
10º Os Pássaros (de todos os flagelos o menor) – Não nego que os pássaros comem algum grão, e derrubam a flor e fruta das plantas, arrancando as que vão nascendo, com o que vexam o lavrador. O que não admito é a impropriedade de eleger um mal maior para evitar um menor […]
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Colecção
Citação
Thomaz Hickling, “Correspondência”. In O Agricultor Micaelense, vol. 1, nº 6, pp. 83-84, 20-03-1844. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 12 de Outubro de 2024, http://www.fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/152.