Pragas nos Periódicos

Moléstia das vinhas pelo Conde de Samudães

Dublin Core

Título

Moléstia das vinhas pelo Conde de Samudães

Criador

Conde de Samudães

Fonte

O Incentivo, p. 1

Data

18-04-1857

Colaborador

Ana Isabel Queiroz

Text Item Type Metadata

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Agora que a novidade de 1856 está colhida. E que um terrível desengano veio ferir todas as esperanças, reduzido à mais lacerante miséria um país outrora opulento e venturoso, diremos alguma coisa ainda sobre a moléstia vinícola e sobre os meios de curá-la.
Os progressos do mal este ano foram ainda mais espantosos do que no ano de 1855; neste último ano ainda haviam sido poupados os vinhedos de leste do Douro, colhendo ainda abundantes novidades alguns proprietários; mas a moléstia de 1856 veio acabar com o desigualíssimo privilégio que eles estavam fruindo havia dois ou três anos.
O flagelo chegou a todos e é provável que nos anos futuros ele se demore ainda nesses terrenos, que até agora haviam sido poupados. O que parece incontestável é que entre nós o mal corre de poente para o leste, porque o facto é que ainda há muitas vinhas próximas da raia de Espanha que ainda este ano não foram atacadas. Em 1853 manifestou-se a epidemia no baixo baixo Corgo; em 1856 invadiu já até o Tedo; em 1855 chegou ao Pinhão, e em 1856 já subiu até além da quinta das Figueiras. Este ano ainda houve muito vinho para Almendra e circunvizinhanças, - indo da Barca d’ Alva para Espanha nos vastos vinhedos situados entre o Rio Águeda e Salamanca, incluindo os da serra da Gata, ainda se não conhece o terrível criptogama; por isso os vinhos estão lé por preços baixos, e as água ardentes baratíssimas; e os especuladores estão exercendo por aquela raia, e pela de Trás-os-Montes um contrabando extenso, que vai criar e aumentar muitas fortunas.
Nessa marcha devastadora de flagelo no seguinte de poente para avante sem deixar os terrenos que primeiro sentiram seus vigores; nestes ele só se esforça em tornar-se cada vez mais predominante.
Pondo de lado certos caprichos da moléstia, no que ela é semelhante a todas as epidemias, nota-se que à maneira que ela aumenta na vinha torna-se a oliveira mais sadia, e mais abundantes os seus frutos. As condições climatéricas próprias para a vegetação da oliveira parecem estar na razão inversa daquelas que convêm à vinha. E este facto constante que havemos notado, e que é tanto mais sensível quanto agora os olivais aparecem carregados todos os anos, o que é muito raro nesta árvore.Quando as vinhas caíam sob o peso dos cachos, apresentavam-se negras e estéreis as oliveiras, agora que as oliveiras vergam com azeitonas, vemos manchadas, queimadas ou esterilizadas as videiras.

Assim como sempre se tem indicado diferentes remédios para os oliveiras, também agora aparecem os inventos em favor da vinha, e cada um daqueles que numa pequena latada aplicou um meio qualquer, e dele tirou algum resultado julgo ter encontrado o aparecido elixir. Há dias vimos num jornal de Ponta Delgada , indicado pelo sr. Domingos Monteiro Torres, o uso de água de alcatrão; este meio é considerado pelo autor como infalível e neste sentido entoa louvores a Deus em elevadas meditações religipanas. Muito louvável é certamente o empenho que tomou este agricultor em propagar pela imprensa a descoberta que fez: contudo apesar de reconhecimento que todos lhe devemos pela maneira cavalheira como inculca a sua descoberta notamos que as experiências limitaram a tão pouco, que sem que novos factos nos provém a eficácia do medicamento, apenas o consideramos como uma nova tentativa, muito aproveitável de certo, mas a que não podemos dar inteira fé, não porque o autor não diga a verdade, mas porque não teve ocasião de apreciar em toda a extensão necessária os efeitos do remédio.
Contudo desde já protestamos que o vamos tentar em alguns bocados de vinha, e muito estimaremos que os nossos colegas agricultores o usem também; e como é possível que a muitos não chegasse a notícia do remédio aludido, aqui diremos em resumo como se deve fazer. – Lançam-se numa dorna quatro onças d’ alcatrão líquido, untando as paredes da vasilha, e depois lança-se água fresca da fonte dentro da mesma; agita-se a água com a vassoura, fazendo-a passar sobre o alcatrão a fim deste só transmitir à água, que deve ser batida até fazer espuma: tira-se depois a água assim alcatroada para baldes, que se levam para a vinha; quando a vide é podada, imediatamente depois o operário pega num pincel grosso, e com ele esfrega o tronco da cepa, que deste modo fica embebida no líquido insecticida, que vai atrofiar os germens da moléstia, que esperam os calores vernais para desenvolver-se. S por ventura o oidium ainda vem a desenvolver-se, torna-se necessário aspergir os cachos e folhagem afetada com a mesma água alcatroada, que, como se vê, é a coisa mais barata possível, porque ainda depois se pode lançar mais água sobre o primeiro alcatrão, sem o renovar.
E agora uma excelente ocasião de tentar este remédio, porque as podas estão a principiar, ou em andamento, e por isso não se deve perder o ensejo.
Entre os meios profiláticos, que tenham em seu favor uma larga experiência, parece-nos que a flor de enxofre é o único que se pode aplicar em segurança de (…continua…)

Ficheiros

Colecção

Citação

Conde de Samudães, “Moléstia das vinhas pelo Conde de Samudães”. In O Incentivo, p. 1, 18-04-1857. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 16 de Maio de 2024, http://www.fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/15.