Pragas nos Periódicos

Crónica Agrícola

Dublin Core

Título

Crónica Agrícola

Criador

J.J. d'Azevedo Junior

Fonte

O Fayalense, nº11, p.2

Data

9-10-1859

Colaborador

Ana Isabel Queiroz

Text Item Type Metadata

Text

(...)
A bobrytis infestans parasita criptogâmica, que destrói a batata, provém na opinião do sr. Payen da atmosfera, atacando principalmente os sítios em que a acidez do terreno não é neutralizada pelos alcalis já esgotados por outras culturas. É sabido que a acidez do solo é propícia ao desenvolvimento da vegetação criptogâmica, e baseado nesta opinião o sr. Gourey aprova o uso de cal peneirada por cima dos ramos e folhas das batateiras um mês antes da época em que se manifesta a moléstia, que geralmente é dois meses depois da sementeira, quando tem lugar o desenvolvimento do tubérculo ou batata, e em que a rama começa a enfraquecer, porque toda a seiva elaborada se incumbe da alimentação dos tubérculos. E é talvez esta a razão porque a moléstia só ataca a batateira na época própria da granação, para usar a expressão vulgar.
Segundo afirma o sr. Gourey por observação feita nas suas numerosas viagens este remédio é o único eficaz.
Na opinião do sr, Lapa, mui distinto professor do Instituto Agrícola, o oidium é talvez devido também ao esgotamento não reparado da potassa, um dos princípios assimiláveis da vinha e em maior quantidade; ora partindo desta ideia o sr. Lapa recomenda que sendo conveniente para reparar o esgoto do solo causado pelabatta queimar-se ou enterrar-se a rama, que igualmente convém reduzir as podas da vinha a cinza e aplicá-la no terreno como adubo, ou na videira como antídoto do oidium, o que pode facilmente fazer com o regador e a cinza em cenrada.
Seja ou não devido o oidium à falta de potassa. Alcali muito simpático da vinha, é na verdade incontroverso, que especialmente entre nós a debilidade da vinha, cansada pelo esgoto da potassa se não é a causa eficiente do oidium, concorre muito para o seu desenvolvimento, e para que este parasita a definhe mais depressa, por que é sabido que na ilha do Pico tiram-se as podas e as mondas das vinhas desde tempos memorizáveis sem nunca até hoje se corrigir ou adubar o solo, que geralmente é pedregoso e cheio de lagedo, e por consequência muito fraco. Já este verão aconselhei a alguns proprietários e amigos que queimassem as ondas e as podas das suas vinhas, e espalhassem as cinzas pelo solo por ser este o melhor adubo para as vinhas. Já este verão comprei alguns moios de cinza, que debaixo da minha direcção e vista foi espalhada num pomar, e o sr. Manuel Maria da Terra Brum, como proprietário inteligente, de muito gosto e amante do progresso agrícola, ordenou também ao seu feitor o uso da cinza.
O sr. Lapa aconselha o uso da cinza como antídoto do oidio, baseado nos bons resultados obtidos em Toulon com o seguinte pó, cuja eficácia o sr. Lapa atribui às propriedades alcalinas, É composto o pó de 3 partes de sal de cozinha e 1 de pólvora da mina, moí-se tudo bem e deita-se com um peneiro sobre a vinha no começo da moléstia. Também há outra receita do sr. Alceati recomendada por sua eficácia, a saber: 3 pacotes de sabão, 3 de farinha desfeito tudo em 50 partes de água quente.
Não é mais que uma dissolução alcalina, que equivale à cenrada da cinza das vides, ou mesmo de madeira.
A natureza acaba de confiar ao homem um segredo que é não menos que uma maravilha do século das luzes! Maravilha que importa a salubridade publica, a higiene doméstica e um aumento espantoso na riqueza agrícola. Le monde marche, como o escreveu a mágica e sublime pena do simpático E. Pelletan . Eis o facto: o sr. Corne acaba de imortalizar-se com a descoberta o primeiro desinfectante do mundo que é um pó que tem a propriedade de neutralizar o cheiro insalubre e desagradável do excremento humano (…)
Vê-se pois que assegura um bom lucro a quem o importar de Lisboa para a nossa ilha.
O guano de peixe da fábrica da Trafaria vai ficando desacreditado por não corresponder aos resultados esperados, e por causa disto na opinião do sr, Lapa provêm da grande quantidade de ácido sulfúrico livre que ele contém. É de crer que em breve este defeito seja corrigido, pois não é pequeno.
A lágrima continua a perseguir as laranjeiras e principalmente os limoeiros a ponto de destruí-los. As laranjeiras salvam-se havendo vigilância e percorrendo-as mensalmente como tem feito o sr. Terra na sua grande quinta, e as laranjeiras estão muito bonitas, como há pouco observei visitando aquela propriedade cultivada com muito gosto. Apenas aparece a lágrima, é logo posta a ferida no são, e a laranjeira continua na sua vegetação normal.
Como estou convencido que a lágrima é devida à acidez do terreno, que é impossível deixar de havê-la aonde se encontram constantemente as parasitas criptogâmicas no tronco das árvores e no solo debaixo delas, e como os alcalis neutralizam a acidez é provável que (…) formar-se a úlcera originada até então pela seiva acumulada debaixo da casca até esta se gretar.
A lágrima pode também ser originada de contusões praticadas na casca no acto de transplantação. Ou mesmo depois por qualquer instrumento agrícola; pode também provir da aplicação no solo de estrumes em fermentação ou não curtidos na expressão vulgar.
Na quinta do sr. Manuel José Bettencourt encontrei a lágrima num limoeiro enxertado em laranjeira abaixo de uma fenda originada pelo peso de um grande número de limões que ele continha; estou convencido que se a fenda fosse preservada do contacto com o ar não se manifestaria a lágrima.
Os cereais estão baratos e os milhos serôdios prometem uma boa colheita em consequência do tempo que lhe tem sido favorável

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Colecção

Citação

J.J. d'Azevedo Junior, “Crónica Agrícola”. In O Fayalense, nº11, p.2, 9-10-1859. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 2 de Novembro de 2024, http://www.fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/13.

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