Francisco Pinto Balsemão (1937-2025)
22 de Outubro de 2025, 11:44
É com profundo pesar que a NOVA FCSH lamenta o falecimento de Francisco Pinto Balsemão, figura incontornável do jornalismo, dos media e da democracia portuguesa.
Francisco Pinto Balsemão foi Presidente do Conselho de Faculdade da NOVA FCSH e professor associado convidado do Departamento de Ciências da Comunicação e manteve ao longo da sua vida uma relação próxima com a Faculdade e com a Universidade, às quais dedicou o seu empenho e a sua visão sobre a importância da liberdade de imprensa e da ética jornalística para o fortalecimento da democracia. Em 2010, por proposta da NOVA FCSH, recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade NOVA de Lisboa, distinção que reconheceu a sua ação “profundamente transformadora” no panorama dos media portugueses e o papel determinante que desempenhou no estabelecimento e consolidação da democracia no país.
Jornalista, fundador do semanário Expresso, empresário e antigo Primeiro-Ministro de Portugal, Pinto Balsemão foi um exemplo de compromisso com o serviço público e com o direito dos cidadãos à informação livre, plural e independente. A sua ação transformadora no panorama da comunicação social foi central no desenvolvimento de uma sociedade mais informada e plural. As sentidas homenagens que hoje o país lhe presta destacam aspetos da sua carreira empresarial, que incluiu a fundação do jornal Expresso em 1973, do jornal Blitz em 1984, da estação de televisão SIC em 1992 e da SIC Notícias em 2000, bem como da sua vida política enquanto deputado, dirigente do PSD do qual foi o militante número 1 e fundador em 1974, Ministro e Primeiro-Ministro (em períodos intercalados, entre 1980 e 1983).
Francisco Pinto Balsemão foi também jornalista (era o orgulhoso possuidor da carteira profissional nº 18), professor universitário e um homem de cultura envolvido na discussão sobre os media a nível global. Além de um inovador de formatos e linguagens, foi um agregador de esforços no sentido de salvar o jornalismo de qualidade e independente ao serviço da democracia.
Tinha uma vasta experiência internacional, conquistada através da sua infindável rede de contatos e à coordenação de inúmeras associações e fóruns de grande relevo sobre os media, que partilhou generosamente com os alunos da unidade curricular que lecionou no Departamento de Ciências da Comunicação da NOVA FCSH entre 1987 e 2002: A Mutação dos Media nos Países Desenvolvidos e as suas Consequências para Portugal.
Os alunos recordam como as aulas revelavam um conhecimento do mundo transmitido em alta velocidade, imenso rigor, detalhe quase obsessivo e uma clareza que não perturbava a complexidade dos assuntos. Não tolerava atrasos e repreendia os que se atreviam a entrar na sala depois da hora. Nos intervalos, era cordial, emprestava livros, interessava-se pelas ideias dos estudantes, bebia um café e comia um pastel de nata trazido pelo motorista. Chegou a pagar almoços a turmas inteiras de Ciências da Comunicação no final do semestre e convidou vários ex-alunos para trabalharem nos meios que dirigia. Todos lhe reconhecem um enorme respeito pela autonomia editorial, sem nunca interferir em conteúdos jornalísticos, mesmo aqueles que o atingiam diretamente ou a pessoas próximas.
Foi Presidente do Conselho de Faculdade da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da NOVA entre 2009 e 2018, e João Costa, antigo Diretor, recorda-o nessa qualidade: “A NOVA FCSH tem o enorme privilégio de poder dizer que teve o Dr. Francisco Pinto Balsemão entre os seus. Recordo, com saudade, como pude contar com a sua cooperação exigente e entusiasmada enquanto foi Presidente do Conselho de Faculdade. Dedicou-nos o seu tempo e atenção. Quis saber como estávamos e como nos podia ajudar, oferecendo, por exemplo, muitas oportunidades a alunos que iniciavam o seu percurso profissional. Lembro, sobretudo, como dirigia as reuniões, com rigor e muito humor, tornando os nossos dias mais fáceis. A palavra liberdade fez sempre parte da sua vida, também na forma como ajudou a Faculdade a crescer. Do trabalho nasceu uma boa amizade e cumplicidade e, por isso, este é um dia triste.”
Em 2014, Francisco Pinto Balsemão abriu os trabalhos do V Seminário Internacional do, já extinto, Centro de Investigação Media e Jornalismo, com palavras proféticas sobre a relação entre media e democracia na era digital: “Afetada pela supremacia da segurança, enfraquecida por novos poderes globalitários, paralisada pela falta de vontade de mudança dos conservadores de todas as cores que ocupam o poder político, a democracia precisa de incorporar as novas modalidades de representação que vão sendo criadas. Para que essa absorção se processe em tempo útil, a existência de jornalismo livre, independente e de qualidade é indispensável (…) Para isso, o Estado e as instituições da sociedade civil têm de estar ativamente empenhadas. E a mentalidade dos puristas da Net terá de mudar. A alternativa é entregarmos tudo a uma NSA que, para bem da nossa segurança, nos dirá o que podemos ler, ver escrever e dizer. Por mim, não aceito esta alternativa.”
Obrigada, Doutor Francisco Pinto Balsemão.
A NOVA FCSH endereça à família, amigos e colegas os seus mais sentidos pêsames neste momento de profunda perda.