Cólera

Causada pelo vibrião colérico, é transmitida por via fecal-oral e associada a contextos de extrema pobreza, a ambientes insalubres e à falta de água potável. Ao atacar o intestino delgado, provoca diarreia, febre e vómitos, potenciando crises de desidratação que, em situações limite, podem levar à morte. Referenciada na Europa desde o século XII, a primeira grande vaga epidémica remonta a 1817, na sequência da intensificação das relações entre a Europa e a Ásia. De acordo com a OMS, a cólera afeta entre 1,4 a 4,3 milhões de pessoas por ano, com valores de morbidade entre os 28 e os 142 mil. Um dos surtos mais recentes ocorreu no Haiti, após o terramoto de 2010.

Com origem no rio Ganges, a primeira epidemia chegou a Portugal em 1833, trazida por soldados estrangeiros que vieram apoiar as forças liberais na guerra civil portuguesa (1832-1834). Expandiu-se por todo o país, através da circulação de soldados, comerciantes e pedintes, provocando mais de 40 mil mortos.

CML/AML – “Batalha de Santarém que põe fim à Guerra Civil entre liberais e miguelistas” (1834), litografia colorida.

Cota: PT/AMLSB/NEG/02/P01033

No surto de 1853-56, a municipalidade de Lisboa adotou medidas de contenção, entre as quais a proibição da venda ambulante. Apostou em medidas de higiene pública e de apoio à população, em articulação com a Sé Patriarcal de Lisboa, como a distribuição da sopa aos pobres.

CML/AML – “Informação sobre a proibição da venda de bebidas nas ruas durante uma epidemia de cólera (1856)”, documento assinado por Mateus Moacho.

Cota: PT/AMLSB/CMLSBAH/PS/004/02/0228

A cólera é transmitida por uma bactéria identificada em 1883 por Robert Koch (1843-1910). O deficiente saneamento urbano pode contribuir para a sua disseminação, infetando fontes, chafarizes e poços, por sua vez indispensáveis ao quotidiano das populações.

DGPC/SIPA – “Chafariz do Anjo São Miguel” [junto à Sé do Porto] (1961).

Cota de registo: IPA.00000215

Cota da fotografia: SIPAFOTO.00067317

 

Em 1910, a Madeira foi atingida por um surto, afetando 35% dos habitantes da vila piscatória de Câmara de Lobos. Um médico referiu as péssimas condições de higiene no bairro do Ilhéu como fator de expansão da doença, levando, em alguns casos, à morte de famílias inteiras.

DGPC/SIPA – “Núcleo urbano da cidade de Câmara de Lobos” [Baía da Vila de Câmara de Lobos, c. 1960].

Cota do registo: IPA.00028006

Cota da fotografia: SIPAFOTO.01041517

Os surtos continuaram a ocorrer em zonas com deficientes condições sanitárias. Em 1971, identificou-se um foco no bairro do Alto da Margueira Velha (Almada), originado pela tripulação de um petroleiro que estava a ser reparado nos estaleiros da Lisnave. O combate à doença implicou o reforço do saneamento básico e iniciativas de educação sanitária da população.

CML/AML – “Estaleiros da Margueira. Lisnave” (1971), fotografia de Nuno Silveira.

Cota: PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/NBS/000726

O Instituto Bacteriológico Câmara Pestana foi determinante na adoção de medidas preventivas. A realização de análises às águas dos centros urbanos afetados por doenças contagiosas, possibilitava a identificação de pontos de disseminação dos agentes patogénicos e assim determinar  a sua interdição  ao consumo público.

CML/AML – “Aníbal Betencourt, diretor do Instituto Bacteriológico Câmara Pestana, e o preparador da instituição na análise das águas de Lisboa” (1912), fotografia de Joshua Benoliel.

Cota: PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JBN/001632

A vacinação anticolérica, desenvolvida por Wilhelm Kolle (1868-1935) em 1896, constituiu um instrumento central no combate à doença. Usada largamente em território metropolitano e colonial, mantém-se uma exigência atual para quem se desloca para zonas onde a cólera permanece endémica.

DGLAB/ANTT – “Vacina anti-colérica em Macau” (19-), Agência Geral do Ultramar.

Cota: PT/TT/AGU/005/008204

  • JACINTO, Mónica Marina Pires Lobo – A problemática da água em Angola (1975-2010): caso de estudo – Luanda. Lisboa: NOVA FCSH, 2012. Dissertação de mestrado. – Disponível online.
  • PITA, André Filipe Samora – A cólera em Lisboa (1833 e 1855/56): emergência do poder médico e combate à epidemia no Hospital de São José e enfermarias auxiliares. Lisboa: NOVA FCSH, 2018. Dissertação de mestrado.  – Disponível online.
  • BARDET, Jean-Pierre, et. al. (Dir.) – Peurs et terreurs face à la contagion: choléra, tuberculose, syphilis XIX-XXe siècles. Paris: Fayard, 1988. – Cota: CA 959 (BMSC)
  • BRIGGS, Charles L.; MANTINI-BRIGGS, Clara – Las historias en los tiempos del cólera. Caracas: Editorial Nueva Sociedad, 2004. – Cota: CA 1239 (BMSC)
  • CHEVALIER, Louis – Le chólera: la première epidemie du XIXe siècle. La Roche-sur-Yon: Imprimerie Centrale de l’Ouest, 1958. – Cota: BMG 1464 (BVMG – Doação Vitorino Magalhães Godinho)
  • MARQUES, Alexandra; DIAS, José Pedro Sousa; NUNES, Maria de Fátima – Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa e a epidemia de cólera de Lisboa de 1894. Debates e polémicas científicas. In SALGUEIRO, Ângela [et. al.] (Coord.), Internacionalização da Ciência. Internacionalismo Científico. Casal de Cambra: Caleidoscópio,  2014, p. 23-32. – Cota: IHC HCT 8 (BVMG – IHC, Instituto de História Contemporânea)
  • JORGE, Ricardo – A epidemia de Lisboa de 1894: impressões d’uma missão sanitária. Porto: Typographia Ocidental, 1895. – Cota: HJOR 5 (BVMG – CHAM – Centro de Humanidades)
 
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