Espaços de investigação

A institucionalização da medicina experimental no último quartel do século XIX, sobretudo após a criação do Instituto Bacteriológico de Lisboa (1892), favoreceu o conhecimento das doenças infeciosas. Permitiu, ainda, a adoção de medidas profiláticas mais eficazes, a definição de políticas de saúde e a cooperação entre os poderes políticos, a administração central e os especialistas. Beneficiou de novos espaços (laboratórios e institutos de investigação) ligados ao Estado, às municipalidades (Lisboa e Porto) e às universidades. Favoreceu a identificação dos agentes patogénicos e a produção de soros, vacinas e medicamentos. A sua intervenção ligou ciência e política, articulando higiene pública, prática laboratorial e tratamento de doentes em secções especializadas (hospitais e institutos).

Diretor do Instituto de Bacteriologia de Lisboa, Luís da Câmara Pestana (1863-1899) foi um dos protagonistas no combate às epidemias de febre tifoide (1892) e cólera (1894), ambas em Lisboa; e de peste bubónica no Porto (1899). Deve-se-lhe a fundação da primeira escola de investigação de microscopia no país.

CML/AML – “Busto do professor Câmara Pestana no Instituto Bacteriológico” (1969), fotografia de António Duarte.

Cota: PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/AND/000437

Criado em 1892, o Instituto Bacteriológico de Lisboa / Instituto Bacteriológico Câmara Pestana tinha como funções a análise bacteriológica das águas, a vacinação antirrábica e o tratamento da difteria, tétano e varíola.

DGLAB/ANTT – “Vacinação antirrábica no Instituto Bacteriológico Câmara Pestana por Luís Figueira” (1926), Empresa Pública Jornal “O Século”.

Cota: PT/TT/EPJS/SF/001-001/0002/0625A

As investigações bacteriológicas permitiram identificar os agentes causais de doenças como a cólera e a febre tifoide. A análise regular das águas de consumo, por organismos de investigação no âmbito da microscopia e higiene, era um instrumento indispensável no controlo dos surtos.

CML/AML – “Chafariz da Porcalhota (Amadora), o preparador do instituto Câmara Pestana recolhe água para a análise” (1912), fotografia de Joshua Benoliel.

Cota: PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JBN/001630

Dirigido por Ricardo Jorge, o Instituto Central de Higiene / Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (1899), foi fundado tendo por competências o ensino, investigação e assistência no campo da saúde pública. Competia-lhe definir a profilaxia e analisar as doenças contagiosas em território nacional.

CML/AML – “Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge” (1961), fotografia de Arnaldo Madureira.

Cota: PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/ARM/002464

Em 1953, Arnaldo de Sampaio (1908-1984), mais tarde Diretor Geral de Saúde Pública, criou o Centro Nacional da Gripe no Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Este organismo, ligado à Organização Mundial de Saúde, desenvolveu trabalhos no âmbito da virologia.

CINEMATECA – “Imagens de Portugal 2” [Instituto Superior de Higiene Dr. Ricardo Jorge – Centro Nacional para o estudo da Gripe] (1953), Sociedade Portuguesa de Actualidades Cinematográficas, [00m:19s a 02m:03s].

Cota: 7000500

Médico municipal do Porto, Ricardo de Almeida Jorge (1858-1939) esteve na linha da frente da luta contra a peste bubónica de 1899. Especialista em epidemiologia, ocupou o cargo de Diretor Geral de Saúde, coordenando a atuação das autoridades na gripe pneumónica de 1918-1919.

IHC NOVA FCSH – “Ricardo Jorge, o mal-amado. A organização dos Serviços de Saúde Militar nas vésperas da participação portuguesa na Grande Guerra” (2019), conferência proferida por Rui M. Pereira.

Criado para venda de soros, vacinas e instrumentos médicos importados de França (1898), o Instituto Pasteur de Lisboa dinamizou a industrialização do fabrico de medicamentos a partir da I República. Apostou na investigação, tornando-se numa das primeiras instituições a comercializar insulina, por exemplo. Tinha delegações no Porto e Coimbra e agências nas ilhas e colónias.

CINEMATECA – “Ao Serviço da Saúde. A Indústria Portuguesa de Medicamentos Especializados” (1951), realização por Sousa Pimentel. 

Cota: 7002030

Fundada em 1902, para ensino e investigação, a Escola de Medicina Tropical, hoje Instituto de Higiene e Medicina Tropical, desempenhou funções relevantes no âmbito da saúde pública e na formação de médicos para as colónias. Com competências ao nível do tratamento e vacinação, dedicou-se à investigação em entomologia e parasitologia, tendo uma forte ligação à realidade colonial.

CINEMATECA – “Imagens de Portugal 153” [inauguração da sede do IHMT] (1958), [05m35s a 06m18s]. 

Cota: 7000643

  • FERREIRA, Ana; TEIXEIRA, Ana Lúcia – Profiles of malaria research in Portugal. Science & Technology Studies. [s.l.]. Vol. 32, N.º 3 (2019). – Disponível online.
  • MONTEIRO, Jorge Manuel Martins – A Medicina Contemporânea – Um caso emblemático na imprensa médica portuguesa. Lisboa: NOVA FCSH, 2012. Dissertação de mestrado. – Disponível online.
  • PITA, André Filipe Samora – A cólera em Lisboa (1833 e 1855/56): emergência do poder médico e combate à epidemia no Hospital de São José e enfermarias auxiliares. Lisboa: NOVA FCSH, 2018. Dissertação de mestrado. – Disponível online.
  • SAAVEDRA, Mónica – Malária, mosquitos e ruralidade no Portugal do século XX. Etnografica. [s.l.]. Vol. 17 N.º1 (2013), p. 51–76. doi: 10.4000/etnografica.2545. Disponível online ; .
  • SALGUEIRO, Ângela Sofia Garcia – Ciência e Universidade na I República. Lisboa: NOVA FCSH, 2015. Tese de doutoramento. – Disponível online.
  • ABRANCHES, Pedro – O Instituto de Higiene e Medicina Tropical: um século de história: 1902-2002. Lisboa: Centro Editor Livreiro da Ordem dos Médicos, 2004. – Cota: CA 1252/A (BMSC)
  • BARREIROS, Bruno – Concepções do corpo no Portugal do século XVIII: sensibilidade, higiene e saúde pública. Vila Nova de Famalicão: Húmus, 2016. – Cota: IELT 9.BAR*Con (BVMG – IELT, Instituto de Estudos de Literatura e Tradição NOVA FCSH)
  • CAMPOS, António Correia de; SAMPAIO, Arnaldo – Saúde o custo de um valor sem preço. Lisboa: Editora Portuguesa de Livros Técnicos e Científicos, 1983. – Cota: BSC 2954 (BMSC – Doação Sottomayor Cardia)
  • CAVÉ, Isabelle – Les médecins-législateurs et le mouvement hygiéniste sous la Troisième République 1870-1914. Paris: Harmattan, 2015. – Cota: IHC HSS 225 (BVMG – IHC, Instituto de História Contemporânea NOVA FCSH)
  • COELHO, Eduardo – Ricardo Jorge: o médico e o humanista. Lisboa: Livraria Luso-Espanhola, 1961. – Cota: BSC 12634 (BMSC – Doação Sottomayor Cardia)
  • CONSELHO EXTRAORDINÁRIO DE SAÚDE PÚBLICA DO REINO – Relatório da epidemia de febre amarela em Lisboa no anno de 1857. Lisboa: Imprensa Nacional, 1859. – Cota: RES 962 (BMSC)
  • CORREIA, Fernando Silva – 1858-1958: a vida, a obra, o estilo, as lições e o prestígio de Ricardo Jorge. Lisboa: Instituto Superior de Higiene Dr. Ricardo Jorge, 1960. – Cota: BSC 12635 (BMSC – Doação Sottomayor Cardia)
  • CORREIA, Fernando Silva – No centenário de Ricardo Jorge : Ricardo Jorge julgado pelos seus contemporâneos. Lisboa: Neogravura, 1959. – Cota: BSC 4624 (BMSC – Doação Sottomayor Cardia)
  • GONÇALVES, Ricardo – Câmara Pestana e a farmácia portuguesa. In PEREIRA, Ana Leonor; PITA, João Rui (Coords.), Miguel Bombarda (1851-1910) e as singularidades de uma época. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2006, p. 203–206. – Cota: 930.85:61 (PER) – MIG (BVMG – CHAM, Centro de Humanidades)
  • INSTITUTO NACIONAL DE SAÚDE DR. RICARDO JORGE – 10.o Aniversário do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA): (1971-1981). Lisboa: INSA, 1981. – Cota: BSC 3927 (BMSC – Doação Sottomayor Cardia)
  • LEMOS, Maximiano – História da medicina em Portugal: doutrinas e instituições. Lisboa: Publicações Dom Quixote e Ordem dos Médicos, 1991. – Cota: CA 1106/1-2 (BMSC)
  • Regulamento e classificação das doenças, traumatismos e causas de morte da Organização Mundial da Saúde. [s.l.]: Instituto Nacional de Estatística, 1967. – Cota: ALC 391 (BMSC)
  • SALGUEIRO, Ângela et al. – Internacionalização da ciência. Internacionalismo científico. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2014. – Cota: IHC HCT 8 (BVMG – IHC, Instituto de História Contemporânea NOVA FCSH)
  • VELOSO, A. Barros; FIGUEIREDO, Maria José – Médicos e sociedade: para uma história da medicina em Portugal no século XX. Lisboa: By the book, 2017. – Cota: IHC HCT 70 (BVMG – IHC, Instituto de História Contemporânea NOVA FCSH)

 

Pesquise mais no Catálogo das Bibliotecas da NOVA FCSH:
CATÁLOGO