Doação Beatriz Gentil e Eduardo Batarda

A biblioteca de Beatriz Gentil e Eduardo Batarda contém obras de referência sobre a arte europeia dos ciclos clássicos; teoria, crítica e história da arte contemporânea e publicações sobre “desenho antigo” (sécs. XVI-XVIII) para além de inúmeros catálogos. O espólio está ainda em tratamento.

Maria Beatriz Gentil Penha Ferreira (Lisboa,1942) licenciou-se em Pintura na Escola de Belas Artes de Lisboa em 1968, mas foi ao design que se dedicou a partir de uma encomenda da Fundação Calouste Gulbenkian para delinear a colecção Documentos para a História da Arte em Portugal. Trabalhou depois em diversos projectos – na Tipografia Casa Portuguesa, na agência de publicidade Latina e na Editorial Verbo – consolidando um perfil próprio com que participará nos ateliers Moura George e Daciano da Costa nas áreas de design gráfico, design de equipamento e de espaços. Trabalhou também em cinema e animação. Entre 1977 e 2008 foi professora no curso de design gráfico da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto onde formou sucessivas gerações de designers e dinamizou diversos projectos e exposições. Tendo sido a primeira mulher admitida, como professora, naquela faculdade, a sua acção foi sujeita a um permanente escrutínio, tanto mais que os seus métodos pedagógicos eram profundamente inovadores e eficazes.

Eduardo Manuel Batarda Fernandes (Coimbra, 1943) licenciou-se em Pintura na Escola de Belas Artes de Lisboa, formação que, com Bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, completou em Londres  no Royal College of Art. Foi nesta cidade, onde viveu entre 1971 e 1974, que se afirmou como pintor com fortíssima marca autoral, praticando uma figuração livre que sempre integrou uma importante componente de escrita, recriando memórias oriundas da pop art inglesa e dos clássicos da banda desenhada americana. Estas matrizes da sua formação manter-se-ão presentes nas várias fases da sua pintura que cedo conquista uma consistente recepção crítica. A poderosa carreira artística decorreu simultaneamente com o ensino de pintura na Escola de Superior de Belas-Artes do Porto, entre 1976 e 2008, e com o estudo e divulgação do “desenho antigo” (séculos XVI-XVIII) de que se foi tornando um especialista reconhecido. A sua obra integra as mais importantes colecções públicas e privadas em Portugal, nomeadamente o Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian, o Museu Nacional de Arte Contemporânea e o Museu de Serralves. Entre as suas exposições antológicas são de destacar as realizadas no CAM, 1998, e na Fundação de Serralves, na sequência da atribuição do Grande Prémio EDP, em 2007. Em 2005 foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique e, em 2022, foi agraciado com a Medalha de Mérito Cultural.

Juntos, o casal Maria Beatriz e Eduardo visitaram regularmente os grandes museus europeus, desenvolvendo uma cultura erudita, raríssima entre artistas contemporâneos de que beneficiaram os seus alunos e muitos amigos. Foi no cruzamento entre as suas activas e reconhecidas carreiras profissionais e o interesse pela arte dos ciclos clássicos que eles criaram uma biblioteca  muito especial: pela relevância, única em Portugal, de obras de referência (algumas raríssimas) sobre a arte europeia dos ciclos clássicos; pela  presença sistemática da teoria, crítica e história da arte contemporânea, cujos desenvolvimentos mundiais acompanharam ao longo de várias décadas; pelo cruzamento de campos artísticos que incluem o design; pelo paixão contínua pela literatura de todas as épocas que alimentou a pintura autoral de Eduardo Batarda.

 

Texto de Raquel Henriques da Silva

 

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