Pragas nos Periódicos

SECÇÃO VITÍCOLA

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Título

SECÇÃO VITÍCOLA

Criador

Duarte de Oliveira Júnior

Fonte

Damião de Goes, Ano 1, nº 40, p. 2.

Data

03-10-1886

Colaborador

Leonardo Aboim Pires

Text Item Type Metadata

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Damos em seguida umas «Instruções práticas para a pincelagem anti-filoxérica das videiras», publicadas no «Jornal de Horticultura Prática», nº 12, do ano findo.
Essas «Instruções» foram-nos obsequiosamente enviadas por um anónimo que se encapota modestamente sob o pseudónimo de «Jonathas», sentindo nós muito que se não apresentasse com o seu verdadeiro nome, para termos o prazer de o conhecer, ou reconhecer, e a liberdade de lhe pedirmos que continue a honrar-nos com a sua colaboração. […]


«Instruções práticas para a pincelagem anti-filoxérica das videiras»

Fins e efeitos da pincelagem – a pincelagem das videiras tem por fim a destruição dos ovos de inverno, que por acaso se possam encontrar sob a sua casca.
Aplicadas às vinhas indemnes, mas expostas à invasão, por se acharem próximas dos focos filoxéricos, a pincelagem constitui o tratamento preventivo do filoxera. Tem como efeito impedir a saída dos ovos de inverno e a formação das colónias radiculas formadas de insectos provenientes desses ovos.
São consideradas indemnes as vinhas colocadas no exterior de uma zona de 15 a 20 kilómetros à roda de uma região filoxerada.
As vinhas colocadas nessa zona devem ser consideradas como suspeitas, conquanto o filoxera se não manifeste por nenhum sinal exterior. Aplicada a estas vinhas, assim como as que mostram um ou mais pontos atacados, sem estarem gravemente afetadas, a pincelagem deve produzir, pelo menos, a demora no progresso da moléstia. […]

Preparação das matérias que se devem empregar para a pincelagem – a mistura deve ser feita como segue: óleo grosso – 20 partes; naftalina bruta – 30 ditas; cal viva – 100 ditas; água – 400 ditas.

Para preparar a mistura, dissolve-se a naftalina, no óleo grosso; lança-se este sobre a cal humedecida de antemão com a quantidade de água necessária para produzir a combustão, e acrescenta-se o resto da água, remexendo continuadamente a mistura, até que se torne bem homogénea, tomando uma consistência de creme. A cal preferida é a cosida de pouco tempo, chamada cal gorda.
Quando, ao cabo de certo tempo, a mistura tende a tornar-se em massa e não permite que o pincel corra com facilidade, ajuntar-se-á quantidade de água necessária para que tome a consistência primitiva.

Maneira de operar – as pinceladas aplicar-se-ão por meio de uma broxa ou um pincel grande, e dos redondos, feitos com sedas de porco. O pincel bem embebido passa-se à vontade sobre toda a superfície da cepa, e mesmo por coma dos gomos (olhos) e das secções produzidas pelos cortes.

Época de tratamento – para mais comodidade, e como medida económica, a pincelagem deve ser aplicada depois da poda. Poder-se-á operar durante os invernos; mas a época mais conveniente quando o ovo do inverno atingiu o termo da sua incubação, isto é, desde Fevereiro para as regiões do meio-dia, e de Fevereiro em diante para as outras partes da França. […]

Operações preliminares – se as videiras são velhas e de casca grossa, aplicar-se-á a pincelagem depois de se haver procedido à descortição superficial. Esta descortição será feita apenas uma vez; não é necessário renová-la nos anos seguintes. No caso das videiras serem novas e terem a casca fina, a descortição pode dispensar-se: poderia até ser prejudicial. […]

Contra prova do tratamento – para as videiras que têm galhas – e as riparias, sobretudo estão neste caso. Bastará um único tratamento para se ajuizar da eficácia da pincelagem. Já está averiguando que os insetos das galhas tem todos como origem os filoxeras provenientes dos ovos de inverno, é, portanto, se todos os ovos de inverno forem destruídos pela operação as galhas não devem aparecer novamente no ano seguinte. […]
Todos os viticultores são, por consequência, convidados a fazer a experiência deste método, pouco dispendioso e inofensivo para a videira.

Como os leitores acabam de ver, estas instruções são de grande alcance, e, pela nossa parte, julgamos em ser o primeiro a apresentá-las em Portugal.
Pode ser que no nosso país convenha fazer algumas modificações, em consequência do clima; mas, o que é certo, é que a base para o nosso combate já existe, e portanto, está dado um grande passo.

Ficheiros

Colecção

Citação

Duarte de Oliveira Júnior, “SECÇÃO VITÍCOLA”. In Damião de Goes, Ano 1, nº 40, p. 2., 03-10-1886. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 29 de Abril de 2024, http://www.fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/862.

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