Pragas nos Periódicos

Míldio
(Como se conhece e como se combate)

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Título

Míldio
(Como se conhece e como se combate)

Criador

S/autor

Fonte

O Elvense, 20º Ano, nº 2009, pp. 2-3.

Data

13-05-1900

Colaborador

Leonardo Aboim Pires

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Convém lembrar aos proprietários que é chegada a ocasião de se prepararem para começar os tratamentos contra os principias flagelos dos vinhedos da nossa região – oídio e míldio.
Não falaremos do oídio visto que é geralmente conhecido e combatido. Ocupar-nos-emos simplesmente do míldio pois há ainda proprietários que o não conhecem nem sabem a maneira de o evitar ou debelar, apesar de tantas e tantas vezes se ter versado este assunto.
O míldio, oriundo da América do Norte, começou a ser observado em França, em 1878. Em 1893 era geral a sua invasão no nosso país.
Ataca todas as partes verdes da videira exceto as raízes. Quando se manifesta nos cachos dá-se-lhes o nome dos rots – grey rot, brown rot e black rot, conforme invade os cachos antes da limpa por um bolor cinzento, depois da purga por manchas pardas pendendo para roxas, ou finalmente antes da maturação ou na ocasião do pintor por manchas escuras, pequenas, redondas nos bagos e nas folhas.
O míldio das folhas em regra mais precoce e mais característico apresenta-se no reverso destas geralmente ao longo das nervuras com nódoas que têm o aspeto de bolor branco ou de açúcar, imprimindo à face superior das folhas e nos pontos atacados uma cor alaranjada muito característica. O míldio pode estar em incubação muitos dias sem representar sinais que denunciem a sua invasão, para só aparecer e propagar-se rapidamente quando a humidade e o calor moderado favoreçam o seu aparecimento e desenvolvimento.
As secas, o calor excessivo, o vento norte e a baixa temperatura são lhe contrários.
Uma forte invasão de míldio pode sustar-se pelo arrefecimento brusco de temperatura, por um vento seco ou por demasiado ardor do sol.
O míldio propaga-se prodigiosamente quando as condições atmosféricas lhe são propícias; cada mancha que aparece no reverso das folhas contem milhares de gérmenes reprodutores que são espalhados pelo vento sobre a folhagem a aí assentam e se desenvolvem com o auxílio dos orvalhos, chuvas e nevoeiros.
TRATAMENTOS PREVENTIVOS
1ª aplicação
Para 100 litros de água, 1 a 2 kilos de sulfato, ½ a 1 kilo de cal viva.
2ª e 3ª aplicação
Para 100 litros de água, 2 a 3 kilos de sulfato e 1 a ½ kilo de cal viva.
A 1ª aplicação deve ser feita quando os pâmpanos atinjam o comprimento de um palmo. O proprietário verá quando tem de fazer as outras aplicações, mas, a não ocorrerem circunstâncias extraordinárias, elas devem-se repetir com o intervalo de 20 a 30 dias. Quando depois da aplicação da calda sobrevêm as chuvas que a lavem deve fazer-se nova aplicação.
O sulfato dissolve-se em água, assim como a cal, mas em separado, deitando-se o leite de cal depois de bem frio na dissolução do sulfato e não o inverso, mexendo à mistura até que a calda esteja completa, tomando a cor azul brilhante.
Com o auxilio de papel de tornesol sabe-se quando a cal está neutra. Para isso vai-se mergulhando de quando em quando uma tira de papel na mistura até que o papel não mude de cor. Como nem sempre é possível usar da cal vivaz também se pode empregar a cal extinta em pó ou em pasta nas seguintes proporções aproximadamente: 1 kilo de cal viva corresponde a 2 kilos de cal apagada em pó, a 4 de cal em pasta dura e a 5 de cal em pasta mole.
Não devemos confiar demasiado no rigorismo das fórmulas, porque nem sempre a cal e o sulfato são bons como se deseja e umas vezes contêm mais impurezas do que outras.
Para se conhecer se o sulfato é bom há o seguinte e fácil processo: dissolve-se um pouco de sulfato num copo de vidro e na dissolução deitam-se algumas gotas de amoníaco.
Se o precipitado é azul celeste o sulfato é bom, se é escuro contem ferro, se é esbranquiçado contem zinco.
Os recipientes para a solução de sulfato devem ser de madeira, pedra, barro ou cobre, porque o sulfato ataca todos os metais exceto o cobre.
Não deve perder-se de vista que os tratamentos contra o míldio só têm verdadeira eficácia como preventivos.
A calda aplica-se por meio de pulverizadores de lanças que são canas de bambu atravessadas interiormente por tubos de cobre e postas em comunicação com os pulverizadores por meio de tubos de borracha.
A experiência tem-nos demonstrado que os pulverizadores de Gaillot e as lanças com ponteiras de Besnard satisfazem cabalmente as necessidades da pulverização na vinha alta.
Antes de se deitar a calda nos pulverizadores é preciso mexe-la e depois de feita a aplicação convém lavar interiormente o pulverizador e tubos, fazendo funcionar o aparelho com água limpa por algum tempo.
A calda aplica-se a toda a vegetação de videira: folhas, cachos e varas mas de maneira que não escorra, pelo que não convém aproximar muito da vide o jato da lança.
A sulfatação em forma de poeira tenuíssima é a melhor. Esta é a verdadeira pulverização da calda, no sentido estrito da palavra.

(D’ O Noticioso)

Ficheiros

Colecção

Citação

S/autor, “Míldio
(Como se conhece e como se combate)
”. In O Elvense, 20º Ano, nº 2009, pp. 2-3., 13-05-1900. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 3 de Maio de 2024, http://www.fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/781.

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