Animais caluniados. O MORCEGO

Animais caluniados. O MORCEGO

L.L.

O Elvense, 20º Ano, nº 1941, p. 2.

17-09-1899

Leonardo Aboim Pires

Não há uma só pessoa que não conheça o morcego, mas poucos lhe sabem das suas virtudes e qualidades. […]
O morcego come os escaravelhos e borboletas. As lagartas destas conhecidas pelos nomes de falenas, agrimensoras e outros, produzem estragos imensos nas árvores, a que destroem milhares de frutos. Inutilizariam por certos esses frutos todos se o previdente morcego não tivesse a seu cargo devastá-las em benefício do seu ingrato inimigo – o homem! […]
À agricultura é útil porque a sua insaciável voracidade o leva a dar caça contínua a quantos insetos e larvas se entretém a destruir as plantas e os frutos, e nós, cidadãos, que mil vezes nos impacientamos com os milhões de insetos que nos invadem a habitação, temos de ser-lhe particularmente gratos, para que basta considerar no que seria da nossa paciência, às vezes tão escassa, se o morcego não existisse, para, ele só, devorar e inutilizar meio por meio da imensa bicharia que ali nos persegue a cada passo. Sejamos pois amigos do morcego, quando mais não seja… por interesse próprio.