Pragas nos Periódicos

A moléstia das batatas (alvitres)

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Título

A moléstia das batatas (alvitres)

Criador

Botelho Andrade

Fonte

O Fayalense, nº 36, pp. 310-311.

Data

16-12-1857

Colaborador

Leonardo Aboim Pires

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Uma das maiores calamidades que assola presentemente o nosso país é, sem dúvida a moléstia das batatas.

Este grande mal porém tem grassado entre nós, sem que se tenha procurado atenua-lo, senão extinguí-lo.
É admirável a paz de espírito, a negligência com que nós, os portugueses em geral, encaramos estas calamidades, sem tentar uma experiência, sem procurar opor um dique a estas torrentes devastadoras.
Ajuda-te e Deus te ajudará. A providência vela incessantemente pelos homens; mas obra inspirando-os, abençoando os seus trabalhos, coroando de felizes resultados as suas tentativas.
Hoje vamos dar aos nossos lavradores dois alvitres, que vimos preconizados nos jornais franceses contra a moléstia das batatas.
O primeiro é fazer uma escolha de tubérculos sem vício e semeá-los inteiros.
O jornal em que lemos este alvitre nenhuma explicação mais nos dá; porém, resultando uma boa colheita de batata assim semeada, talvez não seja difícil explicar a moléstia.
Não sou um homem de ciência, nem sei dela mais do que é necessário para me dirigir e esclarecer naquela a que me dediquei: a ciência é uma se; mas são muitas as suas ramificações. A medo emito as minhas ideias; retifique-as quem pode e deve.
Assim como do coito de dois animais de diferentes espécies resulta imediatamente ou passadas algumas gerações, um mulo; o reino vegetal apresenta não menos admiráveis mistérios.
Pois não é possível que a semente da batata lançada à terra em gomos, se tenha ido abastardando de produção em produção, ate dar em resultado a perda de todas, o mulo do reino vegetal, se o quiserem?
O outro alvitre a dar também bom resultado, corta pela raiz estas considerações, levando em sede da moléstia não para o tubérculo, mas para a atmosfera.
Seja como for, se não possível tratarmos a enfermidade a priori aplicando-lhe os remédios que nos aponta a ciência para causas dadas, tentemos aplicar remédios, que surtindo efeito, nos expliquem a enfermidade.
Antes da época em que costuma mostrar-se a doença, corte-se a rama aos batatais, e cubra-se cada pé de uma porção de terra suficiente para por a coberto a planta da ação da atmosfera, e tornar o tubérculo incomunicável com a luz.
Esta experiência, diz o "Journal pour tous", tem surtido ótimos resultados: o tubérculo cresce são e perfeito, sem que o corte da rama influa no seu desenvolvimento.
Qualquer destes alvitres é fácil de experimentar; incúria indesculpável será não tentar a experiência.
Resta-nos fazer dois pedidos antes de terminar: aos párocos das freguesias rurais para que façam chegar ao conhecimento dos lavradores estes alvitres: no estado de ignorância em que dormem os povos, são os pastores os mais seguros canais para transmitir às suas ovelhas as ideias sãs, as luzes e o aperfeiçoamento da época […]

Ficheiros

Colecção

Citação

Botelho Andrade, “A moléstia das batatas (alvitres)”. In O Fayalense, nº 36, pp. 310-311., 16-12-1857. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 4 de Maio de 2024, http://www.fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/70.

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