Pragas nos Periódicos

O Phylloxera em Moncarapacho’

Dublin Core

Título

O Phylloxera em Moncarapacho’

Criador

F. de Almeida e Brito

Fonte

O Distrito de Faro, n°1410, p.1

Data

30-04-1903

Colaborador

Ana Isabel Queiroz

Text Item Type Metadata

Text

Vim a Faro para inspecionar uma nódoa filoxérica e ver se seria possível tentar o tratamento da extinção, que a digna autoridade superior deste distrito tem reiteradamente solicitado do exmo ministro das obras públicas. Mas, infelizmente, deparei não com uma nódoa, mas com toda a região filoxerada!
Existia, no ano passado, uma mancha já com sinais evidentes de estragos aparentes: agora, observam-se muitas nódoas em manifesta decadência. Prova isto que, se no ano passado se tivesse extinguido a primeira mancha, nada se conseguiria, porque o mal já existia nas cepas aparentemente sãs.
É pois claro que é completamente inútil o tratamento da extinção.
O Algarve, que foi a última província invadida pela praga filoxérica, é de todas as regiões do país, pelo seu clima, a mais apropriada ao desenvolvimento da devastadora epífitia. O inseto, nas suas metamorfoses de larva até chegar a alado, deverá ter muito mais posturas do que nas outras regiões, e até estou convencido de que o seu período de letargia invernal será aqui muito menor, porque a temperatura, durante o inverno raro desce de 10 graus.
Por estas e outras razões o phylloxera no Algarve é uma grande calamidade.
Mas felizmente, a prática encontra hoje poderosos e experimentados meios de luto.
Têm o sulfureto de carbono para conservar as vinhas em bom estado. E a região atacada é fortunada de terrenos que me parecem razáveis para a difusão deste inseticida. Para retardar a marcha do inseto seria preciso um tratamento geral, em todas as vinhas invadidas, com doses insistentes do inseticida.
É certo que o governo já hoje não dá subsídio ao fabrico de sulfureto; por isso, os lavradores têm de o pagar muito mais caro. E será, então, económica a luta por este inseticida?
Façam os lavradores as suas contas de cultura, e vejam se este sistema de luta será possível.
Têm depois os lavradores, ainda, as cepas americanas. Este meio de luta é hoje o mais generalizado, e os proprietários de vinhas invadidas podem ir replantando a pouco e pouco, à medida que as vinhas forem morrendo, devendo escolher dessas cepas exóticas as mais apropriadas aos terrenos algarvios.
É certo que nesta região não poderão vingar todas as castas exóticas mais adoptadas, porque os terrenos são muito calcários e a cal é o elemento mais contrário à cultura das cepas americanas. Mas a Berladievi, o Avamon % Rupestris, a Rupestris du lat e outras, parece-nos, darão o resultado desejado.
As cepas americanas, enxertadas com garfos das nossas castas, produzem muito mais do que antigas plantações indigenas.
O governo já tem contratado com um viticultor desta região o estabelecimento de um viveiro, afim de serem fornecidas aos outros viticultores da mesma, cepas por um preço mais baixo, e, decerto, dará a estes, outros auxílios necessários.
Aconselho os viticultores algarvios a, por alguma forma, plantarem bacelos que não sejam de castas umerienas.
Não abandonem os proprietários as suas vinhas. É preciso muito cuidado, muita atenção e muita persistência na luta contra a terrível praga.
Todas as outras regiões invadidas estão hoje quase repovoadas e já ontem, por novas vinhas, muito maiores produções. Que os viticultores algarvios sigam este exemplo.
F. de Almeida e Brito

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Colecção

Citação

F. de Almeida e Brito, “O Phylloxera em Moncarapacho’”. In O Distrito de Faro, n°1410, p.1 , 30-04-1903. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 25 de Abril de 2024, http://www.fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/48.

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