Pragas nos Periódicos

O sulfato de Cobre e o Vinho

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Título

O sulfato de Cobre e o Vinho

Criador

S/ autor

Fonte

Jornal da Louzan, n.º 428, pág. 1, col. 1,2,3

Data

26-08-1893

Colaborador

Pedro Barros

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Sob esta epígrafe lemos em o nosso colega O Distrito de Leiria um artigo, transcrito já de outro periódico O Domingo, que o extraiu de uma gazeta estrangeira muito conceituada.
A assuntos desta natureza e artigos tão suculentos, como aquele, a que aludimos, é preciso dar sempre a maior publicidade, mormente no momento actual, em que as massas ignorantes pensam que o vinho, proveniente das videiras tratadas pelo sulfato de cobre´, é altamente venenoso.
Não nos admiramos de que assim se pense, porque falta a luz. É mister, por isso, que a imprensa se levante a esclarecer os espíritos obcecados, cumprindo, deste modo, a parte mais gloriosa da sua altíssima missão.
Pelas razões expostas e por que a não podíamos fazer melhor do que está, é que vamos transcrever esse artigo na íntegra.
Ei-lo:
«Supondo que de qualquer forma o sulfato chegue ao interior a uva, ao pôr-se em contacto com o açúcar do seu suco, este decompõe-no precipitando de si todo o cobre em estado insolúvel, e, na nova forma que assim toma, deixa de ser venenoso, porque a condição da solubilidade é indispensável para a acção tóxica.
Poderá objectar-se que este composto de cobre insolúvel retido no interior da uva, ao pôr-se em comunicação com os sucos digestivos, pode dissolver-se e recobrar então a sua propriedade nociva, mas, posto que isto não seja absurdo sob o ponto de vista das noções químicas, não deve realizar-se no complexo sistema dos fenómenos intra-orgânicos. A prática estabelecida em França de curar os operários intoxicados pelo cobre dando-lhes uva durante um certo número de dias, prova que o composto cúprico não recobra as suas propriedades tóxicas, na sucessão dos fenómenos digestivos, quando associado ao fruto da videira.
Mas ponhamos de parte este
Facto para continuar afirmando que as uvas são venenosas quando existe cobre no seu interior, ainda que seja em mínima quantidade. Ainda assim, o que não pode negar-se é que durante a fermentação do mosto se depositará com fezes todo o metal, não só por causa do açúcar, mas também e principalmente por causa do tártaro, que, antes de separar-se do produto fermentado, precipita quantos metais haja no líquido, e sobretudo o cobre se o houvesse. De maneira que, nos sedimentos de consistência quase pétrea que aderem às paredes dos toneis durante a fermentação do vinho, é que devem estar as partículas, de cobre que anteriormente não se tivessem separado. Para se convencer deste facto o incrédulo mais resistente, pode fazer-se a seguinte experiência:
Deite-se em certa quantidade de vinho em mosto uma porção de dissolução de sulfato do cobre, dupla ou tripula da que se manda lançar nas videiras para combater o míldio ponha-se a fermentar, e, no vinho resultante deste mosto cuprificado, procure-se depois o cobre pelos seus reagentes especiais e, com certeza, apesar da sua maravilhosa sensibilidade, esses reagentes não acusarão o mais leve indício do metal adicionado, demonstrando-se assim, sem nenhuma espécie de dúvida, que todo ele fica nos depósitos, e que por conseguinte, o vinho já não pode ser venenoso, porque já não contém cobre. Aproveitando o benefício de todos os produtos utilizáveis da uva, ainda pode alegar-se que, se o vinho não contém cobre, existe este metal no tártaro que deposita durante a fermentação do vinho, e será preciso renunciar ao aproveitamento deste depósito, que todavia tem um certo valor. Tombem não é isto exacto, porque o sarro que se tira das paredes dos tonéis só se emprega depois de separar convenientemente tudo o que lá existe em estado insolúvel, e por conseguinte separa-se também qualquer porção de sulfato de cobre que la houvesse, de forma que o sarro fica puro e inofensivo.
Parece-nos que, depois do que acabámos de dizer, ninguém razoavelmente poderá permanecer em preconceito contra o tratamento das vinhas pelo sulfato de cobre.»
E haverá ainda quem mova guerra à imprensa?
E haverá ainda quem deseje a morte dos jornais?

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Colecção

Citação

S/ autor, “O sulfato de Cobre e o Vinho”. In Jornal da Louzan, n.º 428, pág. 1, col. 1,2,3, 26-08-1893 . Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 8 de Maio de 2024, http://www.fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/174.

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