Vinhais, 7 de Agosto

Vinhais, 7 de Agosto

Campoalegre

O Nordeste, 6º Ano, nº 241, pp. 1-2.

10-08-1893

Leonardo Aboim Pires

O estado desgraçado a que chegou este concelho, a grande falta de recursos dos melhores proprietários, que conseguem mealhar dois vinténs, por não encontrarem venda para os seus produtos, a não ser com enorme dispêndio de transporte […]. Todos sabem que este concelho morreu, há alguns anos, com a desaparição das cepas; e se hoje vegeta, não é porque tenha forças latentes que o possam ir sustentando, neste meio cósmico social, mas antes porque vive, na retaguarda dos demais das relíquias em que se há amortalhado o seu outro estado florescente.
[…] Mas grado o desânimo que domina a maior parte dos lavradores – desânimo motivado principalmente por não poderem vender os seus produtos a não ser com enorme prejuízo em transportes – mau grado tal desânimo, dizíamos, há alguns de velha e rija têmpera, um pouco mais favorecidos da fortuna, que têm tentado receosamente a replantação.
Parece uma vergonha dizermos tentado, quando há outros concelhos vinhateiros que não só a têm terminada, mas ainda a sustentam lutando denodadamente contra o míldio, realmente não é, para aqui tentarem, é preciso dinheiro que este nossos lavradores não possuem.
Tem tentado alguns; é contudo de esperar que em breve o míldio assente arraiais pelos novos vinhedos, a não ser que, mais cautelosos agora, tomem a precaução de beneficiar a vide com os elementos antisséticos de resultado conhecido.
Constou-nos, há dias, que o governo ia fornecer às câmaras, que o reclamassem, um pulverizador para que classe pobre, que tivesse replantado a vinha, não deixasse de lhe dar o indispensável tratamento. Estamos certos de que, se a nossa câmara não reclamara, como as demais um dos pulverizadores, em breve, ao primeiro ataque da doença veremos sufocada a iniciativa de ressurreição, corajosamente tentada por alguns e não mais conseguiremos, provavelmente, melhorar as nossas condições sociais.
[…]