Pragas nos Periódicos

A TRAÇA DA BATATA

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Título

A TRAÇA DA BATATA

Criador

José Veríssimo de Almeida

Fonte

O Manuelinho de Évora, Ano XIX, nº 906, p. 2.

Data

12-02-1899

Colaborador

Leonardo Aboim Pires

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De um considerado cultivador e amigo meu, que, na outra banda, dirige uma extensa cultura de batata, recebi uma interessante carta acerca da traça, e é com o maior prazer que «A Agricultura Contemporânea» a publica sentindo só que o exemplo deste cavalheiro não tenha grande número de imitadores para elucidação e esclarecimento de muitos pontos controvertidos da prática agrícola.
Eis a carta:
«Sr. Veríssimo de Almeida. Conforme o que prometi, vou dizer a V. tudo quanto sei sobre a traça da batata, e os meios de que me sirvo para a evitar.
Este inseto é meu conhecido de há bastantes anos, e aparece de preferência nas batatas que são criadas durante os grandes calores; nas temporãs de terras altas sequeiras, nunca o vi senão num tubérculo ou outro isolado, sem importância mas nos batatais atravessados, denominação que nós damos aos que são criados nos meses de Junho, Julho e Agosto, e nos serôdios, isto é, nos que a apanha se realizada por todo o mês de Setembro, é vulgaríssimo aparecer a traça da batata. Neste mesmos, ataca de preferência nas terras que precisam de ser regadas; sendo as terras naturalmente frescas mais livres deste inseto, havendo porém exceções que em lugar oportuno indicarei.
Quando são anos favoráveis ao desenvolvimento da traça, muitos tubérculos vêm da terra já atacados, e é frequente ver-se, em batatais que têm a rama começando a murchar, as borboletas voarem sobre a terra.
[…]

Os meios pelos quais evito a traça da batata com bom resultado são os seguintes:

Em primeiro lugar procuro e obtenho quási sempre vender as batatas à proporção que as vou colhendo, mas esta receita nem sempre é fácil de executar, porem de todas é a menos incomoda.

Se são terras sequeiras e portanto que necessitam de regas, conservo-lhes as regas menos intensas simplesmente para o calor não as atravessar com tanta facilidade, e não deixo que os pés de batata atinjam o seu máximo grau de maduração, isto é, aquele em que todas as partes verdes da planta estão secas, por exemplo, quando as folhas na maior parte têm caído, mas os troncos ainda se conservam ligeiramente esverdeados.

Se são terras naturalmente frescas, e se há a probabilidade de venda imediata ou mesmo com pouca demora, não é preciso este cuidado.

No caso se querer guardar os tubérculos com grande demora, o processo que emprego para as batatas, quer sejam de terras de rega, quer das naturalmente frescas, é o seguinte:

Coloco as batatas em pilha alta em qualquer parte do campo, fazendo-lhes uma cama com feno (ordinário) e tapo esta pilha bem, geralmente com feno, de forma que não lhe penetre o sol, e assim as deixo ficar, até muitas vezes meados de Novembro, se o tempo não vai muito frio; depois passo-as para o armazém, e muito raras vezes aparece um tubérculo atacado pelo inseto.

[…]

Eis aqui o que sei sobre a traça da batata; e V. fará uso que quiser desta minha carta.»

E.C.

[…]

Ficheiros

Citação

José Veríssimo de Almeida, “A TRAÇA DA BATATA”. In O Manuelinho de Évora, Ano XIX, nº 906, p. 2., 12-02-1899. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 2 de Maio de 2024, http://www.fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/1464.

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