Pragas nos Periódicos

O MÍLDIO

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Título

O MÍLDIO

Criador

S/autor

Fonte

O Manuelinho de Évora, Ano XIII, nº 637, p. 2.

Data

09-07-1893

Colaborador

Leonardo Aboim Pires

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Em todos os flagelos o pânico substitui sempre o bom senso, e conduz a grandes massas por caminhos errados, onde a reflexão é vencida pela impressão de momento cabendo a vitória à ignorância.
Este fenómeno social é vulgar no tempo e no espaço; e tem fácil explicação, quando se trata dum caso inteiramente estranho nos anais da humanidade.
Não pode aceitar-se como desculpa dum movimento propagandista, quando espíritos, de primeira água na lucidez e na cultura das ciências, mostram ao mundo inteiro as vantagens tangíveis, pela exibição de factos experimentais.
A obstinação em condenar tudo quando se desconhece pode ser sintoma da comodidade pessoal de quem não quer trabalhar, mas é sempre demonstração cabal do estado mórbido dos espíritos que não acompanham a grande evolução das sociedades, e, como tais, são inúteis pela inércia e prejudiciais pela reação.
Repete-se, atualmente, em Portugal, com a grande invasão do míldio nos vinhedos das nossas ricas regiões vinhateiras, o mesmo que sucedeu com a aparição do oidium tuckeri, e do philloxera vastarix.
Enquanto estes parasitas, destruidores do mais rico vegetal das culturas arbustivas dos climas temperados, não apareceram, todos aqueles que só acreditam na agricultura providencial se julgaram imunes de tão cruéis flagelos; embora as mais altas ilustrações na especialidade, noas países adiantados, tivessem exposto à luz da publicidade os pormenores do resultado dos seus estudos experimentais, minuciosos e conscienciosos, tanto no que diz respeito à investigação biológica daqueles seres, como na descoberta dos agentes da sua destruição.
[…]
Assim, o tratamento eficaz e certo, do oídio é o enxofre – tratamento, em muitos casos possível do filoxera é o sulfureto de carbónio – e o tratamento, profilático eficaz, do míldio está no emprego dos sais de cobre.
É claro que, desde que as uvas não fossem um produto são, era melhor deixá-las morrer da moléstia do que deixar-nos matar por elas – mas a palavra tratamento seria então cobertura traiçoeira dum erro científico, de que probidade dos estudiosos viria a ser vítima fatalmente.
[…]
Mais ciência para saber fazer as coisas oportunamente, e não menos prudência no juízo daqueles que, pela sua condição social, podem ser escutados como autoridades para quem se costumou a respeitá-los e acredita no seu saber. Acima de tudo a probidade, ainda que a vaidade na fique contente.
É altamente perigoso brincar com os destinos da primeira fonte de riqueza do nosso país.

Ficheiros

Citação

S/autor, “O MÍLDIO”. In O Manuelinho de Évora, Ano XIII, nº 637, p. 2., 09-07-1893. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 9 de Maio de 2024, http://www.fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/1431.

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