Pragas nos Periódicos

AGRONOMIA

Dublin Core

Título

AGRONOMIA

Criador

António Gomes Ramalho

Fonte

O Manuelinho de Évora, Ano III, nº 126, p. 2.

Data

19-06-1883

Colaborador

Leonardo Aboim Pires

Text Item Type Metadata

Text

Do sr. António Gomes Ramalho, agrónomo deste distrito, recebemos um impresso com as seguintes instruções:

A antracnose
INSTRUÇÕES PRÁTICAS SOBRE O RECONHECIMENTO DA MOLÉSTIA E MEIOS DE A COMBATER
A antracnose (do grego antrax, carvão e nosos, doença) que muitos autores consideram sinonimo do charbon, é uma enfermidade das vinhas causada por uma planta microscópica, uma criptogâmica denominada por uns sphaceloma ampelinum, por outros phona vitis.
Os estragos causados por este parasita vegetal, quando graves, são muito mais para recear do que os do oídio, pois que aquele estende o seu poder desorganizador não só à parte externa dos órgãos vegetais, mas também a camada subjacentes.
Causas da moléstia – duas ordens de causas contribuem para o desenvolvimento da antracnose; as causas predisponentes, motivadas pela persistência de um excesso de humidade do solo, e da atmosfera durante a época de rebentação da vinha; e as causas determinantes, que são o desenvolvimento dos espórulos, os quais asseguram a multiplicação da criptogâmica sobre a cepa.
Sintomas – os sinais característicos da existência da moléstia em questão são de fácil reconhecimento. Nas cepas atacadas todas as partes verdes, folhas, cachos, gavinhas e lançamentos aparecem salpicadas de pequenas nódoas, cuja cor escura se torna tanto mais carregada quando mais avançado está o mal no seu desenvolvimento. […]
Meios de combater a antracnose – duas formas de ataque pudemos e devemos por em prática contra a antracnose. A primeira constitui as medidas preventivas, a segunda o curativo.
Medidas preventivas – sabidas como estão, quais são as causas predisponentes da enfermidade, é fácil ver quais sejam os meios de que devemos lançar mão para contrariar ou impedir essas mesmas causas.
Assim, o saneamento do terreno, livrando-o do excesso de humidade pela abertura de valas abertas ou drainos – o não cultivar as castas mais mimosas e sujeitas à doença em regiões húmidas – a plantação da vinha em climas quentes, feitas por forma a que não fique abrigada dos ventos do Norte etc., são outras tantas medidas de prevenção que devemos empregar naquele intuito.
Quanto à cultura da vinha se restringir a um limitado número de cepas, pode também utilizarem-se os seguintes meios – cobrir com palha ou mato suspenso em três canas ou novos rebentos , ou envolve-los com papel até que tenha passado a época mais perigosa da invasão do mal.
Curativo – os meios curativos da enfermidade não têm, infelizmente, até hoje merecido uma aceitação geral em vista da variabilidade da sua eficácia; todavia os que vamos indicar representam o que, até esta data, vemos geralmente aconselhado como melhor para tal fim.
Antes da rebentação e depois da poda devem lavar-se as cepas e os sarmentos com uma dissolução concentrada de sulfato de ferro e água. Prepara-se esta dissolução desfazendo muito bem, com uma colher de pão, o sulfato de ferro em água a ferver (na proporção de 2 kilogramas de sulfato para 6 litros de água). Emprega-se o preparado logo que a sua temperatura permita a imersão da mão para embeber um trapo ou esponja com que se lavam as cepas.
Convém advertir que, havendo na mão qualquer ferida, por pequena que seja, não é prudente mergulha-la no líquido.
A operação da lavagem das cepas deve-se sempre executar por bom tempo e no menor prazo possível.
De Abril a Junho, época mais perigosa da invasão, devem-se pulverizar frequentes vezes (de 15 em 15 dias) as cepas, com uma mistura em partes iguais, de cal gorda em pó e flor de enxofre.

Évora, 12 de Junho de 1883.
O agrónomo do distrito,
António Gomes Ramalho

Ficheiros

Citação

António Gomes Ramalho, “AGRONOMIA”. In O Manuelinho de Évora, Ano III, nº 126, p. 2., 19-06-1883. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 8 de Maio de 2024, http://www.fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/1377.

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