Pragas nos Periódicos

Coccus hesperium (Cochonilha das laranjeiras)

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Título

Coccus hesperium (Cochonilha das laranjeiras)

Criador

José do Canto

Fonte

O Agricultor Micaelense, vol. 1, nº 5, pp. 68-69.

Data

20-02-1844

Colaborador

Leonardo Aboim Pires

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Havemos seguido este assunto em todas as fases, que até agora tem apresentado, e ainda hoje o seguiremos – aproveitem ou não nossas palavras, - porque temos a inabalável convicção de que uma crise na prosperidade Micaelense está eminente, e porque não somos insensíveis, nem tão pouco indiferentes ao mal da terra, que nos deu o ser. Esta nossa tarefa tem suas asperezas, mas afrontamo-las. […]

- Existe um inseto que destrói, e totalmente aniquila Laranjeiras e Laranjais.

- Como provais essa asserção?

- A Ilha do Faial exportava anualmente de seus virentes pomares acerca de 30 cargas de Laranja: em 1838 foi iscada daquela epidemia vegetal; e, neste ano, - não pelos rigores do tempo, ou intempérie das estações, mas pela verdadeira devastação, a que ficaram reduzidas suas quintas, - apenas exportará 6 (?) cargas.

- Existe em S. Miguel o mesmo inseto.

- Com que demonstrais a sua identidade?

- Com a decisão dos homens de ciência, com o testemunho unânime de tantos a opinião de todos que tiveram vez de observarem o inseto – morador incómodo das duas Ilhas.

- Quais serão as consequências da existência do inseto em S. Miguel, se, como no Faial, o desdenharemos?

- A destruição de todas as Laranjeiras que vegetam na nossa bela Pátria.

Isto é evidentíssimo de si; mas já terão notado nossos pacientes leitores, que é condicional aquela conclusão, cumprindo, para lhe dar a latitude entre nós, conceder-se um desleixo igual, ao que no Faial se deu por semelhante ocasião.

Pois bem: foi para que, em caso tão ponderoso e sério, não sucedesse que igual indolência e inercia ganhasse os Micaelenses, - foi para os excitar e acordar, que a Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense, posto que ainda não aprovada pelo Governo, teve a glória de bradar a-l’-arma. Nem parou aqui: começou, quanto o permitiram as circunstâncias, a estudar o mal, e a arte de o atalhar; e pediu, por via duma Comissão para este fim nomeada, o concurso e alvitres de todas as inteligências, e de todos os interessados. Infelizmente, em nossa terra, raras vezes se acodem ao reclamo feito em nome do bem real; e ainda nesta ocasião se repetiu a costumada surdez.

Então, a Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense – porque ninguém, senão ela dava impulso ao corte do mal, afoutou-se temerariamente a lançar mais uma pedra na começada obra, incumbindo à supramencionada Comissão, o tratamento das Quintas infecionadas, feitas as despesas à custa do seu cofre.

Bem conhecidos são os Membros dessa Comissão, que procedeu com uma verdadeira devoção e filantropia à execução da incumbência: - podem proferir-se vagamente longas bravatas; o facto é que a Comissão não violentou uma só pessoa a franquear-lhe o seu pomar, - exterminou de muitas quintas o flagelo, - nenhum dos proprietários, em cujos prédios trabalhou, exigiu indemnizações, nem ao menos levantou queixumes… Mas como, à proporção que o circuito da contaminação das quintas se afastava, fosse vogando à surdina uma oposição contra o procedimento da Comissão, recorreu esta por via do Presidente da Sociedade de Agricultura, ao Governador deste Distrito, pedindo-lhe as convenientes providências, o que suscitou o ofício nº 371 do Governo Civil, assinado pelo Primeiro Oficial da Secretaria João António Morisson.
Ainda este ofício não foi suficiente, e não querendo a Direção da Sociedade Promotora da Agricultura Michaelense partilhar uma mal cabida responsabilidade, ingerindo-se em objetos, em que só a sua dedicação vencia que se intrometesse, dirigiu-se a S.Exª o Governador Civil deste Distrito, rogando-lhe houvesse de convenientemente deliberar, e indigitando-lhe como acertada a convocação de uma Assembleia a que assistissem todas as pessoas interessadas, para ali exprimirem a sua opinião acerca de tão importante ponto.

Ficheiros

Citação

José do Canto, “Coccus hesperium (Cochonilha das laranjeiras)”. In O Agricultor Micaelense, vol. 1, nº 5, pp. 68-69., 20-02-1844. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 6 de Maio de 2024, http://www.fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/112.

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